Campanha de Trump obteve dados de 50 milhões no Facebook
17 de março de 2018
A empresa de análise de dados Cambridge Analytica colheu informações privadas de mais de 50 milhões de usuários do Facebook no desenvolvimento de técnicas para beneficiar a campanha eleitoral do presidente Donald Trump em 2016, informaram os jornais New York Times e o The Observer, de Londres, neste sábado (17/03).
Após a revelação, o Facebook suspendeu a conta da Cambridge Analytica. O caso também teve consequências no Brasil. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a empresa brasileira Ponte Estratégia, que se associou com Cambridge Analytica para atuar nas eleições deste ano, decidiu cancelar a parceria com a empresa britânica, que abriu um escritório em São Paulo em 2017.
As reportagens dos jornais, que citaram ex-funcionários, associados e documentos da Cambridge, apontam que a violação de dados foi uma das maiores da história do Facebook.
O The Observer publicou que a Cambridge Analytica usou os dados, colhidos sem autorização no início de 2014, para construir um programa de software capaz de prever e influenciar as escolhas nas urnas.
O artigo citou o delator Christopher Wylie da Cambridge Analytica, que trabalhou com um acadêmico na Universidade de Cambridge para obter os dados, dizendo que o sistema poderia avaliar eleitores de modo a direcionar anúncios políticos personalizados.
Os mais de 50 milhões de perfis representavam cerca de um terço dos usuários ativos da América do Norte e cerca de um quarto dos eleitores em potencial dos EUA na época, disse o jornal. "Exploramos o Facebook para colher perfis de milhões de pessoas e construímos modelos para explorar o que sabíamos sobre eles e atacar seus medos internos. Essa foi a base sobre a qual toda a empresa foi construída", disse Wylie segundo citação do The Observer.
O New York Times acrescenta que entrevistas com ex-funcionários da Cambridge Analytica e uma revisão dos emails e documentos revelaram que a empresa não só explorava os dados privados do Facebook, como ainda mantinha a maior parte ou a totalidade das informações.
O The Observer disse que os dados foram coletados através de um aplicativo chamado Thisisyourdigitallife, criado pelo acadêmico Aleksandr Kogan, à parte de seu trabalho na Universidade de Cambridge.
Por meio da empresa de Kogan Global Science Research (GSR), em colaboração com a Cambridge Analytica, centenas de milhares de usuários foram pagos para fazer um teste de personalidade e concordaram em ter seus dados coletados para uso acadêmico, afirmou o The Observer.
No entanto, o aplicativo também coletou a informação dos amigos de Facebook daqueles que fizeram os testes, levando ao acúmulo de dados de dezenas de milhões de usuários, disse o jornal. A reportagem ainda esclareceu que a "política de plataforma" do Facebook só permitiu a coleta de dados dos amigos dos que concordaram em fazer o teste para melhorar a experiência do usuário no aplicativo, impedindo que os dados fossem vendidos ou usados para propaganda.
Repercussão
Um porta-voz da Cambridge Analytica declarou que a GSR "estava contratualmente comprometida por nós a obter apenas dados de acordo com a Lei de Proteção de Dados do Reino Unido e buscar o consentimento informado de cada respondente".
"Quando posteriormente ficou claro que os dados não foram obtidos pela GSR de acordo com os termos de serviço do Facebook, a Cambridge Analytica eliminou todos os dados recebidos da GSR", disse ele.
O Strategic Communication Laboratories e a campanha de Trump não foram encontrados para comentar as acusações.
O Facebook não mencionou a campanha de Trump ou qualquer outra campanha em sua declaração sobre a suspensão da empresa, que foi atribuída ao vice-conselheiro geral da rede social, Paul Grewal.
"Adotaremos ações legais, se necessário, para responsabilizá-los e responder por qualquer comportamento ilegal", disse o Facebook, acrescentando que continua investigando o caso.
A campanha de Trump contratou a Cambridge Analytica em junho de 2016 e pagou mais de 6,2 milhões de dólares, de acordo com os registros da Comissão Eleitoral Federal.
Em seu site, Cambridge Analytica diz que "forneceu a campanha Donald J. Trump para a presidência experiência e ideias que o ajudaram a chegar na Casa Branca".
Uma fonte próxima às investigações do Congresso americano sobre a intromissão russa na campanha de 2016 disse que a campanha Trump provavelmente precisará dizer se estava ciente dos métodos da Cambridge Analytica para obter seus dados ou se os dados foram utilizados durante a eleição.
O Facebook disse na sexta-feira disse que Kogan apresentou seu aplicativo no Facebook como "um aplicativo de pesquisa usado por psicólogos". Cerca de 270 mil pessoas baixaram o aplicativo e, ao fazê-lo, deram seu consentimento para que Kogan acessasse informações como a cidade que definiram em seu perfil ou conteúdo que gostaram, bem como informações mais limitadas sobre amigos.
Segundo o Facebook, Kogan ganhou acesso às informações "de forma legítima", pois "não seguiu na sequência nossas regras", ao dizer que ao repassar as informações para terceiros, incluindo SCL / Cambridge Analytica e Wylie da Eunoia "ele violou nossa políticas".
JPS/rt
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