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Raptos e ataques ameaçam reconstrução de Cabo Delgado

DW (Deutsche Welle)
20 de julho de 2025

Raptos de viajantes por grupos terroristas ao longo da Estrada Nacional 380, em Cabo Delgado, estão a comprometer a reconstrução da região e a colocar em risco a ajuda humanitária. Empresários são os principais alvos.

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EN380 é uma das estradas usadas pelos terroristas para se movimentarem e atacarem transeuntes estratégicos
Setor empresarial exige ao Governo o reforço da presença militar e a reintrodução de escoltas armadas na EN380Foto: DW

Os ataques terroristas contra viaturas de passageiros e de carga tornaram-se frequentes, particularmente entre a sede distrital de Macomia e a localidade de Awasse, em Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.

Em Mueda, Lucas Manuel, o representante local do setor privado, alerta que os agentes económicos estão particularmente expostos.

"Nos últimos três meses, a situação de sequestros acontece duas a três vezes por semana, sendo o distrito de Mueda o que apresenta o maior número de empresários afetados por esta situação", frisou durante uma reunião empresarial a que a DW teve acesso.

Desde o início do ano, há registo de 104 viaturas atacadas, entre carros particulares, transportes de passageiros e camiões de carga. Os ocupantes foram sequestrados e os raptores exigiram resgates em troca da libertação.

Para o presidente do Conselho Empresarial Provincial de Cabo Delgado, Mahamudo Irache, trata-se de uma verdadeira tragédia: "Isso aterroriza, porque o resgate é caro. Os valores ali variam de 200 a 350 mil meticais [o equivalente a 2.690 e 4.700 euros, respetivamente]. Se você não tem esse dinheiro, a viatura é transformada em cinzas".

Distrito de Macomia, Cabo Delgado
O clima de insegurança na região poderá travar não apenas a retoma económica, mas também as operações de ajuda humanitária, alerta a sociedade civilFoto: DW

Cássimo Salimo, presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários (ATROCADE) na província de Cabo Delgado, também aponta para os prejuízos sofridos e apela à intervenção do Estado.

"É um assunto muito lamentável, pois os nossos transportadores estão a queixar-se, e de facto isso acontece”, afirmou. "Pedimos que o Governo nos ajude nesse contexto, porque se você quiser viajar não consegue passar [na estrada Macomia–Mocímboa da Praia]", alertou.

O clima de insegurança, segundo o académico e ativista social Aly Caetano, poderá travar não apenas a retoma económica, mas também as operações de ajuda humanitária, num momento em que várias comunidades deslocadas regressaram a zonas afetadas pelo terrorismo.

"Isso pode alastrar-se para as organizações não-governamentais e paralisar as atividades [de assistência humanitária] por causa do medo. Já há restrições em vários distritos de Cabo Delgado, onde as organizações não operam. E esse nível de insegurança vai aumentar as restrições, impactando a resposta humanitária para os deslocados. Repare que parte desses empresários também fornece mantimentos para algumas das entidades de assistência humanitária”, sublinhou.

Perante o cenário, o setor empresarial exige ao Governo o reforço da presença militar e a reintrodução de escoltas armadas na EN380, com especial atenção ao segmento Macomia–Mocímboa da Praia.

"Retomando as escoltas, obviamente os empresários sentir-se-iam seguros. Depois, o Governo deveria fazer mais esforço para eliminar a insurgência na nossa região. Como são áreas identificadas, onde sempre têm acontecido os atos de rapto, seria necessário colocar uma posição permanente nesta via”, sugeriu Mahamudo Irache. 

Como então? Luta antiterrorismo em Cabo Delgado corre bem?