RDC: Mortos e feridos na tomada de Bukavu pelo M23
18 de fevereiro de 2025Cerca de quinze corpos sem vida, abandonados em vários pontos da principal cidade da região de Kivu do Sul foram recolhidos pela Cruz Vermelha. Segundo a organização, são cadáveres de pessoas mortas a tiro em circunstâncias ainda por explicar, mas também de saqueadores linchados e queimados vivos, na sequência do caos que se seguiu à entrada do M23 em Bukavu, na sexta-feira (14.02).
Muitos comerciantes e empresários foram vítimas de pilhagens desde sábado (15.02), quando a cidade foi abandonada pelas autoridades militares, policiais e políticas de Kivu do Sul: "Estou muito nervoso, perdi tudo. Aqui, nas montras, roubaram muitos telemóveis. Arrombaram mais de 50 portas... crianças de rua, os nossos soldados. Estamos mesmo desiludidos," afirma um jovem comerciante.
O armazém do Programa Alimentar Mundial e da UNICEF está vazio. Toneladas de farinha, feijão, medicamentos e outros equipamentos médicos desapareceram.
"Isto aconteceu após a deserção das nossas autoridades. Entrámos num estado de psicose, que levou a que jovens e mulheres se mobilizassem para cometer crimes e saquear casas e lojas. Isto é um reflexo da miséria", relata Hypocrate Marume, membro da sociedade civil em Bukavu.
Tensão persiste
Escolas, bancos e muitos estabelecimentos comerciais continuam fechados em Bukavu, enquanto edifícios saqueados e escombros queimados refletem a tensão que persiste. Ainda assim, os habitantes dizem sentir-se "livres e em paz" depois de o grupo rebelde M23 ter tomado o controlo da cidade, pondo fim a vários dias de tiroteio e pilhagens.
"Já passaram três dias desde que o M23 chegou aqui. Não nos incomodam, deixam-nos ir para onde quisermos. A única coisa que reprovam é o saque de lojas", disse um habitante.
"Agora, sinto-me livre, já não há tiros e temos paz. Podemos ir onde quisermos, temos paz," acrescentou outro cidadão.
"Dizem que somos vizinhos e que vamos viver bem juntos. Vemos o trânsito a retomar, os barcos a partir e outras atividades a recomeçar," afirmou outro habitante.
Enquanto Bukavu tenta reerguer-se sob o controlo dos rebeldes, a ONU acusa o M23 de execuções sumárias de crianças e alerta para a acentuada deterioração da situação no leste da RDC, "resultando em graves violações e abusos dos direitos humanos".
Por sua vez, o Governo da República Democrática do Congo critica a "inação" do Conselho de Segurança da ONU na sequência da tomada da cidade de Bukavu.
Diplomacia
Entretanto, o Presidente da República de Angola, João Lourenço, reúne-se esta terça-feira (18.02) com o seu homólogo congolês, Félix Tshisekedi. Recorde-se que o chefe de Estado angolano, envolvido em anos de mediação infrutífera entre Tshisekedi e o Presidente ruandês, Paul Kagame, assumiu a presidência rotativa da União Africana no sábado.
Segundo o ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António, os dois chefes de Estado conversaram sobre o evoluir da situação de segurança na região leste e os próximos passos a dar no plano político-diplomático.
"Como sabemos é uma situação que preocupa o continente, depois da reunião do Conselho de Paz e Segurança realizada em Adis Abeba [no contexto da 38.ª cimeira da União Africana] justamente dedicada a este confito, era necessário vermos os próximos passos relativamente à procura de soluções para esta situação tensa para o continente e para quem tem responsabilidade de velar pelos destinos da União Africana", disse aos jornalistas.