Trump e Putin marcam nova política externa da Alemanha
11 de abril de 2025A complexa situação internacional e a política tarifária de Donald Trump aumentaram a pressão sobre os negociadores da União Democrata Cristã (CDU/CSU) e do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha.
Ao apresentar o acordo, Friedrich Merz (CDU), o futuro chanceler alemão, aludiu às tensões internacionais e reafirmou a vontade de participar na definição das mudanças que estão a ocorrer no mundo. Lars Klingbeil, líder dos sociais-democratas, descreveu os tempos que estamos a viver como "históricos".
Estes são os principais desafios da política externa alemã:
Política comercial
A política tarifária do Presidente dos EUA causou turbulência nos mercados bolsistas de todo o mundo e provocou receios de uma guerra comercial global. A Alemanha, um país exportador, é particularmente vulnerável às tarifas, especialmente porque a economia alemã está em recessão há mais de dois anos.
O comércio transatlântico é uma questão da competência da União Europeia (UE) e a Alemanha não pode atuar sozinha neste domínio.
"A médio prazo, pretendemos chegar a um acordo de comércio livre com os Estados Unidos; a curto prazo, queremos evitar um conflito comercial e vamos insistir na redução dos direitos aduaneiros de ambos os lados do Atlântico", estabelece o acordo de coligação.
Relações transatlânticas
Friedrich Merz é um forte defensor dos laços transatlânticos. Durante dez anos, presidiu à Atlantic Bridge, uma organização não partidária dedicada ao desenvolvimento das relações germano-americanas.
Nunca viveu nos Estados Unidos, mas diz conhecer muito bem o modo de pensar americano, graças ao seu trabalho de longa data na empresa de investimentos BlackRock.
No entanto, desde o início da segunda administração Trump, a sua fé nestes laços foi abalada. Ficou consternado quando o chefe da Casa Branca atribuiu a corresponsabilidade pela guerra à Ucrânia e quando Trump e o seu vice-presidente, J.D. Vance, humilharam publicamente o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Washington.
Até à data, não está previsto qualquer encontro entre Merz e Trump.
Ucrânia
Os esforços de Trump para alcançar a paz na Ucrânia deixaram os europeus como espetadores. Trump está a negociar diretamente com o Presidente russo, Vladimir Putin. Zelensky também não tem influência direta nas conversações. Se se chegar a um acordo, aos alemães e aos outros europeus restará apenas a tarefa de garantir essa paz.
No entanto, o novo governo de coligação alemão tenciona continuar a apoiar a Ucrânia. Mas ainda não se sabe exatamente como é que a ajuda militar vai continuar.
Quando liderava a oposição, Merz defendia o envio de mísseis de cruzeiro Taurus de longo alcance. Olaf Scholz, o chanceler ainda em funções, rejeitou-o continuamente, temendo que isso envolvesse a Alemanha numa guerra com a Rússia.
Defesa: Mais independência face aos EUA
Como Merz duvida que Washington, com Trump no poder, continue a sentir-se obrigado a defender os seus parceiros da NATO em caso de ataque, defende que os europeus devem alcançar o mais rapidamente possível uma "verdadeira independência dos Estados Unidos".
Merz já garantiu a aprovação parlamentar da sua famosa promessa financeira de "tudo o que for necessário" para reforçar as forças armadas alemãs.
Parte do aprofundamento da cooperação europeia em matéria de defesa significaria explorar formas de a Alemanha e a Europa poderem beneficiar da capacidade nuclear proporcionada pelas duas potências nucleares do continente, a França e o Reino Unido. Não será uma tarefa fácil, dado que nenhuma das potências nucleares está disposta a partilhar facilmente as suas competências.
Muitos outros países da UE também têm dúvidas quanto a uma maior cooperação militar. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, não só mantém laços estreitos com o russo Putin, como também se opõe à ajuda militar à Ucrânia.
Política europeia
Merz censurou o Governo cessante por ter negligenciado a cooperação europeia, o que, na sua opinião, prejudicou as relações com os aliados mais próximos da Alemanha, a França e a Polónia. Agora, a Alemanha tenciona corrigir a situação. Mas não será assim tão simples. O Presidente francês, Emmanuel Macron, está politicamente enfraquecido no seu país.
Em toda a UE, o entusiasmo por uma integração mais profunda diminuiu, com os movimentos populistas de direita a crescerem constantemente em muitos Estados-membros.
Relações com a China
As relações económicas com a China não estão a correr tão bem como no passado, quando os exportadores alemães faziam negócios lucrativos neste país. Os automóveis alemães já não se vendem tão bem na China.
Entretanto, a UE está a fechar os seus mercados aos carros eléctricos chineses. A Alemanha, enquanto país exportador, tentará provavelmente não ir demasiado longe com as restrições ao comércio chinês.
Por outro lado, a coligação de Merz quer reduzir os riscos de segurança. A frase do acordo que diz "queremos impedir efetivamente os investimentos estrangeiros, que contradizem os nossos interesses nacionais, em infraestruturas críticas e áreas estrategicamente relevantes" deverá referir-se sobretudo à China.
Netanyahu será bem-vindo na Alemanha?
O governo alemão encontra-se numa posição difícil. Devido à sua história, a Alemanha dá especial importância à segurança de Israel. Por outro lado, os políticos alemães criticaram a dura ação de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, considerando-a desproporcionada. O grupo islâmico palestiniano Hamas é classificado pela Alemanha e por outros países como uma organização terrorista.
O Governo alemão poderá também ver-se envolvido num dilema devido ao mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por suspeita de crimes de guerra na Faixa de Gaza. Merz já prometeu que, se Netanyahu viajar para a Alemanha, não será detido.
Proteção do clima
Os Verdes conseguiram obter mais dinheiro para a proteção do clima, mas a nível global o cenário é diferente. Assim que Trump chegou ao poder, retirou os EUA do pacto internacional sobre o clima e as grandes empresas norte-americanas seguiram os seus passos, abandonando projetos amigos do ambiente.
Neste contexto, será mais difícil para a Alemanha promover a proteção do clima a nível internacional. Os grupos ambientalistas também acreditam que o próximo governo alemão não está tão empenhado nesta questão.