Sudão do Sul à beira de um colapso humanitário
22 de março de 2025O Sudão do Sul está envolto num manto de incertezas. Há um sério risco de a mais nova nação do mundo mergulhar numa nova guerra civil, rasgando o acordo de paz de 2018, que pôs fim a uma guerra de cinco anos entre as forças leais ao Presidente Salva Kiir e ao seu rival, Riek Machar.
As tensões entre Salva Kiir e o seu primeiro vice-presidente, Riek Machar, são fraturantes. Há semanas, mais de 20 aliados de Machar foram detidos, incluindo altos funcionários governamentais e militares. O Presidente também tem feito mudanças no executivo e na segurança. Machar considera estas medidas uma violação do acordo de 2018.
Em entrevista à DW, Richard Orengo, Diretor Nacional do Comité Internacional de Resgate (IRC), no Sudão do Sul, relata que estas divergências "pioram a tensão”, levando a oposição "a pedir ao IGAD (Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento), para a evacuação do vice-presidente do país. Então, o que temos visto é o escalar da situação política”.
Nas últimas semanas, o nordeste do país tem sido palco de confrontos entre as forças leais a Kiir e Machar. Se esta tensão não for mitigada a tempo pela comunidade internacional e os países vizinhos, alerta Orengo que "a situação no Sudão do Sul poderá muito rapidamente escalar para um conflito, o que poderá piorar a situação humanitária no país".
Algumas chancelarias ocidentais predispuseram-se a mediar o conflito no Sudão do Sul, mas, até à data, ainda não há indicações de um possível desanuviamento da situação.
Crise humanitária
Enquanto isso, várias organizações internacionais de apoio humanitário mostram preocupação com o aumento da vaga de deslocados devido à escalada da violência no país.
A situação agrava-se ainda pelo facto de o Sudão do Sul ser um porto seguro para os refugiados vindos dos países vizinhos, com destaque para o Sudão, que está em guerra há mais de dois anos.
E se o vizinho Sudão do Sul país entrar num novo conflito, "as pessoas não terão para onde ir, porque, por enquanto, o Sudão do Sul, apesar das mais de quatro milhões de pessoas dependentes de apoio humanitário, é um abrigo seguro para aqueles que estão a fugir da pior crise humanitária no Sudão”, adverte o Diretor Nacional da IRC.
Corte do financiamento americano
As Nações Unidas estimam que, desde fevereiro, mais de 50.000 pessoas fugiram das suas casas devido aos confrontos, principalmente nas regiões do Alto Nilo e de Nassir. Por isso, Orengo afirma que o país precisa de apoio internacional para ajudar os deslocados.
No entanto, com os cortes da ajuda humanitária pelos Estados Unidos, o futuro é sombrio.
"Sem financiamento, como organização, vamos fechar alguns dos nossos serviços críticos. Especialmente, estamos preocupados com os nossos serviços sanitários. Temos mais de 56 centros de estabilização nutricional, onde damos suplementos nutricionais às crianças. Se fecharmos estes centros, estas crianças vão morrer”, lamenta Richard Orengo.
Além disso, o especialista alerta que muitos serviços sanitários, o abastecimento de água potável e o apoio alimentar estão em risco de serem interrompidos devido ao corte do financiamento americano. E consequentemente, "pessoas morrerão por causa da falta destes serviços. Portanto, este corte de fundos dos americanos é crítico e é uma ameaça para garantir que as organizações continuem a salvar vidas, disse.
Na semana passada, no campo de refugiados de Mabani, registou-se um protesto devido à falta de água e comida. O Diretor Nacional da IRC teme dias difíceis para os assistentes humanitários.