Tensão entre M23 e forças internacionais na RDC
16 de abril de 2025Num contexto de recrudescimento da violência no leste da RDC, os rebeldes do M23 acusaram as forças internacionais, nomeadamente as da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a missão da ONU (Monusco), de estarem a apoiar as operações militares levadas a cabo pelo exército congolês nas zonas que ocupam.
Estas acusações surgem na sequência dos combates ocorridos na noite de 11 para 12 de abril em Goma, onde os rebeldes afirmam que as tropas da SADC "coordenaram" o ataque em colaboração com a milícia Wazalendo, aliada das FARDC.
Monusco refuta acusações
A ONU reagiu rapidamente, classificando as acusações como "infundadas” e susceptíveis de comprometer a segurança dos civis na RDC.
Apesar disso, o M23 declarou num comunicado de imprensa que era obrigado a "reconsiderar a sua posição", o que faz temer um recomeço das hostilidades.
Souzy Kisuki, defensora dos direitos humanos, está profundamente preocupada com esta perspetiva. "Há muito que acredito que os rebeldes do M23 nunca foram favoráveis ao cumprimento de qualquer tipo de cessar-fogo", afirma.
Tanto a comunidade nacional como a internacional "devem poder organizar-se para pôr fim a esta guerra, sobretudo dando prioridade aos meios diplomáticos", defende Kisuki.
O M23 exige também a saída imediata das tropas da SADC de Goma e pede à Monusco que entregue os soldados congoleses que se refugiaram nas suas posições aquando da queda da cidade.
Para Josué Wallah, especialista congolês em segurança, estas exigências não têm fundamento. "Os soldados das FARDC nas mãos da Monusco devem ser protegidos de acordo com o direito humanitário internacional. No que diz respeito à SADC, o M23 não tem o direito de assediar as forças internacionais legalmente presentes em solo congolês", defende.
Medo entre a população
Em Goma, estes acontecimentos estão a reacender o medo entre a população. Grace, uma jovem empresária, descreve um clima de incerteza crescente: "Estamos novamente em dificuldades porque vai haver mais deslocações da população nas províncias, enquanto a situação humanitária continua a deteriorar-se."
Estas tensões surgem numa altura em que as negociações diplomáticas prosseguem em Doha, no Qatar.
A União Africana (UA) nomeou recentemente o Presidente togolês, Faure Gnassingbé, como novo mediador do conflito, dando uma ténue esperança de apaziguamento a uma região marcada por anos de guerra.