"Trump ansioso por dizer que trouxe a paz à Ucrânia"
17 de março de 2025O Presidente dos Estados Unidos afirmou que talvez tenha "algo a anunciar", em breve, sobre um acordo de cessar-fogo na Ucrânia. Donald Trump conversará, esta terça-feira, por telefone com o homólogo russo, Vladimir Putin.
Em entrevista à DW África, o historiador e comentador em questões russas José Milhazes afirma-se preocupado com o facto de Trump se estar a revelar, cada vez mais, um "admirador de Putin".
A Ucrânia arrisca-se a "pagar uma fatura muito pesada", nomeadamente a sua divisão territorial, conclui José Milhazes, criticando ao mesmo tempo a postura da União Europeia que, no passado, ter-se-á deixado guiar pelos interesses económicos, menosprezando a sua segurança.
Milhazes chama ainda a atenção de que as decisões que forem tomadas na conversa entre Trump e Putin terão de ser aprovadas pela Ucrânia. E o país já traçou uma série de "linhas vermelhas", exigindo, nomeadamente, garantias de segurança, adianta Milhazes.
DW África: Estamos perto de uma paz duradoura na Ucrânia?
José Milhazes (JM): Independentemente de como as coisas correrem, cada dia que passa aproxima-nos da paz. Por enquanto, ainda estamos na chamada "primeira fase", ou seja, na consecução de um cessar-fogo entre as partes beligerantes. Só depois de se implementar este cessar-fogo é que terão início as conversações entre russos e ucranianos sobre o tal tratado que todos dizem querer garantir uma paz longa.
DW África: Acredita que Donald Trump poderá anunciar a paz amanhã?
JM: Amanhã, Trump poderá anunciar alguma aproximação entre Moscovo e Washington. Mas as decisões que forem tomadas na conversa entre os dois Presidentes terão de ser apoiadas também pela Ucrânia, que já traçou uma série de linhas vermelhas para a continuação deste processo.
DW África: Com quem é que Trump terá mais dificuldades em chegar a acordo? Com Zelensky, da Ucrânia, ou com Putin, amanhã, ao telefone?
JM: Eu acho que, entre Trump e Putin, não há grandes problemas em chegar a acordo. Isso preocupa-me porque quem está a pagar a fatura mais pesada é a Ucrânia, que é o elo fraco no meio de tudo isto. E eu receio que a Ucrânia tenha de fazer sérias cedências, territoriais e não só, para satisfazer a vaidade de Trump. Porque ele está ansioso por dizer ao mundo que conseguiu a paz na Ucrânia, tal como tinha prometido.
DW África: Portanto, será a Donald Trump que vamos ter de agradecer se a guerra, de facto, acabar?
JM: Eu acho que não, porque, infelizmente, a política norte-americana está cada vez mais nas mãos de Trump, que é um admirador de Putin.
Trump não está a coordenar a sua política com a União Europeia, mas com a Rússia, e eu temo que a Ucrânia aqui não tenha palavra a dizer, que tudo poderá ficar definido entre Trump e Putin, para mal dos nossos pecados.
DW África: Como avalia a atuação da diplomacia nos países da União Europeia?
JM: Eu tenho uma opinião muito negativa da política da União Europeia em relação à Rússia, desde que Putin foi eleito. Eu sou daqueles que vinha criticando a União Europeia, que passou a confiar totalmente em Putin, principalmente devido a interesses económicos e espero que, agora, tirem ilações do que eles fizeram mal, porque o que acontece com os políticos é que se esquecem rapidamente de determinadas coisas - por exemplo, assinando-se o tal tratado de paz, as empresas ocidentais podem voltar à Rússia e a Europa poderá não prestar a devida atenção ao seu sistema de defesa e segurança.