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Tarifas de Trump já em vigor afetam exportações de África

Martina Schwikowski
9 de abril de 2025

As novas taxas alfandegárias impostas pelo Presidente dos EUA às exportações africanas já estão a provocar consequências económicas em todo o continente. Países preparam resposta face às incertezas da guerra comercial.

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Trabalhadora em fábrica de têxteis em Maseru, Lesoto
O Lesoto receia o pior para a indústria têxtil depois de Donald Trump ter imposto direitos aduaneiros de 50% sobre as importaçõesFoto: ROBERTA CIUCCIO/AFP

As pesadas taxas alfandegárias anunciadas na semana passada pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, estão a abalar os laços comerciais entre Washington e vários países africanos e suscitaram preocupações em todo o continente.

Entre os países africanos mais afetados pelos direitos aduaneiros encontra-se o Lesoto, um pequeno reino montanhoso totalmente rodeado pela África do Sul.

O Lesoto, um importante exportador de têxteis, enfrenta agora uma taxa de 50% sobre as suas exportações para os EUA - a mais elevada no âmbito das novas medidas comerciais globais aplicadas por Donald Trump.

Lesoto receia consequências comerciais

O ministro do Comércio do Lesoto, Mokhethi Shelile, disse à DW que esta taxa elevada "não se baseia em factos no terreno" e que o governo está a tentar esclarecer a situação com Washington.

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O ministro explicou ainda que há cerca de 11 fábricas que fornecem o mercado americano e que empregam mais de 12 mil pessoas, o que representa cerca de 42% do emprego total na indústria têxtil do Lesoto.

As fábricas de vestuário do Lesoto produziram calças de ganga para grandes marcas americanas como a Levi's e a Wrangler. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Lesoto, a seguir à África do Sul.

Exportações de veículos da África do Sul afetadas

As tarifas americanas também afectaram o mercado de ações da África do Sul e enfraqueceram o rand, a moeda nacional.

O analista Daniel Silke, diretor da Political Futures Consultancy, sediada na Cidade do Cabo, fala num impacto setorial no país. "Os direitos aduaneiros para a África do Sul, embora não tenham um efeito dramático no Produto Interno Bruto (PIB) geral do país, terão um efeito dramático em indústrias selecionadas, que são as mais afetadas. Por outras palavras, o setor agroindustrial e o setor da exportação de veículos", diz.

As taxas de 30% podem não ter impacto no PIB da África do Sul, mas afetarão muito o setor automóvel. "Estes setores são contribuintes regionais para o nosso PIB, tanto no Cabo Ocidental como no Cabo Oriental. São os dois setores mais susceptíveis de serem afetados, nos quais poderá haver perdas de postos de trabalho, em especial na indústria de exportação de automóveis, em que cerca de 10% dos veículos da África do Sul são exportados para o mercado dos EUA", explica Silke.

A África do Sul vai procurar novos mercados para as exportações agrícolas, mas o vinho e os produtos frescos vão sentir o impacto inicial. A Associação de Produtores de Citrinos da África Austral também avisou que as novas tarifas podem pôr em risco 35 mil empregos relacionados com os citrinos no país.

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AGOA prejudicado por taxas

As tarifas americanas anulam efetivamente a Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA), um programa que fornece aos países elegíveis da região acesso isento de tarifas aos mercados dos EUA.

O Quénia também exporta vestuário para os EUA, mas Washington impôs uma tarifa mais baixa de 10%, o que significa que a sua economia não será tão duramente atingida como a de outros países.

O Gana, a Etiópia, a Tanzânia, o Uganda, o Senegal e a Libéria também se encontram entre os países cujas exportações para os EUA estarão sujeitas ao direito de base de 10%.

O analista Daniel Silke questiona a vitalidade do AGOA perante este cenário. "Ainda não se sabe se o AGOA está morto e enterrado, eu diria certamente que os direitos aduaneiros se sobrepõem aos princípios do AGOA e, por conseguinte, a única opção da África do Sul poderá ser renegociar um acordo comercial bilateral com os EUA", conclui.

À lupa: O que é o AGOA, o programa comercial EUA-África?

África procura novos mercados

Com uma economia diversificada e a China como principal parceiro, a África do Sul pode agora procurar novos mercados para além dos Estados Unidos.

A África do Sul e outros países não só terão de operar mais estreitamente com a China e outros países, como também terão potencialmente de aproximar politicamente estes países e, provavelmente, minar exatamente o que a administração Trump pretende dos governos estrangeiros.

As consequências políticas, que estão profundamente ligadas através da economia, serão de grande alcance e podem ser precisamente o que não se pretende de Washington.

Kako Nubukpo, economista e antigo ministro do Togo, avisa que as tarifas iriam afetar as nações africanas que já sofrem de dificuldades políticas. O economista defende que "os países africanos devem promover as suas próprias cadeias de valor nacionais e regionais" como amortecedores das tarifas.

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