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Russos assistem com deleite a rusgas entre Trump e Zelenski

Juri Rescheto
21 de fevereiro de 2025

Enquanto as falas recentes do presidente dos EUA sobre seu colega ucraniano geraram preocupação e desconforto em Kiev e outras capitais europeias, Moscou observa a briga com satisfação.

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Putin conversa com outro homem
Putin visita fábrica de drones: comentários do presidente russo pareciam querer amortecer espectativas sobre aproximação com EUA Foto: Alexander Kazakov/AP Photo/picture alliance

Vladimir Putin deixou passar dois dias até reagir às negociações em Riad, capital da Arábia Saudita, onde os chefes da diplomacia da Rússia e dos EUA se encontraram para conversações sobre a Ucrânia.

Durante visita a uma fábrica de drones em São Petersburgo, o presidente russo demonstrou um otimismo cauteloso –  como se quisesse amortecer as expectativas: disse que ficaria feliz em se encontrar com Donald Trump, o qual considera inteligente, e classificou as negociações em Riad como "positivas".

Enquanto os comentários recentes do presidente dos Estados Unidos sobre seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, causaram preocupação e desconforto tanto em Kiev quanto em outras capitais europeias, Putin elogiou o colega americano e atacou os europeus: "Estou francamente surpreso com a contenção do presidente dos EUA em relação a seus aliados, que se comportaram, vamos ser francos, de forma ultrajante."

"Negação da realidade"

Há muito tempo não se via tanta união entre Moscou e Washington. A porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, afirma: "A Rússia está tomando nota da reação nervosa do Ocidente aos contatos russo-americanos. Eles estão ficando realmente histéricos com isso". Na opinião dela, o Ocidente – com o que ela aparentemente se refere aos países europeus – escolheu um caminho de "negação da realidade" e "rejeição de qualquer conceito moral e ético".

O principal canal de televisão russo, Piervy Kanal, também interfere na polêmica. No programa 60 Minutos, a apresentadora Olga Skabeyeva afirmou: "A Europa não quer admitir que o mundo está mudando. Mas ele está mudando com grande velocidade." Ela lamentou a UE ter adotado agora um 16º pacote de sanções contra a Rússia. No entanto, diz-se convencida de que todas as sanções "serão suspensas na próxima semana".

Maria Zakharova passa por uma porta com celular numa mão e uma pasta sob o braço
Porta-voz do Ministério russo do Exterior Maria Zakharova: "Eles estão ficando realmente histéricos"Foto: Gleb Schelkunov/Kommersant Photo/Sipa USA/picture alliance

O tabloide de alta circulação KP chama Zelenski de "menino de calças verdes", que a Europa está defendendo "de forma intransigente e absolutamente sem sentido". A única coisa que ele vai conseguir é que Trump se aproxime mais da Rússia, segundo o periódico,.

O jornal AiF cita um cientista político russoi: "Trump quer que Zelenski, que está em contato com seus inimigos, desapareça". O jornal vai ainda mais longe e especula sobre os "locais de refúgio mais adequados" para o chefe de Estado ucraniano após sua eventual remoção do poder. O líder do Kremlin, Putin, por outro lado, é celebrado como um vencedor que não está mais isolado no mundo ocidental.

"Criminoso de guerra como interlocutor"

Dmitri Gudkov, um ex-deputado russo que vive no exílio, também percebeu que Putin de repente se tornou aceitável para os americanos – embora sem alegria. "O criminoso de guerra que começou tudo isso agora está sendo tratado como um interlocutor com quem se conversa de igual para igual", afirma o ex-político. "Quer dizer: você pode primeiro criar problemas e depois forçar os líderes mundiais a negociarem com você sobre como resolver esses problemas", ironiza.

O ex-oposicionista russo Andrei Pivovarov é mais cético quanto às chances de uma aproximação real entre a Rússia e os EUA. A seu ver, os americanos estão deixando em aberto a possibilidade de uma reviravolta de 180 graus.

Presidente Zelenski e Trump conversam em 27/09/2024
Encontro de Zelenski e Trump em setembro de 2024, antes da reeleição do americanoFoto: Julia Demaree Nikhinson/AP/picture alliance

Com relação às próximas conversas de Putin com Trump, que possivelmente ocorrerão na Arábia Saudita ainda em fevereiro, de acordo com declarações da Casa Branca, ele afirma: "Não sabemos quais posições os EUA realmente tomarão. No momento, tudo o que vemos é a troca de gentilezas com a Rússia e Putin. Mas isso é apenas um agrado. O castigo virá se os americanos não chegarem a um acordo com os russos."

Mesmo blogueiros militares russos conhecidos, que são claramente a favor da guerra da Rússia contra a Ucrânia, desaconselham cantar vitória antes do tempo. Para eles, os EUA são os principais beneficiários da guerra, enquanto a Europa está fragmentada, e a Rússia, enfraquecida. Eles afirmam que um congelamento do conflito beneficiaria a todos, e a normalização das relações com os EUA seria necessária para a Rússia. No entanto, ponderam que se deve ter em mente que o próximo presidente dos EUA poderá reverter tudo dentro de quatro anos.