Sahel: Mais soberania através da extração de recursos?
4 de abril de 2025O Níger quer dinamizar a economia e diversificar a indústria mineira, explorando cobre no deserto perto de Agadez. O país concedeu uma licença de exploração a uma empresa local, a Minieres de l'Air Cominair SA.
Para Ulf Laessing, responsável pelo programa regional do Sahel da Fundação alemã Konrad Adenauer no Mali, a concessão faz parte de uma estratégia para reduzir a dependência de empresas estrangeiras na extração de minerais. "É impossível dizer qual será o sucesso desta iniciativa", avança.
Mas Laessing relata as circunstâncias: "A mina de cobre está situada no norte do Níger, não muito longe da Líbia, onde a situação de segurança é muito má. Esta é uma tendência do Governo - semelhante à do Burkina Faso e do Mali - para confiar mais nas suas próprias empresas e não nas empresas ocidentais, mas é impossível dizer até que ponto a estratégia será bem sucedida".
Os operadores da mina de Moradi esperam produzir uma média de 2.700 toneladas de cobre por ano, durante um período de dez anos. O Governo espera que a mina crie centenas de novos postos de trabalho e um negócio lucrativo.
Além de cobre, também lítio - componente essencial de muitas baterias - deverá ser extraído em Dannet, igualmente perto de Agadez. A empresa Comirex SA deverá produzir 300 toneladas por ano.
Só dificuldades?
O Governo nigerino detém uma participação de 25% na mina de cobre de Cominair e de 40% na Comirex, a fim de assegurar o controlo do Estado sobre estes recursos.
Durante décadas, o Níger foi também um importante produtor de urânio. O país tem duas minas, de onde foi extraído em 2022 cerca de cinco por cento do urânio mundial. No entanto, a produção foi interrompida desde o golpe militar de 2023, lembra Ulf Laessing: "A fronteira com o Benim está fechada e o urânio só pode ser exportado através do Benim. O porto de Cotonou tem autorização para o fazer, nenhum outro porto da África Ocidental tem".
Para Laessing "isto mostra a realidade no terreno: o Governo quer fazer muito mais por si próprio, em vez de trabalhar com empresas francesas ou outras empresas ocidentais a quem foram retiradas as licenças para explorar urânio. Mas isso não significa que a produção local seja mais bem sucedida."
Isto porque há falta de experiência, de qualificações técnicas e de equipamento para a exploração mineira. E o financiamento dos projetos mineiros da própria empresa também não é transparente, segundo o responsável pelo programa do Sahel da Fundação Konrad Adenauer no Mali.
Rumo anti-ocidental
A junta militar revogou recentemente a licença da empresa nuclear francesa Orano para a extração de urânio - após 50 anos de operação no Níger. E a empresa canadiana GoviEX também já não tem licença para explorar a mina de urânio de Madaoulea.
Níger, Mali e Burkina Faso estão a seguir um rumo anti-ocidental e a procurar novos aliados. A Rússia quer lucrar com a extração de urânio através da sua empresa nuclear Rosatom. E o Níger está a negociar a venda de urânio com o Irão.
"Há muito que existe um forte desejo de diversificação das relações internacionais" nos três países do Sahel, diz Seidik Abba, diretor do CIRES, grupo de reflexão sobre o Sahel, com sede em Paris: "Mesmo após o fim da era colonial, as relações económicas com o Ocidente nunca estiveram em pé de igualdade".
O especialista lembra que "as condições eram ditadas unilateralmente pelos países ocidentais. Por exemplo, eram eles que fixavam os preços das matérias-primas que compravam aos países africanos. E isso era e é visto como injusto em África".