Ossufo Momade "deve demitir-se, não há outro remédio"
28 de maio de 2025Um grupo de antigos guerrilheiros da RENAMO que contesta a liderança do partido tomou, esta quarta-feira (28.05), o gabinete do general Ossufo Momadee a sede do partido, hoje segunda maior força da oposição em Moçambique.
Residentes das proximidades revelaram que os descontentes trocaram inclusive as fechaduras da sede da RENAMO.
Em entrevista à DW, João Machava, porta-voz dos ex-guerrilheiros da RENAMO, confirma que a ocupação do gabinete de Ossufo Momade é uma "forma de pressionar” o líder do partido a renunciar.
Machava nega que a causa que move os guerrilheiros esteja relacionada com "regionalismos" ou "etnias" e garante que o grupo chegará também à residência de Momade. A única solução é a saída de Momade da liderança da RENAMO, diz.
DW África: Confirma que tomaram o gabinete do general Ossufo Momade? Porquê?
João Machava (JM): Sim, ocupámos mesmo o gabinete do general Ossufo esta manhã.
DW África: Essa é uma forma de pressionar o general Ossufo a renunciar à presidência?
JM: Sim, é uma das formas. Também iremos à residência [de Ossufo Momade].
DW África: Pretendem chegar à residência do general Ossufo?
JM: Sim. Pretendemos encontrá-lo para que nos diga qualquer coisa, porque ele não pode ser mudo, ele tem que dizer qualquer coisa.
DW África: O que é que vocês querem ouvir dele?
JM: Queremos ouvir que ele renunciou. É a única coisa que queremos.
DW África: Na sociedade moçambicana, algumas pessoas dizem que vocês estão a ser movidos por uma causa regionalista, ou seja, estão a combater Ossufo Momade porque não é da zona centro, muito menos uma pessoa da zona sul. Confirma essa tese?
JM: Nós estamos a combater Ossufo Momade porque ele não consegue gerir a RENAMO. Está a levar o partido à falência, é por isso que o estamos a combater. Não há nada de regionalismo ou etnia. Temos aqui macuas que vieram de Cabo Delgado, temos makondes, temos macuas que vieram de Nampula. Nós defendemos os ideais do nosso saudoso Afonso Dhlakama.
DW África: Ossudo Momade foi eleito presidente do partido há cerca de um ano. Porque é que não o rejeitaram muito antes de ir para as eleições? No congresso?
JM: Nós não queríamos inviabilizar as eleições, porque nos podiam culpar pela derrota. Preferimos manter-nos em silêncio e ver como é que as eleições eram geridas. Mais uma vez, ele geriu mal as eleições, nem fez campanha, andou a introduzir uma política de vassourada na campanha, enquanto aquela vassourada era para varrer a RENAMO. Por isso, unimo-nos em todo o país para lutarmos contra ele. Ele deve-se demitir, não há outro remédio.
DW África: Se vocês recorrem à força significa que há uma remoção de Ossufo Momade à força. Isto não pode ser interpretado também como um "golpe de estado” dentro da própria RENAMO?
JM: Nós fizemos muitas tentativas, mandámos cartas, ele não respondeu. Pedimos um encontro com ele, ele não aceitou. Então, o único meio que encontrámos foi este, encerrar as delegações, parar com os trabalhos de partido.
DW África: Têm previsão de quando é que chegarão a casa de Ossufo Momade?
JM: Não. Não temos previsão, mas vamos chegar.