Zelensky: Trump "vive no espaço de desinformação" da Rússia

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu hoje (19.02) ao Presidente dos Estados Unidos, que afirmou na terça-feira que o índice de aprovação de Zelensky era de apenas 4%, lamentando que Donald Trump "viva num espaço de desinformação".

"Infelizmente, o Presidente Trump, por quem temos grande respeito como líder do povo americano, vive neste espaço de desinformação", lamentou, numa conferência de imprensa em Kiev.

A sua afirmação "provém diretamente da propaganda russa", acrescentou Zelensky. O índice de aprovação do líder ucraniano nunca desceu abaixo dos 50% e, por vezes, chegou a atingir os 70%. Uma sondagem telefónica a 1000 ucranianos, realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, publicada na quarta-feira, revelou que 57% das pessoas aprovam a forma como Zelensky está a desempenhar o seu cargo.

Troca de acusações

Na mesma conferência de imprensa, o Presidente ucraniano pediu garantias de segurança dos países aliados ocidentais para que possa "acabar com a guerra" com a Rússia em 2025.

"Queremos garantias de segurança este ano, porque queremos acabar com a guerra este ano", afirmou Zelensky.

O chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, afirmou na terça-feira que está desiludido com Zelensky e mostrou-se confiante num acordo com a Rússia sobre a guerra na Ucrânia. Trump, em conferência de imprensa, referiu que o chefe de Estado da Ucrânia é impopular e rejeitou as posições tomadas por Zelensky após os contactos diplomáticos entre os Estados Unidos e a Rússia.  

Donald Trump descreveu as conversações com Moscovo como "muito boas" e criticou o homólogo ucraniano, insinuando que Zelensky é responsável pela guerra que começou com a invasão russa em fevereiro de 2022.

O Presidente norte-americano, questionado pelos jornalistas na residência de Mar-a-Lago, no estado da Florida, criticou Zelensky, que disse que as conversações russo-americanas realizadas na terça-feira na Arábia Saudita foram contactos "sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".

"Estou muito desiludido" com estas observações, respondeu Donald Trump, antes de ter acusado Zelensky de ter iniciado o conflito na Ucrânia. "Hoje ouvi dizer 'não fomos convidados'. Bem, vocês [Ucrânia] estão lá há três anos. Deviam ter acabado com isto há três anos. Nunca o deviam ter começado", disse Trump sobre o conflito na Ucrânia.

"Manipulação estratégica"

Em entrevista à DW, Peter Trubowitz, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, classifica a atitude de Donald Trump em relação à Rússia e à Ucrânia como manipulatória.

"A afirmação de Trump de que a Ucrânia é a culpada pela guerra não passa de uma estratégia de manipulação", diz Trubowitz. A postura, continua, "deve ser vista pelo que é, um esforço para estruturar as negociações sobre a guerra de uma forma que tem menos a ver com a garantia da segurança ucraniana e mais, penso eu, com o realinhamento das relações entre os EUA e a Rússia".

Trubowitz considera que tudo não passa de uma peça de teatro político para pressionar a Europa e "tirar partido da dependência da Europa em relação aos Estados Unidos".

"Os Estados Unidos marginalizaram efetivamente a Europa", apelando diretamente à Rússia, sabendo que a Europa nunca foi unânime na sua abordagem à invasão e utilizando isso a seu favor.