RENAMO: Ex-guerrilheiros denunciam violência policial
30 de maio de 2025Os ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) aguardam a chegada dos colegas de outros pontos do país para traçarem uma estratégia e enfrentarem a liderança indesejada do partido.
A medida surge depois da intervenção da polícia, na quarta-feira (28.05), contra os ex-guerrilheiros, que tomaram a sede do partido e o gabinete do líder.
Em entrevista à DW, o porta-voz dos ex-guerrilheiros, desapontado, qualifica o líder da segunda maior força da oposição como "traidor", depois da libertação de ex-guerrilheiros na noite de ontem. João Machava, que diz que "Ossufo Momade jamais conseguirá seguir os caminhos da RENAMO", fala em cinco feridos pela polícia nos tumultos e denuncia outros abusos supostamente perpetrados pela Polícia da República de Moçambique contra os seus colegas, na 18.ª esquadra.
Machava começa por acusar a polícia de ter detido ilegalmente os antigos combatentesda Resistência Nacional Moçambicana.
DW África: Em que condições estiveram detidos os ex-guerrilheiros da RENAMO?
João Machava (JM): Eles estiveram detidos injustamente. Quando chegaram à esquadra, primeiro foram deixados ao relento. Depois, foram conduzidos às celas para pernoitar e, quando amanheceu ontem, saiu uma brigada para a sede nacional para recuperar os pertences que lá ficaram. Só que houve muito saque por parte da polícia: Faltava dinheiro, comida, telefones, computadores. Depois, foram orientados, ontem à noite, para esta manhã irem ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo.
Mas estiveram em péssimas condições, porque, desde que foram presos, anteontem, até à noite de ontem, nem água para beber lhes foi dada, nem comida, nem nada. Foram tratados como animais.
DW África: Inicialmente, falou-se em dois feridos durante os tumultos. Na realidade, quantos feridos houve?
JM: São cinco feridos. Um deles está em estado muito grave e está [internado] no Hospital Central de Maputo.
DW África: Foram feridos pela polícia?
JM: Foram feridos pela polícia, sim, porque a polícia usou balas verdadeiras.
DW África: Como é que os ex-guerrilheiros da RENAMO veem a intervenção policial de quarta-feira?
JM: Do que sei, a polícia aproxima-se e intervém quando há tumultos. Quando não há tumultos, deve haver mandado de busca e captura. Sem esse mandado, tem de haver alguém que a solicite. Eu avalio que quem solicitou a intervenção da polícia foi Ossufo Momade.
DW África: Vê isso como uma traição por parte de Ossufo Momade aos guerrilheiros, que tanto serviram o partido?
JM: A traição não é de hoje. Eu venho dizendo, há muito tempo, que Ossufo Momade é um traidor. Ele está a provar que, de facto, é traidor. O Ossufo Momade jamais conseguirá seguir os caminhos da RENAMO.
DW África: O facto de terem tomado edifícios que não são da vossa pertença não é ilegal, a seu ver?
JM: Eu sou membro da RENAMO, sou desmobilizado da RENAMO. Lutei para que a RENAMO estivesse nas condições em que está — não falo das condições eleitorais, mas da sua existência e estrutura. Então, a sede nacional é a minha casa.
Nós fomos para lá porque estávamos na nossa casa, exigíamos que o nosso "pai" viesse ter connosco. Como ele não se aproximava, nós é que fomos ter com ele, para ver se nos atende. Por isso ocupámos o gabinete. Do gabinete pensávamos que ele se preocuparia em vir atender-nos. Mas não foi isso que aconteceu.
Ele só se preocupou em chamar a polícia — a mesma polícia que ontem [reclamava] que maltrata os membros da RENAMO, é a mesma polícia que [convida] a bel-prazer, para vir maltratar, balear e até matar membros da RENAMO na sua própria sede nacional.
DW África: E agora, depois de toda esta situação, que alguns qualificam como humilhante contra os ex-guerrilheiros, o que pretendem fazer em relação ao vosso partido?
JM: Aqueles colegas que estavam na 18.ª Esquadra [da Polícia da República de Moçambique, na cidade de Maputo], foram orientados ontem pelo comandante da cidade a irem a tribunal. Neste momento em que falo, ainda estão a aguardar no tribunal. Depois de regressarem, vamos reunir-nos. Ainda há colegasa chegar das províncias e vamos, juntos, desenharmos uma outra estratégia sobre o que fazer a seguir.