Quénia trava tráfico de órgãos após reportagem da DW
20 de abril de 2025O Governo do Quénia confirmou que iria encerrar as operações de transplante de rim numa clínica que estava sob os holofotes por tráfico de órgãos.
O anúncio foi feito poucos dias depois da divulgação de uma reportagem da DW e dos órgãos de comunicação alemães Der Spiegel e ZDF sobre o hospital Mediheal no Quénia.
O que disse a reportagem?
A reportagem acompanhou os percursos de vendedores e compradores de órgãos, analisou documentos, falou com denunciantes e profissionais de saúde.
A investigação jornalística expôs uma rede internacional que explorava jovens quenianos desesperados por dinheiro, bem como pacientes idosos desesperados por um rim que lhes pudesse salvar a vida.
O correspondente da DW em Nairobi, Felix Maringa, informou que a resposta do Governo queniano foi rápida, começando com o encerramento da operação de transplante de órgãos no hospital.
"Foi criado um novo comité para investigar as práticas éticas no Hospital Mediheal, o sistema de governação e até o privilégio do cliente quando se trata de doação de rins", disse Maringa.
"Dois funcionários do Ministério da Saúde também foram suspensos", disse Maringá. Acredita-se que esses funcionários tenham interferido numa investigação de 2023 sobre o hospital.
O ministério tomou também medidas para suspender as licenças dos médicos estrangeiros, uma vez que os implicados eram do Paquistão e da Índia, acrescentou Maringa.
Tentativa frustrada de investigação
O Governo queniano divulgou um comunicado na quinta-feira (17.04), com o ministro da Saúde, Aden Duale, a comparecer perante a imprensa para anunciar formalmente as medidas.
Duale reconheceu que o Governo estava ciente das alegações contra o Hospital Mediheal, afirmando que, em dezembro de 2023, o seu ministério iniciou uma missão multidisciplinar de investigação para abordar "sérias preocupações".
Admitiu que o relatório do grupo não foi assinado por causa de "opiniões divergentes" de alguns membros do comité, e acabou também não sendo submetido oficialmente ao Ministério da Saúde para a tomada de providências.
O ministro anunciou a suspensão imediata de Maurice Wakwabubi e Everlyne Chege, dois altos funcionários do ministério.
"Esta medida é necessária para eliminar qualquer potencial conflito de interesses e para garantir que as futuras investigações prossigam de forma independente e objetiva, de acordo com as leis ", refere o comunicado do ministério.
Ministério da Saúde procura 'restaurar a confiança pública'
Duale disse que o ministério estabeleceu agora uma nova investigação. E que o ministério iria realizar "uma auditoria abrangente de todos os transplantes renais" nos últimos cinco anos.
Espera-se que o comité apresente o seu relatório no prazo de 90 dias, acrescentou Duale.
Além de suspender todas as licenças médicas estrangeiras, o Governo queniano também irá rever e auditar todos os profissionais médicos estrangeiros, exceto os da Comunidade da África Oriental.
"Quero reafirmar o compromisso inabalável do meu ministério em proteger os direitos, a segurança e a dignidade dos pacientes", disse Duale.
Acrescentou que o ministério também estava empenhado em "restaurar a ordem, a confiança pública e a fé no sistema de saúde do Quénia".