RENAMO: Regresso de Novinte “salvará” Ossufo Momade?
15 de maio de 2025O então autarca da cidade de Nacala, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Raúl Novinte, está de volta à casa, depois de um ano fora da formação política de que fez parte. Abandonou o partido em abril do ano passado, após ter sido impedido de participar no Congresso da RENAMO, na Zambézia, com o então candidato interno Venâncio Mondlane.
"Fiquei fora do meu partido, mas ainda me considerando membro. Eu digo que nunca saí da RENAMO, porque nunca me filiei noutro outro partido", afirmou.
Raúl Novinte filiou-se, sim, na Coligação Aliança Democrática (CAD), que suportou temporariamente a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, mas afastou-se definitivamente da arena política quando a coligação foi eliminada da corrida eleitoral, tendo Mondlane se associado ao Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS).
O político diz que volta para viver a solução dos problemas. Aliás, é mesmo a mediação dos problemas que, segundo ele, foram-lhe confiados pelo líder do partido, Ossufo Momade. Mas muitos membros estão relutantes em seguir Novinte e exigem a "cabeça do líder”:
Novinte reconhece que a missão "não é tão fácil"!, mas admite que é possível. "Acredite que depois de eu ter tomado a iniciativa de retomar a minha filiação, antes de eu falar com o presidente eu teria reunido com os membros do partido a nível do distrito de Nacala, mas todos eles eram unânimes em exigir a saída do presidente Ossufo Momade", revelou. "Mas eu tentei explicar-lhes que isso deve acontecer quando todos estamos lá. Então, eu não comecei agora [a mobilização] depois do presidente me falar", adiantou.
Cedência de Momade?
Novinte ainda não informou a Ossufo Momade que os membros impõem a sua renúncia como condição para regressarem. Por outro lado, é evidente que Momade está ciente dessa exigência, tendo dito que diz acredita numa possível cedência por parte do atual presidente do partido.
"Ele, na verdade, já tinha marcado um Conselho Nacional do partido, mas foi cancelado. Isso faz-me entender que o presidente já quer da sua livre vontade deixar o seu cargo à disposição, para aqueles que querem alavancar o partido", afirmou. "Ele tem noção disso", reforçou.
O que deve ser feito para que a RENAMO volte a ser mais atuante no panorama político nacional? É a pergunta que fizemos a Raúl Novinte. "A RENAMO é o partido mais estruturado no país, depois da FRELIMO, em termos de infraestrutura e imagem", respondeu.
"Havendo uma purificação da liderança e reestruturação do partido que possa valorizar todos os quadros, eu acredito que o partido não precisará nem de três meses para [voltar a] crescer", admitiu.
O político aponta figuras como os antigos secretários-gerais Manuel Bissopo e André Magibiri, Manuel de Araújo, Elias Dhlakama, Alfredo Magumisse e Ivone Soares como possíveis membros mais indicados para a sucessão de Ossufo Momade e consequentes resultados triunfantes do partido.
Deixar a RENAMO
Wilson Nicaquela, analista e diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio, entende que os problemas da RENAMO em Nacala e no país em geral estão para além da capacidade de mediação de Novinte. "O regresso de Raúl Novinte não é nenhuma novidade para a RENAMO e tanto para a própria zona em que retorna [Nacala]", explicou.
O académico considera que "naquela zona é característico as pessoas se zangarem e experimentarem distanciar-se das suas agremiações políticas" e que "muito rapidamente retornam" à formação de que faziam parte.
Para Nicaquela, se Ossufo Momade não deixar a gestão do partido, a RENAMO continuará a ser um partido sem relevância no panorama político nacional. "Enquanto o Ossufo não reconhecer que é uma figura para além da política nacional, ou seja, uma figura ultrapassada no contexto que Moçambique vive atualmente, então nós continuaremos a ter uma RENAMO da periferia, nominal e não atuante", avisou, referindo-se à possibilidade de o partido perder militantes.
"E temos de reconhecer que o número dos deputados que ela conseguiu [mobilizar] nas últimas eleições foi fruto de acordos políticos", precisou. Para o analista, a RENAMO "corria o risco de não ter sequer 20 deputados na Assembleia da República".