Tensão pós-eleitoral: Polícias escondem farda na Zambézia
14 de fevereiro de 2025Os tumultos resultantes das eleições gerais de 2024 em Moçambique podem ter cessado, mas as suas consequências ainda persistem, afetando tanto a população como os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) na província central da Zambézia.
Desde o início de fevereiro, não foram registadas novas manifestações, como as que ocorreram nos últimos meses de 2024, quando diversas infra-estruturas foram vandalizadas e várias pessoas perderam a vida em confrontos com as autoridades policiais.
No entanto, a aparente normalidade esconde um clima de insegurança entre os agentes da PRM, especialmente em distritos como Morrumbala, Derre e Luabo, onde muitos polícias ainda vivem sob o trauma da violência.
Relatos colhidos pela DW África sob anonimato indicam que os agentes da polícia evitam circular uniformizados fora do serviço por receio de represálias. Muitos optam por transportar a farda em mochila, tanto na ida como no regresso do trabalho.
"Aqui, a prática de sair fardado já não existe. Como forma de prevenção, os agentes levam o uniforme na pasta para evitar serem identificados. Além disso, alguns chegam a usar máscaras durante o serviço", revelou um polícia.
A situação contrasta com a rotina anterior, quando os agentes costumavam sair das suas residências devidamente uniformizados até aos postos de trabalho. Apesar do receio, a polícia retomou patrulhas em determinadas áreas, mas a cautela persiste.
PRM desmente clima de medo
O chefe das Relações Públicas do Comando Provincial da PRM na Zambézia, Miguel Caetano, desmente qualquer clima de medo entre os agentes e esclarece que o uso do uniforme fora do serviço é opcional.
"Não existe regulamento algum dentro da PRM que obrigue um membro a sair de casa uniformizado ou não. Há obrigatoriedade apenas quando o agente está em missão", afirmou Caetano, afastando a hipótese de que os agentes estão a evitar a farda por questões de segurança.
Embora o receio seja menos acentuado nas principais vilas e cidades, analista ouvido pela DW alerta para um desgaste na relação entre a PRM e a população. O politólogo Lourindo Verde destaca que os manifestantes culpam a polícia pela repressão violenta das manifestações pós-eleitorais.
"Mensagens de líderes políticos incitam à retaliação, promovendo um clima de tensão. Como consequência, os agentes passaram a adoptar medidas de autoprotecção", explica Verde.
Para o analista, é essencial restabelecer a confiança entre a PRM e a população. "O que ocorreu foi uma verdadeira guerra declarada entre a polícia e o povo. É necessário um esforço para reconstruir essa relação", apela.
O Comando Provincial da PRM na Zambézia estima que pelo menos cinco agentes foram mortos durante as manifestações pós-eleitorais na província. Entretanto, os impactos da violência continuam a ser sentidos, tanto no quotidiano dos agentes como na percepção de segurança da população.