Em meio a tarifaço, EUA querem minerais críticos do Brasil
25 de julho de 2025Até então muito dependentes da China para obter minerais críticos, os Estados Unidos estão agora de olho nas reservas brasileiras desses elementos, fundamentais para setores ligados à transição energética, defesa e produção de semicondutores.
O encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, esteve reunido nessa quinta-feira (24/07) com representantes do setor de mineração, incluindo empresários, membros do governo e do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), para sugerir um plano entre os dois países para a exploração desses minerais.
O Brasil tem grandes reservas de nióbio, grafite, terras raras e níquel, além da presença de lítio, cobre e cobalto – considerados extremamente estratégicos para os rumos da economia global.
O encontro ocorreu dias antes da entrada em vigor de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pelo governo de Donald Trump – sob o argumento de que a Justiça brasileira estaria perseguindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de quebrar a ordem democrática no país. A medida deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto, e Escobar tem mantido conversas com o governo brasileiro sobre a represália.
Segundo interlocutores, a reunião da quinta girou em torno da Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, projeto em tramitação no Congresso que propõe definir quais minérios são essenciais ao desenvolvimento econômico, tecnológico e ambiental do país.
Participantes da reunião afirmaram que não interpretaram as falas do encarregado norte-americano como uma tentativa de condicionar uma negociação para um alívio das tarifas ao acesso aos minerais. Porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rapidamente afirmou que não permitirá interferência estrangeira em como o Brasil lida com a exploração de minerais. "Aqui ninguém põe a mão", disse Lula na quinta-feira.
No primeiro semestre, os EUA já haviam pressionado a Ucrânia a assinar um acordo para a exploração de terras raras no país do leste europeu, em meio a ameaças da Casa Branca de cortar sua assistência militar para os ucranianos.
Busca por novos fornecedores
Os minerais críticos são insumos essenciais para setores estratégicos — da produção de baterias de veículos elétricos a mísseis guiados — e sua disponibilidade limitada tem levantado um alerta de governos e indústrias ao redor do mundo.
O termo "crítico" está relacionado tanto à importância industrial desses minerais, como também à concentração geográfica da produção, dificuldade de substituição tecnológica e tempo longo de desenvolvimento de novas minas e indústrias.
Atualmente, a China domina o processamento da maioria dos minerais críticos, embora precise importar boa parte das matérias-primas. Em meio a uma acirrada disputa comercial, os EUA têm buscado reduzir a dependência desse fornecimento. Em abril, Pequim introduziu limites à exportação de sete terras raras e ímãs feitos a partir delas, obrigando empresas em todo o mundo a rever seus processos.
Dessa forma, o Brasil despontou como um estratégico parceiro. O país é particularmente rico em nióbio, com cerca de 98% das reservas internacionais. Outros recursos abundantes são as terras raras – um grupo de 17 elementos químicos com um papel pequeno, porém insubstituível, em diversos produtos tecnológicos modernos, como smartphones, televisores de tela plana, câmeras digitais e LEDs.
Terras raras também são amplamente usadas na fabricação de ímãs permanentes, de alta potência e que mantêm suas propriedades magnéticas por décadas. Eles permitem a produção de peças menores e mais leves do que as alternativas não baseadas em terras raras, sendo portanto essenciais na construção de veículos elétricos e turbinas eólicas, por exemplo.
Terras raras também são vitais para uma grande gama de tecnologias de defesa, de aviões de caça a submarinos e telêmetros a laser.
Além do Brasil, EUA e outros países, como os da União Europeia, têm demostrado interesse em fontes não exploradas desses minerais estratégicos, como Ucrânia e Groelândia. Os dois países apresentam grande potencial, mas suas reservas estão em locais de difícil acesso – além do fator guerra.
Os EUA e a Ucrânia assinaram em abril um acordo para a exploração de terras raras no país sob ocupação russa. Trump afirmou que o acesso a essas riquezas era uma das condições para seguir com a ajuda militar a Kiev.
sf (dpa, OTS)