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PolíticaTurquia

Por que Erdogan mandou prender o prefeito de Istambul

Elmas Topcu
19 de março de 2025

Ekrem Imamoglu virou pedra no sapato de Erdogan em 2019, após dar fim à hegemonia do partido do presidente na metrópole turca. Prisão vem pouco antes de oposicionista confirmar candidatura promissora ao governo do país.

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O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, fala a jornalistas; foto de 31 de março de 2024
Como prefeito, Ekrem Imamoglu tem defendido os interesses dos necessitados e estudantes da metrópole Istambul (foto de arquivo)Foto: Yasin Akgul/AFP

O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi preso na manhã desta quarta-feira (19/03). Ele seria indicado no próximo domingo candidato às  eleições presidenciaispela maior sigla oposicionista da Turquia, o Partido Popular Republicano (CHP), como adversário mais promissor do mandatário Recep Tayyip Erdogan.

A prisão seguiu-se ao anúncio da véspera de que a Universidade de Istambul anulara o diploma do prefeito, alegando uma mudança supostamente ilícita de instituição. Imamoglu iniciou o curso numa Universidade Mediterrânea Oriental, na parte turca de Chipre, transferindo-se após dois anos para Istambul, onde sua família tinha negócios. Um título universitário é pré-condição no país para a candidatura à presidência.

Cena de rua com policiais em Istambul, Turquia
Em Istambul, manifestações, reuniões e divulgação de notícias foram proibidas durante quatro diasFoto: Tolga Ildun/ZUMA Press Wire/dpa/picture alliance

A Procuradoria do Estado agora acusa Imamoglu de liderar uma organização criminosa: na qualidade de prefeito, ele teria manipulado processos de concorrência pública e aceitado suborno. Além disso, manteria conexões com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado como terrorista por Ancara.

As imputações referem-se sobretudo às eleições municipais de 2024, em que o CHP cooperou em alguns bairros de Istambul com a legenda de oposição pró-curda Partido Popular da Igualdade e Democracia (DEM) e venceu, para desagrado da aliança eleitoral de Erdogan. Na ocasião, o Justiça e Desenvolvimento (AKP) do presidente ficou apenas em segundo lugar – fato inédito desde sua criação, em 2001. Nas grandes metrópoles, a vitória coube ao CHP de Imamoglu.

Além do político de 53 anos, na grande operação policial em Istambul foram detidos cerca de cem outros indivíduos, entre os quais jornalistas, artistas, empresários e funcionários da administração municipal. O governo da província de Istambul proibiu manifestações, reuniões e divulgação de notícias até o domingo.

Apesar disso, milhares de pessoas saíram às ruas em Istambul e Ancara nesta quarta-feira para protestar contra a prisão.

"Tentativa de golpe civil"

Classificando a prisão de Imamoglu como "tentativa de golpe contra o próximo presidente", o líder do CHP, Özgür Özel, escreveu na plataforma X: "Quando se abusa do poder para ignorar a decisão democrática do povo, dobrar sua vontade e impedir que forme a própria opinião, então se trata de um golpe. [,,,] Não vamos desistir. No fim, o povo decidirá novamente, e a Turquia vai vencer."

Özel conclamou os 1,7 milhão de membros do partido a participarem da eleição interna do candidato presidencial, apesar da prisão de Imamoglu.

A legenda de oposição pró-curda DEM também condenou a medida como um "processo de golpe civil".

Cartazes eleitorais em Istambul. Sobre fundo azul, prefeito Ekrem Imamoglu
Nas municipais de 2024, Imamoglu associou-se com o pró-curdo DEM em alguns bairros e se reelegeuFoto: Yasin Akgul/AFP

Segundo o diretor do escritório da alemã Fundação Friedrich Naumann na Turquia, Aret Demirci, a anulação do diploma do republicano nesta terça-feira já indicava o que viria a seguir, mas o que surpreende é a rapidez como os fatos se sucederam. Ele traçou paralelos com a carreira política de Erdogan: esta provaria que, na história turca, a desqualificação ilícita de adversários políticos costuma ter o efeito contrário, acirrando a simpatia popular.

De fato: o atual presidente atuou como prefeito de Istambul de 1994 a 1998, porém foi preso por recitar um poema religioso – considerado uma ameaça pela então vigente razão de Estado laicista. O fato angariou muitas simpatias para Erdogan, e em 2003 ele levaria à vitória o AKP, que fundara apenas um ano antes.

Imamoglu, principal ameaça para Erdogan

Nascido em 1971, antes de iniciar carreira política Ekrem Imamoglu estudou administração de empresas e trabalhou na gastronomia e construção civil. De 2002 a 2003, foi membro da presidência do clube de futebol Trabzonspor.

Em 2019 venceu o pleito municipal em Istambul, encerrando assim 25 anos de hegemonia conservadora-islamista do AKP na metrópole. A sigla de Erdogan entrou com um recurso, obtendo a anulação do resultado, porém nas novas eleições Imamoglu voltou a vencer, com grande vantagem. Em 31 de março de 2024, foi reeleito prefeito.

Assim como Erdogan, o político atualmente preso provém da região conservadora-nacionalista do Mar Negro, onde cresceu em condições humildes. Desde que assumiu a prefeitura, vinha fortalecendo maciçamente a assistência social para os necessitados e estudantes de Istambul.

Apreciado por seu jeito popular e capacidade de mobilizar os cidadãos, Imamoglu é a grande esperança da oposição e o adversário mais ameaçador para Erdogan nas presidenciais.