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Moçambique: "Não há paz onde há derramamento de sangue"

DW (Deutsche Welle)
6 de março de 2025

Oposição considera que houve um uso brutal e injustificado da força armada contra a caravana de Venâncio Mondlane. O Governo procura alcançar a paz enquanto recorre à violência para reprimir opositores, dizem partidos.

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Protestos em Moçambique
Unidade de Intervenção Rápida (UIR) disparou, na quarta-feira, contra uma caravana liderada por Venâncio Mondlane (imagem ilustrativa)Foto: AMILTON NEVES/AFP

A sociedade civil contabilizou pelo menos 16 feridos pelos disparos efetuados por elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia da República de Moçambique (PRM), durante a caravana de Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial, na capital moçambicana, na quarta-feira (05.03).

O partido PODEMOS, através do seu porta-voz, Duclésio Chico, descreveu o cenário como uma "arbitrariedade policial" numa marcha que se apresentava pacífica.

"Era uma caravana que estava a andar, não havia violência. Não percebemos qual foi a razão que levou as Forças de Defesa nacionais a fazerem o que fizeram", diz Chico.

O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) também manifestou indignação face à atuação da PRM no comício daquele que foi o segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais de outubro de 2024. 

"A polícia agiu com muito excesso de zelo. A comitiva de Venâncio Mondlane nunca andou armada e, portanto, não se esperava aquela dimensão do uso da força e de forma completamente desproporcional", comenta Ismael Nhacucue, porta-voz do MDM. 

Nhacucue lembra ainda que o direito à reunião tem amparo legal na Constituição moçambicana.

"Foi um uso brutal da força armada que não se justifica de forma alguma. Nós temos dito que o direito à manifestação, à reunião e os direitos à associação política são constitucionais e não podem ser colocados em causa", sublinha. 

Tumulto em passeata liderada por Venâncio Mondlane
Tumulto em passeata deixou pelo menos 16 feridos incluindo duas crianças, segundo dados da Plataforma DecideFoto: Amilton Neves/AFP/Getty Images

"Exigimos que a PGR responsabilize os culpados"

O incidente envolvendo Venâncio Mondlane e os seus apoiantes ocorreu poucas horas antes da assinatura, entre o Presidente Daniel Chapo e nove formações políticas, de um compromisso político para o diálogo nacional inclusivo, tendo como um dos objetivos o alcance da paz, estabilidade e reconciliação em Moçambique.

O Partido de Reconciliação Nacional (PARENA), um dos signatários do acordo, considera impossível alcançar a paz enquanto houver derramamento de sangue. 

"Não há nenhuma paz onde há derramamento de sangue. Onde há derramamento de sangue, há choros, há lamentações, e aí não poderá haver paz”, diz André Balate, líder da formação política extraparlamentar.

O porta-voz do MDM alerta que incidentes como o registado minam qualquer tentativa de alcançar a paz e estabilidade no país.

"Minam essa possibilidade de diálogo, minam essa necessidade que o país tem de se reencontrar e se unir porque, na verdade, ainda existe o espetro da insegurança e da desconfiança, muito por conta dos resultados eleitorais", adverte Ismael Nhacucue.

O PODEMOS, que recentemente rompeu o acordo coligatório com o ex-candidato Venâncio Mondlane, exige que a Procuradoria-Geral da República (PGR) responsabilize os autores dos disparos que feriram 16 pessoas durante a dispersão da multidão que acompanhava o político, afirma o seu porta-voz, Duclésio Chico.

"Incutimos esta responsabilidade, primeiro, às Forças de Defesa e Segurança (FDS) e exigimos que a Procuradoria-Geral da República responsabilize os culpados desta situação", conclui.

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