UA: Quem será o melhor para resolver problemas de África?
13 de fevereiro de 2025A União Africana prepara-se para eleger o presidente da Comissão da organização. Um dos três candidatos na ribalta é o ministro dos Negócios Estrangeiros do Djibuti, Mahamoud Ali Youssouf, um diplomata experiente.
Outro é o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Madagáscar, Richard Randriamandrato, um economista que promete remodelar a imagem do continente.
A liderar a corrida está o peso pesado da política no Quénia Raila Odinga. O ex-primeiro-ministro, de 80 anos, é visto como um destemido defensor da democracia, mas também há quem o considere uma relíquia política movida pela persistência. Já foi candidato presidencial cinco vezes, domina a arte de perder e recusa-se a deixar a política.
Impopular entre a juventude queniana
Embora tenha tido dificuldades em conquistar eleitores no Quénia, a experiência de Raila Odinga em negociações de paz e no desenvolvimento de infraestruturas em África granjeou-lhe credibilidade para lá das fronteiras do seu país.
Nas ruas de Nairobi, capital do Quénia, as opiniões sobre Odinga divergem mais do que nunca. "Penso que a sua popularidade tem vindo a diminuir, tendo atingido o seu pior momento no ano passado, durante as manifestações contra a Lei das Finanças", diz Eugene Omar.
O programador queniano disse ainda à DW que Odinga perdeu o contacto com o povo, especialmente com os jovens. "As pessoas ficaram realmente desiludidas por ele se ter juntado ao Presidente Ruto, quando a maioria dos jovens do país tinha decidido que era altura de mudar. Por isso, não sei porque é que ele é tão popular para o lugar na UA, quando a maioria dos seus compatriotas não confia nele", diz.
A maioria dos quenianos diz ser contra a candidatura de Odinga, mas há quem ainda acredite que seja a pessoa indicada para o cargo. É o caso da especialista em comunicação social Keit Silale.
"A sua vasta experiência em governação e diplomacia [incluindo os seus anteriores cargos como Alto Representante da União Africana para o Desenvolvimento de Infraestruturas], posicionam-no como um candidato capaz de enfrentar os desafios do continente. E a sua capacidade de navegar em cenários políticos complexos também se revelaria valiosa", argumenta.
Os outros candidatos na corrida
Outro candidato é Mahmoud Ali Youssouf, de 59 anos, atual ministro dos Negócios Estrangeiros do Djibuti, com um profundo conhecimento da geopolítica africana: desde a mediação da paz no Corno de África até ao equilíbrio das relações com as superpotências mundiais, posicionou o seu país como um ator fundamental em África e no mundo.
A sua visão para a UA é ambiciosa: políticas de segurança mais fortes, integração regional mais profunda e uma África mais assertiva no cenário mundial. No entanto, críticos destacam que o histórico do Djibuti em matéria de direitos humanos e a aparente falta de processos democráticos no país podem ser obstáculos para Youssouf.
Também na disputa está o antigo chefe da diplomacia de Madagáscar, Richard Randriamandrato. O economista de 56 anos acredita que os números, e não os discursos políticos, são a chave para desbloquear o potencial do continente.
Randriamandrat prevê uma UA impulsionada pela independência financeira, pelo comércio regional e pelo desenvolvimento sustentável, em vez de intermináveis disputas diplomáticas, argumentando que África deve libertar-se da sua dependência da ajuda externa, promover uma maior integração económica e investir nas indústrias locais para garantir a estabilidade a longo prazo.
Quem pode resolver problemas de África?
A União Africana terá de escolher um candidato que possa resolver a longa lista de crises em África. Guerras em países como o Sudão e a República Democrática do Congo, regimes militares hostis na África Ocidental, instabilidade económica e dívidas em nações empobrecidas da África Central, além de crises migratórias no Magrebe e da mitigação dos efeitos das alterações climáticas no continente são apenas algumas das questões que provavelmente voltarão à secretária do principal diplomata da UA no próximo ano.
Josphat Kamanya, analista político, afirma que o próximo presidente deve ter as competências necessárias para enfrentar todas estas questões: "Precisamos de um novo pensamento e de um pensamento moderno", conclui.
Influência política, habilidade diplomática ou uma visão económica ousada, o que será premiado? A cimeira da UA acontece nos próximos dias 15 e 16, em Adis Abeba, num encontro que marcará o início da presidência de Angola.