UNITA denuncia violência policial contra manifestantes
14 de julho de 2025O Grupo Parlamentar da UNITA repudiou a atuação das forças de segurança durante a manifestação realizada no sábado, (12.07), em Luanda, contra o aumento dos preços do gasóleo, dos transportes públicos e das propinas. A marcha, convocada por várias organizações da sociedade civil, foi dispersada com recurso a gás lacrimogéneo, tendo resultado em vários feridos e detenções arbitrárias.
Em comunicado, o Grupo Parlamentar da UNITA afirmou que a polícia angolana agiu "ao arrepio da Constituição e da Lei", tendo "usado da violência e abusado da força policial para reprimir uma manifestação pacífica e sem armas". A ação, segundo o partido, feriu "dezenas de cidadãos que participaram da manifestação".
Polícia acusada de atuação política
Durante os confrontos, foi também agredido o deputado Jeremias Mahula. A UNITA classificou o episódio como "um claro atentado à sua vida, integridade física e dignidade", denunciando que os deputados presentes encontravam-se devidamente identificados e "no pleno exercício dos seus direitos constitucionalmente consagrados".
"O Grupo Parlamentar da UNITA condena os atos contra a integridade física dos manifestantes, em geral, e dos deputados, em particular, que devidamente identificados e em solidariedade às justas reivindicações dos cidadãos, estiveram presentes", lê-se ainda no comunicado.
A UNITA sublinhou que "o papel da Polícia Nacional, nos termos da Constituição da República de Angola e da Lei, é assegurar a ordem pública, garantir a segurança dos cidadãos, das instituições e do património público e privado", não devendo esta ser "instrumentalizada por uma agenda pessoal ou partidária que visa efetivar o Estado autocrático e totalitário".
Nesse sentido, o maior partido da oposição apelou à responsabilização dos agentes envolvidos nas agressões ao deputado e aos manifestantes, exigindo "a consequente reparação dos danos físicos, morais e materiais".
UNITA promete continuar a luta democrática
O Grupo Parlamentar da UNITA encerrou o comunicado com uma mensagem de solidariedade para com os manifestantes e uma reafirmação do seu compromisso com o Estado Democrático e de Direito.
"O Grupo Parlamentar da UNITA manifesta solidariedade aos organizadores e cidadãos manifestantes e reitera a sua determinação de continuar a defender o Estado Democrático e de Direito, para a construção de uma sociedade livre, de justiça, digna e desenvolvida, a bem de todos."
A marcha teve início no Largo do Mercado de São Paulo e visava terminar no Largo da Maianga, próximo à Assembleia Nacional. Contudo, os participantes foram travados por múltiplas barreiras policiais. Alguns manifestantes, determinados em prosseguir, tentaram contornar os bloqueios, tendo alguns chegado às imediações do Governo Provincial de Luanda.
A Polícia de Intervenção Rápida respondeu com o lançamento de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, gerando momentos de pânico. Registaram-se feridos, desmaios e detenções. Entre os manifestantes encontravam-se ativistas, estudantes, taxistas, vendedores informais e membros de partidos políticos da oposição.
Assembleia Nacional aguarda esclarecimentos
A presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, declarou, a partir de Maputo, estar a aguardar informações formais sobre a atuação da polícia e sobre a alegada obstrução à participação de deputados na marcha.
"Eu tive conhecimento pelas redes sociais. Soube também que deputados manifestaram-se, estiveram nas manifestações. Então, eu espero que o meu gabinete receba qualquer informação sobre essa situação para nós podermos analisar com as estruturas competentes", afirmou à margem da 14.ª reunião da Assembleia Parlamentar da CPLP.
Cerqueira recordou ainda que "as manifestações são constitucionalmente protegidas em Angola", mas considerou necessário "que ocorram um ambiente ordeiro e de respeito mútuo".
Antes da manifestação, os organizadores já haviam denunciado pressões por parte das autoridades. Segundo Adilson Manuel, membro da comissão promotora, a polícia terá avisado que "haveria detenções e que os responsáveis da manifestação iriam arcar com as consequências penais". Apesar disso, os organizadores garantem que a manifestação estava dentro dos limites legais: "Estamos apenas a cumprir aquilo que é stricto sensu da lei".
Aumento dos preços
O protesto de sábado foi convocado como resposta ao aumento do preço do gasóleo de 300 para 400 kwanzas por litro, em vigor desde 4 de julho. Com isso, as tarifas de táxis coletivos passaram a 300 kwanzas por viagem e as dos autocarros urbanos a 200 kwanzas, agravando o custo de vida para os cidadãos.
Sob o lema "O teu silêncio mata mais do que a malária", a manifestação juntou diferentes sectores da sociedade civil, que criticaram a gestão económica do Governo e a falta de medidas de apoio à população mais vulnerável.