Controle aéreo estava desfalcado em dia de acidente nos EUA
31 de janeiro de 2025Um relatório preliminar da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA aponta que a equipe dedicada ao controle aéreo "não era normal para a hora do dia e o volume de tráfego" no momento do acidente entre um avião e um helicóptero em Washington, na última quarta-feira.
As informações foram inicialmente reveladas pelo jornal americano The New York Times.
Segundo o veículo, o número reduzido de trabalhadores fez com que um funcionário tivesse que assumir duas funções ao mesmo tempo: o controle aéreo tanto do tráfego de aviões quanto dos helicópteros que sobrevoaram a capital dos Estados Unidos naquele momento.
A situação é considerada "anormal" mas corriqueira quando não há tráfego aéreo intenso. Apesar do número reduzido, o áudio das comunicações do controlador de tráfego no momento do acidente mostraram que um profissional alertou os tripulantes do helicóptero sobre a aproximação do avião.
Escassez de pessoal
O incidente evidenciou a escassez crônica de pessoal e as condições de trabalho dos controladores aéreos nos EUA, um problema denunciado há anos por especialistas e profissionais da área.
Das 30 vagas necessárias para o controle de tráfego do Aeroporto Nacional Ronald Reagan de Washington, onde o acidente aconteceu, por exemplo, apenas 25 estão ocupadas.
Uma reportagem de agosto de 2023, também publicada pelo The New York Times, já alertava que muitos controladores nos EUA eram forçados a fazer turnos de 10 horas durante seis dias por semana.
As características do espaço aéreo da capital americana, que possui três aeroportos comerciais, agravam o problema. A cidade possui um espaço aéreo limitado, ao mesmo tempo em que recebe um tráfego elevado de aviões comerciais, aeronaves privadas e de segurança.
Mais de 100 helicópteros levantam voo todos os dias em Washington. Entre 2017 e 2019, somente em um raio de 48 quilômetros do Aeroporto Ronald Reagan, passaram 88 mil aeronaves deste tipo, sendo 13 mil militares e 18 mil do aparato policial disse o Escritório de Prestação de Contas do Governo americano em 2021.
Segundo o The Washington Post, os alertas de segurança e incidentes são frequentes no céu de Washington. No dia anterior ao acidente, por exemplo, "um pouso no [aeroporto] nacional [Ronald Reagan] teve que ser abortado para evitar uma colisão com um helicóptero".
Busca por corpos continua
O acidente da noite de quarta-feira ocorreu quando um helicóptero militar, com três pessoas a bordo, e um avião comercial Bombardier CRJ700 da American Eagle, com 60 passageiros e quatro tripulantes, colidiram no momento do pouso da aeronave de passageiros.
Acredita-se que não há sobreviventes, o que faz deste acidente aéreo o mais mortal das últimas duas décadas nos EUA.
Nesta sexta-feira, as autoridades dos EUA restringiram os voos de helicóptero perto do Aeroporto Ronald Regan por tempo indeterminado. A medida evita o risco de uma nova colisão enquanto as equipes trabalham para retirar os destroços das aeronaves do rio Potomac.
Até o momento, foram encontraram 41 corpos das vítimas do acidente.
Autoridades ainda investigam motivo do acidente
As autoridades americanas ainda não apontaram uma razão específica para o acidente. A caixa preta do helicóptero, com os dados do voo e as vozes na cabine de comando, ainda será recuperada.
O National Transportation Safety Board já está estudando o gravador de voz da cabine de comando e o gravador de dados de voo do avião CRJ700.
Os militares americanos disseram que a altitude máxima para a rota que o helicóptero estava percorrendo é de 61 metros, mas que ele poderia estar voando mais alto.
A colisão ocorreu a uma altitude de cerca de 91 metros, de acordo com o site de rastreamento de voos FlightRadar24.
Além disso, sete pilotos ouvidos pela Reuters disseram que o pouso no aeroporto Ronald Regan é dificultado por ter pistas mais curtas, e que pilotos comerciais não conseguem se comunicar com aeronaves militares, que usam outra frequência de rádio.
gq (EFE, AP, Reuters, OTS)