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O que é o Estreito de Ormuz, que o Irã ameaça fechar

Srinivas Mazumdaru
Publicado 18 de junho de 2025Última atualização 22 de junho de 2025

Gargalo do comércio de petróleo, via marítima escoa cerca de 20 milhões de barris por dia. Guerra entre Israel e Irã encarece frete e aumenta medo na região.

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Dois petroleiros no mar
Via por onde os petroleiros podem navegar tem largura reduzida, o que a torna congestionada e perigosaFoto: Hamad I Mohammed/REUTERS

Após ter instalações nucleares bombardeadas pelos Estados Unidos, o parlamento do Irã aprovou neste domingo (22/06) o fechamento do Estreito de Ormuz, via por onde transitam navios vindos do Golfo Pérsico em direção ao Mar Arábico.

A medida ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional, órgão liderado por um emissário do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Se concretizada, vai estrangular o fluxo de quase um quarto do petróleo comercializado por via marítima e atingir duramente interesses do Ocidente, provocando alta de preços e desestabilizando a economia global.

Um bloqueio da via marítima também deve irritar os Estados Unidos, que têm uma frota inteira da Marinha baseada na região para assegurar a sua navegabilidade.

Com apenas 33 quilômetros de largura, o Estreito de Ormuz é o gargalo para o transporte de petróleo mais importante do mundo, na definição da Administração de Informações de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês).

No seu ponto mais estreito, a via pela qual os navios podem navegar tem apenas 3,2 quilômetros de largura em cada direção, o que a torna congestionada e perigosa.

Grandes volumes de petróleo bruto extraídos por países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque, passam pelo estreito antes de chegarem a países consumidores em todo o mundo.

Estima-se que cerca de 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis sejam transportados por ali diariamente, segundo dados da Vortexa, uma consultoria do mercado de energia e frete.

O Catar, um dos maiores produtores mundiais de gás natural liquefeito (GNL), também depende fortemente do estreito para transportar suas exportações da commodity.

Qual é a situação atual no estreito?

A escalada do conflito entre Israel e o Irã aumentou a tensão sobre a segurança da hidrovia. No passado, o Irã já ameaçou fechar o Estreito de Ormuz ao tráfego em retaliação à pressão de países do Ocidente.

Armadores estão cada vez mais cautelosos em usar o estreito. Alguns navios reforçaram a segurança a bordo, enquanto outros cancelaram rotas que passariam por ali, informou a agência de notícias AP.

Por ora, não houve nenhum ataque significativo à navegação comercial na região. Mas dois petroleiros colidiram na costa dos Emirados Árabes Unidos em 17 de junho – os navios pegaram fogo, mas não houve vítimas nem derramamento de óleo.

A interferência eletrônica nos sistemas de navegação de navios comerciais aumentou nos últimos dias ao redor da hidrovia e do Golfo, disseram fontes navais à agência de notícias Reuters. Essa interferência afeta os navios que navegam pela região.

Como não parece haver um fim à vista para o conflito, os mercados ficam em alerta. Qualquer bloqueio da hidrovia ou interrupção no fluxo de petróleo poderia provocar um forte aumento nos preços do petróleo bruto e afetar os países importadores, especialmente na Ásia.

O frete dos navios que transportam petróleo bruto e derivados na região já aumentou nos últimos dias. O custo do transporte de combustíveis do Oriente Médio para o Leste Asiático subiu quase 20% em três sessões até segunda-feira, informou a Bloomberg, citando dados da Baltic Exchange. O frete para a África Oriental aumentou mais de 40%.

Quem seria mais afetado em um bloqueio?

A EIA estima que 82% dos carregamentos de petróleo bruto e outros combustíveis que atravessam o estreito vão para consumidores asiáticos.

China, Índia, Japão e Coreia do Sul são os principais destinos – esses quatro países juntos respondem por quase 70% de todo o fluxo de petróleo bruto e condensado que atravessa o estreito.

Esses mercados provavelmente seriam os mais afetados por interrupções no transporte marítimo ali.

Como um bloqueio afetaria o Irã e os países do Golfo?

Se o Irã tomar medidas para fechar o estreito, isso poderia potencialmente provocar uma intervenção militar dos Estados Unidos. A Quinta Frota dos EUA, estacionada no vizinho Barein, tem a tarefa de proteger o transporte comercial na área.

Qualquer movimento do Irã para interromper o fluxo de petróleo pela hidrovia também poderia comprometer as relações de Teerã com os países árabes do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – países com os quais o Irã tem melhorado as relações nos últimos anos de forma meticulosa.

Os países do Golfo Pérsico vêm criticando Israel pelos ataques contra o Irã, mas se as ações de Teerã obstruírem suas exportações de petróleo, eles podem ser pressionados a se posicionar contra Teerã.

Além disso, o Irã também depende do Estreito de Ormuz para enviar seu petróleo aos clientes, e fechar o estreito poderia ser um tiro no próprio pé.

"A economia do Irã depende fortemente da livre passagem de mercadorias e navios pela rota marítima, já que suas exportações de petróleo são inteiramente marítimas", afirmaram à agência de notícias Reuters os analistas Natasha Kaneva, Prateek Kedia e Lyuba Savinova, do JP Morgan.

"Fechar o Estreito de Ormuz seria contraproducente para o relacionamento do Irã com seu único cliente de petróleo, a China", disseram.

Existem alternativas ao estreito?

Países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, desenvolveram nos últimos anos infraestruturas que lhes permitem transportar parte de seu petróleo bruto por outras rotas, contornando o estreito.

A Arábia Saudita, por exemplo, opera o Oleoduto Leste-Oeste, com capacidade para transportar cinco milhões de barris por dia até o Mar Vermelho. E os Emirados Árabes Unidos têm um oleoduto que liga seus campos petrolíferos terrestres ao terminal de exportação de Fujairah, no Golfo de Omã.

A EIA estima que cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo bruto por dia produzidos na região poderiam contornar o Estreito de Ormuz em caso de bloqueio da hidrovia.