Trump reduz a diplomacia dos EUA em África
29 de abril de 2025O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, decidiu também fazer cortes nas relações diplomáticas com África. Segundo um plano de austeridade de Trump, cerca de 30 embaixadas e consulados em todo o mundo serão encerrados – muitos deles em África.
Isto consta de um projeto de decreto presidencial, cujo conteúdo foi tornado público pelo jornal norte-americano The New York Times. De acordo com o documento, está prevista uma "reestruturação completa” do Departamento de Estado até 1 de outubro. O Secretário de Estado, Marco Rubio, reagiu imediatamente, referindo-se à notícia como "Fake News” no Twitter.
Embaixadas deixam de ser prioridade
"A nomeação de embaixadores pela administração Trump não é uma prioridade”, afirma Alex Vines, diretor do programa África do think tank britânico Chatham House. Até agora, a administração Trump nomeou apenas três embaixadores para o continente africano: para a África do Sul, Marrocos e Tunísia.
"Nos restantes países, ou continuam em funções embaixadores nomeados anteriormente, ou os cargos estão vagos”, diz Vines à DW.
Em alguns casos, foi nomeado temporariamente um diplomata como encarregado de negócios, enquanto se aguarda uma decisão sobre o futuro das missões diplomáticas.
Uma consulta à lista atualizada da American Foreign Service Association – a associação profissional do serviço externo dos EUA – revela que, em países mais pequenos, mas também em grandes economias como a Nigéria, o Quénia, o Egipto e a Etiópia, não há qualquer nome anunciado para chefiar as embaixadas norte-americanas.
"O plano é reduzir drasticamente a pegada diplomática dos EUA em África, não há dúvida”, sublinha Vines. Lesoto, Eritreia, República Centro-Africana, República do Congo, Gâmbia e Sudão do Sul estão entre os países onde as embaixadas deverão ser encerradas, bem como os consulados em Duala (Camarões) e Durban (África do Sul).
África do Sul: nomeação controversa
Na África do Sul, um país industrializado de peso, o cargo não deverá ficar vago: Trump nomeou recentemente Leo Brent Bozell III como embaixador, estando ainda pendente a confirmação pelo Senado dos EUA.
"Ele é um crítico mediático ultraconservador e provavelmente será uma nomeação problemática para a África do Sul”, afirma Steven Gruzd, chefe do projeto África-Rússia no South African Institute of International Affairs.
A nomeação do apoiante de Israel Bozell surge após a expulsão do embaixador sul-africano Ebrahim Rasool de Washington – Rasool tinha criticado Trump, o que deteriorou ainda mais as relações entre os dois países.
Tensões diplomáticas
O pano de fundo é tenso: o governo Trump condenou a queixa apresentada pela África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça, relativa à guerra de Gaza. Em fevereiro, Trump acusou ainda o governo sul-africano de "expropriações arbitrárias” e de "discriminação” contra brancos, acusando-o de querer "apropriar-se das suas terras”.
Trump congelou a ajuda financeira à África do Sul, afetando inclusive projetos de combate ao HIV/SIDA, o que teve consequências dramáticas para a população. Para Gruzd, é mais uma prova do desinteresse de Trump por África.
"África não teve qualquer importância no primeiro mandato de Trump. Ele insultou o continente e ignorou-o completamente”, afirma Gruzd à DW.
"Durante todo o seu mandato, nunca visitou África. Não me surpreende que agora muitos cargos de embaixadores em países africanos importantes estejam vagos.”
Nova estratégia: cooperação bilateral
Desde que tomou posse, Trump iniciou cortes radicais em ministérios, agências e programas governamentais, despedindo milhares de funcionários públicos. A sua administração é impulsionada pelo Department of Government Efficiency (DOGE), apoiado por Elon Musk, que promove esforços drásticos para reduzir o tamanho do governo federal.
O Departamento de Estado também está a ser reduzido como parte destas reformas estratégicas, motivadas tanto pela pressão de uma economia norte-americana altamente endividada como por uma opção política:
"Desde o seu primeiro mandato que Trump privilegia uma abordagem bilateral, negociando individualmente com cada país”, explica Christopher Isike, diretor do African Centre for the Study of the United States na Universidade de Pretória.
Essa é agora a base da cooperação externa dos EUA. Isike não acredita que o acordo comercial AGOA (African Growth and Opportunity Act) com os países africanos seja renovado depois de 1 de outubro de 2025.
A redução da presença diplomática dos EUA está a acontecer em países onde Washington sente que os investimentos em embaixadas e consulados não trouxeram os retornos desejados, afirma ainda Isike.
Contudo, não se trata de um abandono total da diplomacia: "Em alguns destes países, haverá fecho de embaixadas, mas a diplomacia será gerida a partir de escritórios regionais. No Sudão do Sul, por exemplo, isso poderá acontecer, embora ainda não esteja decidido”, conclui.