Alemanha exclui Rússia de solenidade da Segunda Guerra
17 de abril de 2025O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, excluiu os embaixadores da Rússia e de Belarus da lista de convidados a uma solenidade no dia 8 de maio, quando se completam 80 anos do fim da Segunda Guerra na Europa.
A informação foi confirmada por uma porta-voz do Bundestag nesta quinta-feira (17/04), citando uma avaliação do governo federal alemão. Na véspera, o Ministério do Exterior já havia orientado estados, municípios e memoriais a não permitir a participação de representantes dos dois países em eventos comemorativos do fim do conflito.
A pasta alegou que o papel histórico de Moscou na derrota do nazismo deve ser "honrado", mas que há um risco de que solenidades sejam "exploradas ou instrumentalizadas" para justificar a invasão da Ucrânia.
O episódio simboliza o desconforto na Alemanha sobre como abordar, dado o atual contexto, o papel da Rússia na libertação da Europa. O presidente russo Vladimir Putin tem usado o legado do país na Segunda Guerra para legitimar sua agressão contra a Ucrânia, sob o pretexto de "desnazificá-la".
A porta-voz do ministério russo do Exterior, Maria Zakharova, disse que o gesto era um insulto por parte dos "herdeiros ideológicos e descendentes diretos" daqueles que assassinaram em nome de Adolf Hitler.
Já o embaixador russo Sergey Nechayev lamentou a decisão alemã. "As considerações da conjuntura política imediata não devem ter prioridade sobre as questões da memória e da reconciliação histórica entre os povos de nossos países", declarou ao jornal russo pró-Kremlin Izvestia.
Representantes de outras embaixadas participarão da solenidade no plenário do Bundestag em comemoração do fim da guerra e da campanha da Alemanha nazista de violência e genocídio na Europa.
Um porta-voz da embaixada ucraniana em Berlim saudou a decisão do Bundestag de não convidar o embaixador russo. "Era a única decisão correta", disse à Reuters.
Estão previstos para a solenidade um discurso do presidente alemão Frank-Walter Steinmeier e a leitura por jovens de relatos testemunhais sobre o fim da guerra.
Embaixador russo participou de evento em lembrança da Batalha das Colinas de Seelow
Nesta quarta-feira (16/04), o embaixador Nechayev compareceu a uma solenidade nas Colinas de Seelow, no estado de Brandemburgo.
O local, a poucos quilômetros do que hoje é a fronteira com a Polônia, foi palco em abril de 1945 de uma das maiores batalhas da Segunda Guerra em solo alemão. Ao menos 30 mil soldados do Exército Vermelho – formado por russos, ucranianos e bielorrussos, entre outras nacionalidades – pereceram nos combates, que deixou ainda outros 16 mil alemães e 2 mil poloneses mortos.
Políticos no estado do Leste alemão haviam criticado a orientação do Ministério Exterior de excluir representantes russos de eventos comemorativos da Segunda Guerra, argumentando que a postura desonra soldados soviéticos mortos no conflito.
Autoridades de Seelow afirmam que não convidaram autoridades russas, mas que também não barraram Nechayev, recebendo-o de forma educada, assim como o enviado bielorusso à Alemanha, Andrei Shuplyak.
O embaixador ucraniano Oleksii Makeiev reclamou da presença de Nechayev, referindo-se a ele como "representante de um regime criminoso que ataca meu país todos os dias com mísseis, bombas e drones".
Segundo Makeiev, o dia 8 de maio é uma data para confrontar o passado e evitar a guerra, e não para justificar uma guerra negando a história.
O estado Brandemburgo é governado por uma coalizão entre os social-democratas do SPD, mesmo partido do atual chanceler Olaf Scholz, e membros da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), sigla anti-imigração e pró-Rússia.
"É um ato diplomático – para dizer com cautela – não muito amigável em relação aos descendentes das pessoas enterradas aqui", disse o líder da bancada da BSW, Niels-Olaf Lüders. "Querer proibir que eles visitem os túmulos de seus antepassados é absolutamente inaceitável."
Sina Schönbrunn, do SPD, classificou a recomendação do governo alemão de "absurda". "É claro que tudo pode ser explorado, mas para nós hoje deve ser, acima de tudo, sobre a lembrança dos mortos", disse à rádio alemã rbb Inforadio.
ra/bl (Reuters, AFP, dpa)