Solução à "El Chapo" para os protestos: "Jorrar sangue"?
24 de março de 2025O Governo de Daniel Chapo já deixou claro que não dará tréguas a quem discordar de si como, por exemplo, os naparamas.
Esta segunda-feira (24.02), num dos seus primeiros discursos públicos como estadista, em Pemba, Chapo deixou o seu povo boquiaberto com o seu discurso quando falava sobre a necessidade de "defender a pátria" das manifestações.
"Aqui em Cabo Delgado, mesmo se for para jorrarmos sangue para defender esta pátria contra as manifestações, vamos jorrar sangue. Vamos combater o terrorismo, vamos combater os naparamas e vamos combater as manifestações", afirmou.
O estadista sinaliza uma governação à moda "El Chapo", a ferro e fogo. As promessas de derramamento de sangue de Daniel Chapo não apenas afrontam o povo, como ferem a Constituição da República, que o próprio jurou respeitar aquando da sua investidura como Presidente. É que a Lei Mãe consagra o direito à manifestação no artigo 51, lembra o académico Muhamad Yassine.
"É o poder do uso da força bruta que não coincide com a cautela que um Presidente da República deveria ter no âmbito dos seus pronunciamentos", acusa.
E Yassine questiona: "O que não consigo perceber é: qual é o sangue dos moçambicanos que quer derramar? Dos moçambicanos que diz que o elegeram? Dos moçambicanos que, por norma, estão ali a servir-lhes? Ou dos moçambicanos que ele não consegue entender as motivações?"
Chapo é "sanguinário"
O principal opositor de Chapo, que mobilizou as inéditas manifestações contra a fraude eleitoral e má governação que paralizaram o país após as eleições de 9 de outubro, apelidou-o de "sanguinário". Venâncio Mondlane pediu a populares para não se deixarem assustar por "pessoas desesperadas".
"Eu tenho o direito de tirar a vida de alguém? Você tem o direiro de tirar a vida a alguém? A nossa Constituição diz que a vida é um direito fundamental. É por isso que, em Moçambique, não há pena de morte. Não há o direito de ninguém derramar sangue me nome de o que quer que seja. E a manifestação, desde que não seja para destruir bens públicos, a Constituição diz que é legal".
E nas redes sociais, o povo não perdoa o novo PR e escreve: "tentou falar sem cábula e saiu aquilo que vocês ouviram".
Mas como diz o adágio popular "errar é humano". Quereria o estadista dizer vandalismo ou distúrbios em vez de manifestações? Sobre uma eventual infelicidade discursiva, o académico Muhamad Yassine prefere relativizá-la destacando o que considera ser uma caraterística de Chapo.
Chapo tem "uma qualidade agressiva"
"Até podia dar espaço para fazer uma interpretação diferente daquilo que ele disse, mas não podemos esquecer que o Presidente é um estadista e que tem um assessor de imprensa. A diferença é que Chapo, ao falar ontem sem nada escrito, provou uma qualidade que ele tem: uma qualidade agressiva", diz o académico.
Reagindo, o Presidente da República repudiou o que considera ser manipulação de partes do seu discurso. Chapo entende que há objetivo de influenciar negativamente a opinião pública.
"Nós nos referimos tanto antes, como depois, das manifestações violentas, manifestações ilegais e manifestações criminosas", esclareceu num comunicado esta terça-feira.
Só que o novo Presidente de Moçambique é licenciado em Direito, o que para os seus críticos torna o seu discurso imperdoável.
"Não estamos a falar do (antigo) Presidente Filipe Nyusi, em que tudo era 'meme'. Estamos a falar de um jurista. Estamos a ter problemas sérios em termos de paz em Moçambique. E está a dizer isso em Cabo Delgado, uma província que há muitos anos está a passar por uma guerra não declarada. Então, em vez de amainar a situação de Cabo Delgado, está a piorar o entendimento de que tudo se resolve à força", conclui Muhamad Yassine.
Na rua, o povo espera um pedido de desculpas do novo inquilino da Ponta Vermelha.