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Moçambique: UIR e SERNIC "semeiam terror nos bairros"

28 de março de 2025

Moradores da Matola e de Boane denunciam raptos e execuções por agentes da UIR e do SERNIC. Casas são invadidas sem mandado, jovens desaparecem e o medo cresce. Autoridades negam abusos, mas a indignação aumenta.

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Polícia moçambicana
Jovens desaparecem após rusgas policiais em MoçambiqueFoto: Jaijme Álvaro/DW

Em Moçambique, jovens residentes nas cidades da Matola e no Município de Boane denunciam raptos e assassinatos protagonizados pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC)

Os jovens queixam-se de que os agentes aparecem no meio da noite, sem mandato de busca, arrombam portas, disparam e violentam sem qualquer explicação. José, nome fictício, relata a situação:

"Muita gente da UIR, da polícia e, na verdade, muita gente do SERNIC. Uns traziam coletes, outros estavam à civil e outros com roupa da UIR. Quando eles entraram, saltaram o portão porque não conseguiram derrubá-lo", revelou.

Clima de terror policial

O bairro Belo Horizonte, no Município de Boane, tem sido palco desses atos, protagonizados pela polícia. João, também nome fictício, expressa sua indignação:

"A situação aqui no bloco dois… os agentes da UIR que foram colocados aqui estão a acabar connosco, estão a assassinar pessoas", disse.

João denuncia ainda o excesso de zelo dos agentes da UIR, que atacam qualquer pessoa, mesmo aqueles que não se envolveram nas manifestações. Uma cidadã foi atingida com gás lacrimogéneo sem necessidade, segundo João.

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"A miúda foi interpelada e outra estava a voltar do serviço e logo soltaram gás lacrimogéneo. São uns bandos de ladrões, são esses que foram roubar no ‘FisheFar' [uma loja]. Esta malta aqui... O que eles estão a fazer não faz sentido. Estamos a sofrer e não se bloqueou nenhuma estrada, mas estão a dar tiros", contou.

Os moradores também se queixam de raptos de jovens. José, familiar de uma das vítimas, mostra-se desolado com a situação.

"Jovem de 21 anos de idade, até agora não sabemos onde está. Entraram noutra casa, partiram janelas e não sabemos o que teria acontecido porque… não sabemos o que está a acontecer nesta zona, estamos em pânico".

Raptos e assassinatos

As manifestações convocadas pelo político Venâncio Mondlane para contestar os resultados eleitorais resultaram na morte de cerca de 400 pessoas em todo o país, segundo dados da Plataforma Decide, uma organização da sociedade civil.

Moradores da cidade da Matola, como César Bambo, exigem um fim aos raptos e assassinatos de jovens que estiveram na linha da frente dessas manifestações.

"Não sabemos se este Governo é para proteger ou para matar. Que tipo de Governo é este? O que está a acontecer com estes polícias? Não é a primeira vez e a estrutura disse que ia resolver, mas ainda não. Qual é o problema? Porque não se resolve isto?", questionou.

Na semana passada, o ministro do Interior, Paulo Chachine, gerou indignação na sociedade com declarações em que negou o uso de balas letais durante as manifestações.

"Não há ordens para a polícia usar balas reais. Quando foram usadas balas reais? A polícia age dentro dos seus limites e de acordo com a lei. E com os meios necessários naquele momento para cada atuação."

A sociedade civil tem instado a polícia a adotar uma abordagem mais profissional durante as manifestações pacíficas, como afirmou a advogada Ivete Mafunza.

"Esta polícia, quando chamada a efetivamente reagir, deve agir e reagir dentro dos padrões do uso da força, que geralmente se baseiam nos princípios da proporcionalidade, da necessidade e, acima de tudo, da legalidade", disse.

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Romeu da Silva Correspondente da DW África em Maputo