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União Europeia dá aval para Bulgária adotar o euro em 2026

Publicado 4 de junho de 2025Última atualização 19 de junho de 2025

País cumpriu requesitos necessários para entrar na zona do euro, como o controle da inflação. Maioria dos búlgaros é contra adoção de moeda única.

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Protestos em Sófia contra a adoção do euro como moeda
Adesão ao euro gera protestos na Bulgária. População é contrária à moeda únicaFoto: Hristo Vladev/Anadolu/picture alliance

Ministros das Finanças dos países que compõem a zona do euro recomendaram nesta quinta-feira (19/06) que aBulgária se torne o 21º Estado a adotar a moeda única a partir de 1º de janeiro de 2026, endossando avaliações anteriores feitas pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu.

"O Eurogrupo concordou hoje que a Bulgária cumpre todas as condições necessárias para adotar o euro", disse Paschal Donohoe, que presidiu a reunião dos ministros.

A recomendação ainda precisa ser formalmente acatada pelos países da União Europeia, o que é considerado uma formalidade.

A taxa de câmbio com a qual o lev búlgaro será convertido em euro será definida em uma reunião no início de julho. A partir de então, a Bulgária terá seis meses para concluir a transição técnica.

Um relatório da Comissão Europeia divulgado no começo do mês concluiu que, após reduzir a inflação, a Bulgária cumpriu todos os requisitos para entrar na zona do euro.

Segundo o documento, o país, membro da UE desde 2007, "está pronto para adotar o euro e sua economia está suficientemente preparada para isso".

O Banco Central Europeu também deu um parecer positivo, destacando a "dedicação da Bulgária em fazer os ajustes necessários".

Controle da inflação permite entrada

A Bulgária havia planejado substituir sua moeda nacional, o lev, pelo euro em 2024, ano em que se tornou membro do Espaço Schengen, mas a adoção foi adiada devido à taxa de inflação relativamente alta de 9,5% naquele ano.

Para entrar na zona do euro, os Estados-membros devem demonstrar que sua economia convergiu com as dos demais países e que suas finanças estão sob controle.

Por exemplo, devem comprovar que a inflação está controlada e não ultrapassa em mais de 1,5 ponto percentual a taxa média dos três países com melhor desempenho da UE.

No ano passado, a Bulgária cumpriu todos os critérios, exceto o da inflação.

Agora, a Comissão prevê uma inflação de 3,6% para a Bulgária em 2025 e de 1,8% em 2026, abaixo do valor de referência.

O país ainda precisa da aprovação de 55% dos membros da UE. Mesmo Estados que não adotam o euro podem decidir sobre o caso búlgaro.

Contudo, o aval é considerado provável, pois todos os Estados-membros da UE, com exceção da Dinamarca, se comprometem a ingressar na zona do euro assim que cumprirem os requisitos.

A partir da aprovação, o lev e o euro circularão simultaneamente no país por um mês. Após esse período, cédulas de lev ainda poderão ser trocadas nos bancos por 12 meses, e por tempo ilimitado no Banco Nacional da Bulgária.

O presidente da Bulgária, Rumen Radev
Presidente da Bulgária, Rumen Radev, sugeriu referendo para implementação do euro, que não aconteceuFoto: BGNES

Trajetória conturbada

A trajetória da Bulgária rumo à zona do euro tem sido conturbada, já que o país enfrenta forte instabilidade política, atravessando sete eleições em três anos — a última em outubro de 2024.

A Bulgária é um caso atípico, pois vinculou sua moeda ao euro desde o início da proposta de união monetária europeia, em 1999, antes mesmo de entrar na UE. O país também possui baixos níveis de dívida pública — apenas 24,1% do PIB anual — bem abaixo do limite de 60% exigido.

A aprovação pela Comissão Europeia ocorre 18 anos após o país de 6,4 milhões de habitantes ingressar no bloco. A Bulgária é considerado o país mais pobre a integrar a União Europeia.

O primeiro-ministro búlgaro, Rossen Jeliazkov, celebrou a decisão. "Mais um passo adiante no caminho da Bulgária rumo ao euro... Isso é resultado de anos de reformas, comprometimento e alinhamento com nossos parceiros europeus", disse ele em uma publicação no X.

