Após derrota no Senado, premiê japonês descarta renúncia
Publicado 20 de julho de 2025Última atualização 21 de julho de 2025A coalizão de governo do Japão perdeu sua maioria no Senado do país, aumentando a pressão sobre o já enfraquecido primeiro-ministro do país, Shigeru Ishiba, que está há menos de um ano no cargo e que agora deve ficar sem maioria nas duas Casas do Congresso.
Eleitores da quarta maior economia do mundo foram às urnas no início deste domingo (20/07) para a eleger metade da composição da Câmara dos Conselheiros, equivalente ao Senado no Japão, após uma campanha marcada por frustração pública com o aumento dos preços, ameaça de tarifas dos EUA e pequenos partidos que exploraram o crescente sentimento contra estrangeiros no país.
Ishiba já tinha perdido em outubro sua maioria na Câmara dos Deputados. As eleições de 20 de julho eram encaradas como cruciais para o primeiro-ministro e sua coalizão, formada pelo Partido Liberal Democrata (PLD) – que dominou a política local desde o fim da Segunda Guerra Mundial – e o budista Komeito.
A coligação precisava conquistar 50 lugares, além dos 75 que já possui, para manter a maioria no Senado, mas conseguiu 47 – 19 assentos a menos em relação ao que tinha antes das eleições.
Nos últimos anos, uma derrota eleitoral desse tipo geralmente levava à renúncia do primeiro-ministro, mas Ishiba afirmou que vai manter-se no poder.
"Continuamos a ser o partido com a maior representação. Apesar do duro golpe e as muitas dificuldades, muitas pessoas apoiaram-nos fortemente", disse durante coletiva de imprensa. Segundo ele, a decisão de permanecer no cargo se deve à situação política global e às "condições difíceis" que o país atravessa.
O dirigente destacou a imposição de tarifas aduaneiras ao Japão por parte dos Estados Unidos, a inflação e o receio de que um forte terremoto ou uma catástrofe natural possam atingir o país em algum momento.
Ele descartou a possibilidade de uma remodelação do governo ou de incorporar partidos da oposição à coligação.
Ascenção da ultradireita no Japão
O Partido Democrático Constitucional do Japão (CDP), liberal de esquerda, ficou em segundo lugar no pleito, com 22 lugares, enquanto o reformista Partido Democrático Popular (PDP) ficou em terceiro, com 17.
A surpresa desse domingo foi o partido nacionalista japonês de extrema-direita Sanseito, que, sob o lema "Japão primeiro", emergiu como um dos grandes vencedores das eleições de domingo, conquistando 14 lugares e tornando-se o terceiro maior partido da oposição.
Antes um movimento marginal, que espalhava teorias da conspiração sobre vacinas e elites globais durante a pandemia de covid-19, o partido ganhou força nas últimas semanas com críticas à imigração, ao número de turistas estrangeiros, ao "globalismo" e ao capital estrangeiro.
Seu líder, Sohei Kamiya, foi comparado ao americano Donald Trump e à AfD da Alemanha por sua postura antiestablishment e uso das redes sociais.
Dificuldades
Desde a perda maior ana Câmara, o Executivo tem tido dificuldades em recuperar o apoio público, diante da falta de conquistas notáveis e do desgaste pela persistente inflação, com a "crise do arroz" como referência simbólica, bem como o potencial impacto da guerra comercial de Trump, no ar pela falta de avanços claros nas negociações bilaterais.
O descontentamento público com o aumento do custo de vida, que os aumentos salariais não conseguiram resolver, esteve no centro da campanha eleitoral. Ishiba prometeu distribuir 20 mil ienes (cerca de R$ 756 ) a cada residente.
A oposição tem pressionado o governo a reduzir ou suspender temporariamente o imposto sobre o consumo, e o preço do arroz, que duplicou nos últimos 12 meses, é uma das principais preocupações dos japoneses.
Jps/sf (DW, EFE, Lusa, ots)