Taxas aduaneiras dos EUA não terão grande impacto nos PALOP
8 de abril de 2025Em entrevista à DW África, o especialista angolano Nataniel Fernandes fala mesmo da necessidade de um novo equílibrio mundial.
Para o economista, a desvalorização do dólar que se prevê é intencional. O Presidente dos EUA, Donald Trump, pretenderia impulsionar a produção norte-americana, mas terá consequências mundiais.
DW África: Que consequências poderão ter a tarifas dos EUA para os PALOP?
Nataniel Fernandes (NF): Os impactos diretos não serão grandes. Eu não vejo os países africanos de expressão portuguesa ou a maior parte dos países africanos como grandes exportadores para os Estados Unidos da América. Os EUA não têm um impacto na nossa balança comercial que seja importante em termos de exportação, de receitas ligadas à exportação. No entanto, em termos indiretos, eu penso que no mundo, devido à globalização, os impactos irão afetar a Angola e os países africanos de certeza.
DW África: E há consequências indiretas?
NF: Isso tem muito a ver com as dificuldades que o comércio mundial irá sentir com essas tarifas. Essas tarifas vêm mudar, de certa forma, a ordem económica, financeira e comercial que o mundo tinha. Com essas medidas de Trump, aquilo que nós percebíamos sobre a ordem economica, sobretudo aquela ligada a Bretton Woods e o dólar como uma moeda de referência mundial, começa a perder. E nós, no mundo, precisamos encontrar um outro equilíbrio que não seja este.
DW África: Há um entendimento de que o endurecimento das taxas pode significar uma apreciação real da taxa do câmbio e uma certa desvalorização do dólar. Isso se aplicaria também aos PALOP?
NF: Esses são os impactos indiretos que estava a referir, não só em relação ao dólar. Eu acho que é pretensão americana, de certa forma, desvalorizar o dólar, porque é esta visão, pelo menos que eu percebo, que Trump tem para que possa retomar o setor secundário, passar a ter uma indústria mais forte, passar a produzir as coisas dentro da América e passar a exportar, tal como faz a China.
Mas eu penso que isso não é algo que se faça por decreto, nem mesmo com essa alteração das taxas comerciais e aduaneiras. Se na América fosse fácil produzir barato, as indústrias não teriam saído da América para produzir fora da América. Isso não se vai mudar só porque se alteram as tarifas. Mas a inflação não será só na América, será um pouco por esse mundo afora. E essa inflação que irá produzir no mundo irá afetar os países africanos, irá afetar Angola e, de uma certa forma, irá afetar quase todos os países.
DW África: O endurecimento generalizado das taxas norte-americanas vai obrigar os africanos a diversificarem mais as parcerias no campo comercial?
NF: É um alerta para nós diversificarmos. Estarmos vulneráveis a um só parceiro é sempre complicado. No caso de Angola, o maior parceiro é a China. E Angola tem estado a fazer um esforço de diversificar os parceiros, quer seja em termos de financiamento, quer seja em termos de projetos, de investimento e por aí fora. Temos como parceiros comerciais mais importantes a Europa e a China e ainda assim precisamos diversificar. Estar a meter os ovos todos no mesmo local é sempre complicado. E essa subida das tarifas que Donald Trumpfaz cria aqui um alerta da importância e da necessidade que os países africanos têm de diversificar.