"Graças ao euro, a economia da Bulgária se tornará mais forte, com mais comércio com os parceiros da área do euro, investimento estrangeiro direto, acesso a financiamento, empregos de qualidade e rendas reais", afirmou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.

"O relatório de hoje é um momento histórico para a Bulgária, a área do euro e a União Europeia", afirmou o comissário europeu de Economia, Valdis Dombrovskis.

"Claro que o euro é mais do que uma moeda. Depois de a Bulgária se tornar membro pleno do espaço Schengen no início deste ano, isso a aproxima ainda mais do coração da Europa", acrescentou.

Medida impopular

No entanto, o avanço gerou uma reação negativa na Bulgária, onde pesquisas recentes indicam que quase metade da população se opõe à adoção do euro.

De acordo com uma pesquisa de opinião realizada pelo instituto búlgaro Mjara em maio, mais da metade dos adultos (54,9%) são contra a introdução do euro em 2026, enquanto 34,4% são a favor da adesão.

Segundo uma pesquisa conduzida pelo Instituto Gallup International Balkan na segunda quinzena de maio, 33,4% veem "benefícios" na introdução do euro e 32,9% temem "mais desvantagens".

O temor é que a adoção de uma moeda subordinada ao Banco Central Europeu gere consequências negativas para a economia e soberania do país.

Cerca de mil pessoas protestaram nesta quarta-feira (04/06) em frente ao prédio da Assembleia Nacional, no centro de Sófia, segurando cartazes com os dizeres "Não ao euro" e "O futuro pertence aos Estados soberanos".

A manifestação foi organizada pelo partido de oposição pró-Rússia Vazrajdane.

"Se a Bulgária entrar na zona do euro, será como embarcar no Titanic", disse Nikolai Ivanov, ex-funcionário sênior do governo, à agência de notícias AFP durante outro protesto recente que pedia a manutenção da moeda nacional.

Moeda de 2 euros com símbolo grego
Crise da dívida de países como Grécia e Itália pressionaram a zona do euro no passadoFoto: Froese/Caro/picture alliance

Histórico do euro

Quando as primeiras notas e moedas de euro foram lançadas em 1º de janeiro de 2002, apenas 12 países faziam parte da área da moeda única, incluindo França, Alemanha, Irlanda, Itália e Espanha.

A zona do euro foi crescendo gradualmente para 20 membros, com a adesão de Eslovênia, Chipre, Malta, Eslováquia, Estônia, Letônia, Lituânia e, em 2023, da Croácia.

Os critérios para adesão incluem estabilidade de preços, finanças públicas saudáveis e taxas de câmbio estáveis, além de inflação controlada.

Os países também devem passar por um "período de espera" de dois anos, durante o qual sua moeda não pode flutuar excessivamente em relação ao euro. Esse processo serve para demonstrar que a economia está convergindo de forma sustentável com a da zona do euro.

Além da Bulgária e Dinamarca, Polônia, Romênia, Suécia, República Tcheca e Hungria ainda não introduziram a moeda única.

Apesar de se comprometer a usar o euro, alguns países evitam realizar os esforços para cumprir os critérios de conversão. A Dinamarca obteve uma cláusula de exclusão, enquanto a Suécia rejeitou o euro em um referendo em 2003 e não tem data para aderir.

Na Polônia — maior país fora da zona do euro — as autoridades têm demonstrado pouco interesse, apesar de reconhecerem a obrigação futura. O vencedor da eleição presidencial deste domingo, Karol Nawrocki, fez campanha defendendo a manutenção da moeda nacional zloty.

Quais são as vantagens e desvantagens de adotar o euro?

Em teoria, o euro oferece taxas de juros mais baixas para empresas e consumidores, maior facilidade no comércio entre países e fim das operações de câmbio entre moedas.

Por outro lado, tira parte da autonomia dos países sobre suas políticas econômicas. Eles deixam de definir suas próprias taxas de juros e enfrentam restrições sobre gastos e déficits públicos.

Além disso, a crise da dívida europeia entre 2010 e 2015 ainda gera receios. Após a Grécia admitir que seus déficits e dívidas eram maiores que o declarado, o país declarou moratória e a turbulência se espalhou. Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Chipre tiveram seu resgate fiscal condicionado à adoção de duras medidas de austeridade, que afetaram principalmente trabalhadores do setor público e aposentados.

gq/ra (afp, ap, dpa)