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Como o apoio da China mantém a economia e a guerra da Rússia

11 de maio de 2025

Moscou depende cada vez mais da aproximação com Pequim para abastecer seu PIB. Relação assimétrica reforça liderança estratégica do país asiático em meio à política tarifária dos EUA.

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Xi Jinping e Vladimir Putin
Fiador de Moscou, Pequim busca firmar parceria econômica e militar com a RússiaFoto: ANGELOS TZORTZINIS/AFP/Getty Images

Com as sanções do Ocidente sufocando a economia russa desde o início da invasão da Ucrânia, Moscou depende cada vez mais da China para escoar matérias-primas e, assim, financiar sua campanha militar, que já dura três anos.

Desde o início da guerra, a China se tornou o principal parceiro econômico da Rússia, com trocas comerciais atingindo 244 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,2 trilhão) no ano passado. Em fevereiro de 2022, os países assinaram uma parceria "sem limites" nos âmbitos econômico, militar e diplomático – uma tentativa de contornar a influência ocidental.

A crescente importância de Pequim para o Kremlin ficou evidente durante a celebração do 80º aniversário do triunfo soviético sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra.

O presidente chinês, Xi Jinping, ganhou lugar de destaque ao lado de seu homólogo russo, Vladimir Putin – uma tentativa de mostrar que a Rússia não estava isolada no cenário internacional. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva também esteve presente e foi um dos poucos líderes de países democráticos que acompanharam a cerimônia.

"A confiança mútua entre a China e a Rússia se torna cada vez mais profunda, com a cooperação pragmática forjando um vínculo inquebrável", disse Xi em Moscou.

Björn Alexander Düben, especialista em relações Rússia-China da universidade Forward College Berlin, vê a visita de Xi como "altamente simbólica".

Vladimir Putin e Xi Jinping
Xi Jinping ganhou lugar de destaque, ao lado de Vladimir Putin, durante evento em MoscouFoto: Sergei Bobylev/Photo host agency RIA Novosti/AP/picture alliance

Se a aproximação entre os países já colocava Moscou à mercê de Pequim, a reorganização da ordem mundial diante das políticas protecionistas do presidente dos EUA, Donald Trump, levam os laços entre os países a um novo patamar.

Embora mantenha uma postura de neutralidade na guerra, Pequim fez um acordo estratégico com o Kremlin para comprar petróleo e gás russos com desconto, enquanto os países europeus reduziam suas importações desses recursos.

Hoje, a Rússia é a principal fornecedora de petróleo bruto do país asiático, respondendo por cerca de 20% das importações. Desde o início da guerra, as exportações gerais russas para Pequim dispararam 63% e as sanções ocidentais impulsionaram a moeda chinesa.

Os dois países também fortaleceram os laços militares, intensificando exercícios conjuntos e compartilhando tecnologias de defesa de ponta.

Apesar de a economia russa ter resistido mais do que o esperado às sanções ocidentais, sem o apoio econômico da China, Moscou estaria em uma "bagunça profunda", disse Düben à DW.

Assimetria econômica

Além do aumento no comércio de energia, a China tem fornecido à Rússia bens manufaturados e tecnologias — tanto civis quanto militares — que o país não consegue mais produzir ou importar do Ocidente.

A China também está investindo em tecnologias futuras, como inteligência artificial e manufatura inteligente, enquanto o crescimento da Rússia ainda é alimentado pelo setor de defesa e matérias-primas. As sanções ocidentais também diminuíram sua atratividade como parceiro comercial para países do mundo todo.

"A Rússia ainda é um ator bastante isolado no cenário internacional e precisa da China para manter seu esforço de guerra contra a Ucrânia", afirmou Alicja Bachulska, pesquisadora do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), à DW.

Para Bachulska, apesar da disparidade econômica, há uma "confiança estratégica" entre China e Rússia que, segundo ela, é "muito mais forte" do que a relação entre Putin e Trump, cuja equipe atualmente negocia um possível fim para a guerra na Ucrânia.

Uma das intenções de Trump ao impor novas tarifas sobre produtos chineses era pressionar Pequim e isolá-la diante de Washington e do restante do mundo. Mas a China reagiu, alertando países que correm para fechar acordos comerciais com os EUA a não minarem os interesses chineses.

Em sua relação com Washington, Pequim tem sido desafiadora, mas estratégica. "[Ao responder a Trump,] a China está se posicionando como um contrapeso estável a um EUA errático e protecionista, destacando sua aliança com Moscou como um alicerce de estabilidade global", concordou Björn Düben.

Neste domingo (11/05), Washington e Pequim avançaram no sentido de um novo acordo comercial, segundo autoridades americanas.

Navio-tanque russo
Entregas de petróleo da Rússia para a China aumentaram acentuadamente desde a guerra na UcrâniaFoto: picture alliance/AP

Sanções secundárias dos EUA atrapalham comércio

Com as tarifas americanas sobre produtos chineses atingindo níveis recordes e o mercado dos EUA cada vez mais fechado, empresas chinesas podem buscar novas oportunidades no mercado russo — embora seja menor que o americano.

Mas elas precisam contornar as sanções secundárias dos EUA contra Moscou, que proíbem empresas de países terceiros de exportarem para a Rússia. Isso fez com que muitos bancos chineses ficassem receosos de negociar com instituições russas.

"Essas sanções secundárias têm sido um grande entrave para a relação econômica entre China e Rússia e um obstáculo real para a expansão do comércio", afirmou Düben. "Mas, à medida que o comércio com os EUA se torna menos vantajoso para a China, bancos e empresas chinesas podem começar a ignorar as ameaças de sanções dos EUA em suas transações com empresas russas."

No início do ano, essas sanções chegaram a interromper temporariamente as exportações de petróleo da Rússia para a China, quando o Departamento do Tesouro dos EUA sancionou 183 navios, duas grandes petrolíferas russas e empresas relacionadas.

A ofensiva causou uma queda de 18% nas exportações russas de petróleo bruto para a China em fevereiro. Ainda assim, com uma solução alternativa envolvendo navios substitutos e novos sistemas de pagamento, a "frota fantasma" da Rússia conseguiu manter o fluxo comercial com o país asiático.

Como a China pode resolver a guerra – ou gerar uma maior

Gasoduto Sibéria 2 em "fase ativa"

Um dos principais pontos das conversas entre Putin e Xi é o projeto do gasoduto Sibéria 2, que promete levar 50 bilhões de metros cúbicos de gás russo por ano de Yamal, no noroeste da Sibéria, até a China via Mongólia.

Moscou tem pressionado Pequim há anos para fechar o projeto, mas a rota do gasoduto ainda não está definida — o que evidencia a vantagem dos asiáticos nas negociações. O ministro da Energia da Rússia, Sergey Tsivilyov, afirmou na última quinta-feira que as negociações estão em uma "fase ativa", embora um acordo ainda não tenha sido fechado.

Para Bachulska, do ECFR, o projeto perdeu força. Ela observa que "a China tem diversificado suas fontes de energia e não quer apostar demais em um único fornecedor".

Essa relação desigual revela a perda de influência da Rússia dentro da parceria liderada por Pequim, consolidando a posição dominante da China à medida que Moscou se alinha aos seus interesses globais.

"Dada a dependência sem precedentes da Rússia em relação à China, Moscou está cada vez mais atrelada aos interesses de Pequim", concluiu Düben.