Bactérias transformam plástico em paracetamol
24 de junho de 2025Uma equipe de cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, desenvolveu uma técnica pioneira para transformar resíduos plásticos em paracetamol usando bactérias geneticamente modificadas. A descoberta, publicada nesta segunda-feira (23/06) na revista científica Nature Chemistry, pode revolucionar tanto a gestão de resíduos quanto a produção sustentável de medicamentos.
A pesquisa mostra que a bactéria Escherichia coli (E. coli), comumente usada em biotecnologia, pode transformar o ácido tereftálico – uma molécula presente em garrafas e recipientes plásticos de politereftatalato de etileno (pet) – no ingrediente ativo do popular analgésico e antitérmico.
"Utilizando micróbios vivos, realizamos transformações químicas sofisticadas que podem abrir novas formas mais ecológicos e sustentáveis para produzir materiais valiosos, como medicamentos, a partir de resíduos", afirmou Stephen Wallace, autor do estudo, citado pelo jornal espanhol El País.
Através de um processo de fermentação semelhante ao da cerveja, os pesquisadores conseguiram concluir o processo de transformação do plástico em paracetamol em menos de 24 horas, com eficiência de 90%, ou de até 92% em condições otimizadas.
O procedimento é realizado em temperatura ambiente e gera emissões mínimas de carbono, ao contrário do método industrial comum, que depende do petróleo e contribui significativamente para as mudanças climáticas.
"Este trabalho demonstra que o plástico pet não é apenas um resíduo ou um material destinado a se tornar mais plástico. Microrganismos podem transformá-lo em produtos valiosos, incluindo medicamentos", explicou Wallace, que também é professor de biotecnologia química na Universidade de Edimburgo.
"Supraciclagem" química
Mais de 350 milhões de toneladas de resíduos plásticos são geradas a cada ano, grande parte proveniente de pet, como garrafas de água e recipientes de alimentos. De fato, embora existam métodos de reciclagem mecânica e química, muitos produzem novos plásticos ou materiais de baixo valor, com altos custos energéticos e ambientais.
Essa nova abordagem, porém, representa um salto em direção à chamada "supraciclagem" química, ou seja, a conversão de resíduos em compostos farmacêuticos, com menor pegada de carbono e maior valor agregado.
Embora a técnica ainda não esteja pronta para aplicação industrial, os pesquisadores acreditam que ela marca o início de uma nova era na produção sustentável de medicamentos. Eles acreditam que o método pode ser adaptado a outros resíduos plásticos e à síntese de diversos medicamentos.
A equipe utilizou uma reação química conhecida como reordenamento de Lossen, que até então não havia sido induzida em células vivas. A enzima foi ativada por compostos naturalmente presentes no interior das bactérias.
"A engenharia biológica tem enorme potencial para reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis, promover uma economia circular e gerar produtos sustentáveis", disse Ian Hatch, diretor de consultoria da Edinburgh Innovations, que apoiou a pesquisa, juntamente com a agência britânica EPSRC e a farmacêutica AstraZeneca.
rc/cn (EFE, ots)