Tensão entre Mali e Argélia: Mais um conflito no Sahel?
17 de abril de 2025Começa a desenrolar-se mais uma história de conflito em Tin Zaouatine, uma região desértica no extremo nordeste do Mali. A mesma região que, em agosto de 2024, assistiu a uma derrota sem precedentes dos mercenários russos emboscados pelos rebeldes tuaregues, está de novo no epicentro de uma crise.
Na noite entre 31 de março e 1 de abril, um drone de vigilância Akinci, de fabrico turco, operado pelas forças armadas do Mali, caiu literalmente do céu. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostrava os destroços em chamas a caírem e a embaterem numa zona desabitada.
Horas mais tarde, o exército argelino declarou que uma unidade de defesa aérea na região fronteiriça abateu um drone de reconhecimento armado que tinha entrado no espaço aéreo argelino. Bamako, a capital do Mali, discordou, argumentando que os destroços foram encontrados a quase 10 quilómetros do território maliano.
O incidente sem precedentes criou, desde então, uma grande fratura diplomática entre os dois países vizinhos. Embora pareça que nenhuma das partes tem interesse em agravar a questão, a crise tem vindo a intensificar-se.
Protestos, retaliação e solidariedade
Pouco depois da Argélia ter assumido a responsabilidade, centenas de manifestantes reuniram-se em frente à embaixada do país em Bamako. "Destruíram o nosso drone em Tinzawaten. O drone estava no nosso território. Basta! Estamos aqui para mostrar ao mundo inteiro que nos estamos a erguer como um só para defender as nossas autoridades", disse à DW um dos manifestantes.
A junta militar do Mali retaliou por meios diplomáticos. Numa ação coordenada com os seus aliados próximos Níger e Burkina Faso - ambos também governados por juntas - os três Estados da Aliança do Sahel retiraram os seus embaixadores da Argélia. Um dia depois, tanto o Mali como a Argélia fecharam o seu espaço aéreo aos aviões um do outro.
Para Ulf Laessing, diretor do programa Sahel da Fundação alemã Konrad Adenauer, embora possa ter sido fácil para o Burkina Faso solidarizar-se com o seu aliado, a decisão pode ter sido mais difícil para o Níger.
"Do ponto de vista do Níger, isto não é um bom desenvolvimento, porque o Níger tinha acabado de melhorar as suas relações com a Argélia. A Argélia esforçou-se por conquistar o Níger, precisamente porque a sua relação com o Mali é muito má. A companhia petrolífera estatal Sonatrach concluiu um acordo no Níger, que também dá uma pequena ajuda económica ao governo", explica.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, Abdoulaye Diop, acusou a Argélia de apoiar o terrorismo. "A destruição do drone das Forças Armadas do Mali é uma ação que visa o conjunto dos Estados membros da confederação AES e um meio pérfido de promoção do terrorismo", declarou.
A Argélia negou qualquer irregularidade no incidente com o drone e acusou o Mali de tentar redirecionar as culpas para os seus problemas internos.
Relações deterioram-se desde 2023
O Mali e a Argélia partilham uma história comum de opressão colonial francesa. Desde que se tornaram independentes em 1960 e 1962, respetivamente, as relações entre os dois países têm passado por momentos difíceis.
A segurança na fronteira de 1.300 quilómetros de comprimento sempre foi uma questão controversa. Em 2015, após três anos de combates entre o exército do Mali e os rebeldes do norte, a Argélia mediou com sucesso um contrato de paz.
Segundo Laessing, as relações deterioraram-se ainda mais no final de 2023, quando o Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, recebeu Mahmoud Dicko, um poderoso imã da região de Tombuctu, no Mali, que a junta militar considera uma ameaça devido à sua popularidade.
"Este facto foi visto como uma provocação em Bamako. Em consequência, o Mali pôs termo a um acordo de paz que a Argélia tinha mediado. O acordo de paz terminou em 2015. A Argélia também respondeu verbalmente. Foi assim que a crise se agravou", explica.
O analista maliano Paul Oula disse à DW que as relações diplomáticas entre o Mali e a Argélia carecem de confiança: "Atualmente, as autoridades malianas desaprovam totalmente a interferência das autoridades argelinas na gestão da crise de segurança no Mali."
Embora nenhum dos lados pareça beneficiar com as consequências, resta saber se o Mali e a Argélia serão capazes de reunir vontade política suficiente para resolver o seu diferendo.