Aproximação entre Camará e Sissoco: "Uma decisão arriscada"
10 de julho de 2025Umaro Sissoco Embaló e Braima Camará, figuras oriundas do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), voltaram as costas um ao outro no ano passado.
A rotura ocorreu depois de um grupo de altos dirigentes do MADEM-G15, apoiantes de Embaló, ter realizado um congresso extraordinário, à revelia do líder Braima Camará, elegendo Satu Camará coordenadora nacional daquela formação política.
No entanto, nos últimos dias, foram postas a circular nas redes sociais, várias fotografias e um vídeo de um encontro entre ambas as figuras, num hotel de Lisboa, durante a visita de Umaro Sissoco Embaló a Portugal.
Sissoco Embaló relatou, depois, que se dirigiu a Braima Camará como "coto" ou "irmão" e frisou a história conjunta de ambos no MADEM-G15.
"Decisão ousada, mas racional"
Em entrevista à DW, o analista político Beto Enfande considera que Camará assumiu um risco ao encontrar-se com Sissoco. "É uma decisão ousada e arriscada, mas racional ao mesmo tempo, [se levarmos em conta] a questão da unificação e consolidação do partido. Mas não podemos esquecer da imagem de Braima Camará, há tempos, sobre o que falou de Sissoco Embaló", lembra.
Após ser afastado da liderança do Movimento para Alternância Democrática, Braima Camará acusou, em várias ocasiões, Umaro Sissoco Embaló de transformar a Guiné-Bissau numa ditadura. Acusou-a ainda de o ter humilhado e até de, alegadamente, atentar contra a sua vida.
Em 2019, Braima Camará, enquanto líder do MADEM-G15, foi uma das figuras determinantes para convencer o eleitorado a eleger Umaro Sissoco Embaló como Presidente da República.
"O próprio Umaro Sissoco Embaló sabe como conseguiu chegar à Presidência da República. Braima Camará foi uma peça fundamental para ele chegar onde chegou. Braima Camará, na minha opinião, talvez esteja a buscar a forma de estar mais perto do poder para se consolidar e lutar para recuperar o partido", conclui Enfande.
Reconciliação circunstancial?
Para o analista político Luís Vaz Martins, "uma reconciliação desta natureza pode ser circunstancial. Ambas as partes, pelo menos a parte prejudicada [de Braima Camará] poderá estar aqui a espreitar uma oportunidade para desferir um golpe à outra parte".
Mas de acordo com o analista, a reaproximação das duas figuras poderá não ter os efeitos desejados por Sissoco Embaló, que lutará em novembro para uma reeleição e um segundo mandato à testa do país.
"A eventual reconciliação não terá impacto no terreno, porque a esmagadora maioria dos militantes do MADEM-G15 sentiram-se injuriados, ofendidos e prejudicados com a intervenção no partido, por parte de Umaro Sissoco Embaló", considera.