Três polícias mortos num mês: O que se passa em Moçambique?
3 de julho de 2025Dois agentes das forças de segurança de Moçambique foram mortos à queima-roupa, na quarta-feira (03.07), no município da Matola, província de Maputo.
Um dos agentes assassinados era Inspetor Principal da Polícia da República de Moçambique (PRM); o outro era agente de investigação operativa no Serviço de Investigação Criminal (SERNIC), de acordo com informações oficiais.
Indivíduos desconhecidos, que seguiam em três carros, bloquearam a viatura dos agentes e dispararam contra eles "com recurso a armas de fogo do tipo AKM", avançou a polícia.
"De acordo com os dados preliminares, foram efetuados cerca de 54 disparos", explicou o porta-voz da corporação na província de Maputo, Cláudio Ngulele.
Segundo assassinato em menos de um mês
Este é o segundo caso de assassinato de agentes da polícia, em menos de um mês, em moldes semelhantes.
A 12 de junho, o chefe de reconhecimento da Unidade de Intervenção Rápida, um braço da Polícia da República de Moçambique, foi alvejado com 50 tiros, no bairro Nkobe, na Matola.
Estes assassinatos e os seus "modus operandi" preocupam o jurista Roberto Aleluia: "Nota-se, claramente, que não é um crime normal", observa.
"Deu para entender que é um crime organizado e que até pode haver, sim, um ajuste de contas do crime organizado", acrescenta.
André Mulungo, do Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD), concorda com a tese de ajuste de contas.
"Há relatos vários de que há agentes da polícia envolvidos com grupos criminosos, inclusive para emprestar armas para garantirem proteção, mas também pode ser um ajuste de contas entre grupos que se traem dentro da própria corporação", equaciona Mulungo.
"Queima de arquivos"?
Outra tese avançada é a de que estas mortes poderiam ser uma espécie de "queima de arquivos", neutralizando "pessoas da polícia ou do SERNIC que estejam na posse de informações sensíveis", refere Mulungo.
Mas Cláudio Ngulele, porta-voz da corporação na província de Maputo, reitera o comprometimento da PRM "para investigar e responsabilizar os autores do crime."
Enquanto ainda se busca por explicações para os assassinatos dos agentes da polícia, o jornalista e ativista social André Mulungo lamenta uma supostanormalização da violência em Moçambique.
Mulungo acrescenta que a atuação dos criminosos revela um certo à-vontade: "Olhando para a forma como foram assassinados os dois agentes, aquilo foi umacena muito bem estudada, bem preparada, em que as pessoas estavam bem à-vontade, sem nenhum sinal de medo e de pressa. E tinham convicção de que nada lhes ia acontecer", comenta:
O jurista Roberto Aleluia afirma que são situações "muito preocupantes".
"O Estado deve preocupar-se muito com isso. Se um agente de segurança é morto nestes moldes, imagine nós que somos pacatos cidadãos", adverte Roberto Aleluia.