Quénia: Pelo menos 10 mortos em protestos contra o governo
8 de julho de 2025Pelo menos 10 pessoas perderam a vida nos protestos contra o Governo no Quéniana segunda-feira (07.07), segundo um comunicado divulgado pela Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Quénia (KNCHR).
A polícia fechou ao início da manhã as estradas que dão acesso à capital, Nairobi, para impedir que os manifestantes se concentrassem no centro da cidade, relatou Felix Maringa, correspondente da DW em Nairobi.
De acordo com um comunicado da polícia, mais de 560 pessoas foram detidas em todo o país durante os protestos. O comunicado, que foi divulgado após o relatório da KNCHR, estimava que também dezenas de polícias tinham ficado feridos.
Na segunda-feira, os manifestantes comemoravam as manifestações de 7 de julho, conhecidas como "Saba Saba" (que em suaíli significa sete sete), os primeiros grandes protestos no Quénia que tiveram lugar há 35 anos e que exigiam a transição de um Estado de partido único para uma democracia multipartidária. As primeiras eleições multipartidárias ocorreram em 1992.
Atualmente, os manifestantes exigem a demissão do Presidente William Ruto por alegada corrupção. Outros problemas citados pelos manifestantes incluem o elevado custo de vida, a brutalidade policial e a má governação.
Autoridades encerram várias estradas
As estradas que conduzem ao Parlamento, que foi invadido durante os protestos contra a proposta de aumento dos impostos no ano passado, e ao gabinete do Presidente, foram barricadas com arame farpado.
Os agentes da polícia também impediram a entrada de peões, veículos e bicicletas na cidade, exceto os que tinham funções essenciais.
O ministro da Função Pública, Geoffrey Ruku, pediu a todos os funcionários públicos que se apresentassem ao trabalho na segunda-feira, insistindo que as manifestações não iriam perturbar os serviços públicos.
Mas a maioria das empresas permaneceu encerrada na capital, uma vez que as pessoas não foram trabalhar na zona comercial central.
O porta-voz da polícia, Michael Muchiri, disse que, durante as manifestações, "certos indivíduos continuaram determinados a praticar atos de ilegalidade que envolveram múltiplos atos criminosos".
Gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes
Os manifestantes acenderam fogueiras e atiraram pedras contra a polícia, que disparou e atirou gás lacrimogéneo, ferindo manifestantes, de acordo com relatos.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Quénia afirmou, num relatório divulgado na noirte de segunda-feira, que muitos polícias não usavam uniformes e patrulhavam as ruas em veículos sem identificação, desafiando uma ordem judicial que pede aos polícias que sejam claramente identificados pelo seu uniforme.
"Disparam balas reais por todo o lado. A polícia está a ser usada indevidamente pelo governo, deviam pensar em quem estão a matar. Não somos animais, somos seres humanos como eles e temos de ser protegidos por eles. No entanto, são eles que nos estão a matar", disse à DW Evans Nyakwara, residente em Nairobi.
Quenianos protestam contra brutalidade policial
"Os quenianos continuaram a castigar a polícia por aquilo a que chamam mão pesada quando se trata de lidar com os manifestantes e a polícia continuou a lidar de forma muito brutal com os manifestantes", disse o correspondente da DW Felix Maringa.
"Temos a polícia a lançar gás lacrimogéneo nas habitações, temos canhões de água a descarregar água nas habitações, mas os quenianos mantiveram-se inflexíveis e continuarão nas ruas até verem concretizadas as mudanças por que clamam", acrescentou.
A última vaga de manifestações violentas no Quénia foi desencadeada por apelos à responsabilização da polícia na sequência da morte de um blogger sob custódia policial no mês passado.
Durante os protestos de 17 de junho, um agente da polícia disparou à queima-roupa sobre um civil. Em 25 de junho, pelo menos 19 pessoas foram mortas e mais de 400 ficaram feridas durante os protestos contra a brutalidade policial, que coincidiram com o aniversário de um ano das manifestações contra os aumentos de impostos propostos pelo Presidente Ruto.
No ano passado, pelo menos 60 pessoas perderam a vida nesses protestos e, apesar de Ruto ter acabado por retirar a proposta de lei fiscal, as manifestações em massa têm-se mantido.