Raptos e ataques ameaçam reconstrução de Cabo Delgado
20 de julho de 2025Os ataques terroristas contra viaturas de passageiros e de carga tornaram-se frequentes, particularmente entre a sede distrital de Macomia e a localidade de Awasse, em Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.
Em Mueda, Lucas Manuel, o representante local do setor privado, alerta que os agentes económicos estão particularmente expostos.
"Nos últimos três meses, a situação de sequestros acontece duas a três vezes por semana, sendo o distrito de Mueda o que apresenta o maior número de empresários afetados por esta situação", frisou durante uma reunião empresarial a que a DW teve acesso.
Desde o início do ano, há registo de 104 viaturas atacadas, entre carros particulares, transportes de passageiros e camiões de carga. Os ocupantes foram sequestrados e os raptores exigiram resgates em troca da libertação.
Para o presidente do Conselho Empresarial Provincial de Cabo Delgado, Mahamudo Irache, trata-se de uma verdadeira tragédia: "Isso aterroriza, porque o resgate é caro. Os valores ali variam de 200 a 350 mil meticais [o equivalente a 2.690 e 4.700 euros, respetivamente]. Se você não tem esse dinheiro, a viatura é transformada em cinzas".
Cássimo Salimo, presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários (ATROCADE) na província de Cabo Delgado, também aponta para os prejuízos sofridos e apela à intervenção do Estado.
"É um assunto muito lamentável, pois os nossos transportadores estão a queixar-se, e de facto isso acontece”, afirmou. "Pedimos que o Governo nos ajude nesse contexto, porque se você quiser viajar não consegue passar [na estrada Macomia–Mocímboa da Praia]", alertou.
O clima de insegurança, segundo o académico e ativista social Aly Caetano, poderá travar não apenas a retoma económica, mas também as operações de ajuda humanitária, num momento em que várias comunidades deslocadas regressaram a zonas afetadas pelo terrorismo.
"Isso pode alastrar-se para as organizações não-governamentais e paralisar as atividades [de assistência humanitária] por causa do medo. Já há restrições em vários distritos de Cabo Delgado, onde as organizações não operam. E esse nível de insegurança vai aumentar as restrições, impactando a resposta humanitária para os deslocados. Repare que parte desses empresários também fornece mantimentos para algumas das entidades de assistência humanitária”, sublinhou.
Perante o cenário, o setor empresarial exige ao Governo o reforço da presença militar e a reintrodução de escoltas armadas na EN380, com especial atenção ao segmento Macomia–Mocímboa da Praia.
"Retomando as escoltas, obviamente os empresários sentir-se-iam seguros. Depois, o Governo deveria fazer mais esforço para eliminar a insurgência na nossa região. Como são áreas identificadas, onde sempre têm acontecido os atos de rapto, seria necessário colocar uma posição permanente nesta via”, sugeriu Mahamudo Irache.