Quénia: Geração Z questiona novo programa de emprego de Ruto
10 de junho de 2025O Presidente do Quénia, William Ruto, anunciou na semana passada um ambicioso programa para combater o desemprego jovem no país. O projeto chama-se National Youth Opportunities Towards Advancement (NYOTA) – Oportunidades Nacionais para Jovens rumo ao Progresso, em português.
O projeto pretende criar oportunidades para mais de 800 mil jovens quenianos, numa parceria com o Banco Mundial, no valor de 20 mil milhões de xelins quenianos (cerca de 135,5 milhões de euros).
O grupo alvo, são jovens quenianos entre os 18 a 29 anos e até aos 35 anos no caso das pessoas com deficiência.
"Em reconhecimento ao imenso potencial dos nossos jovens, ao seu papel crítico na economia e à sua capacidade de inovação, comprometemo-nos a conceder 5 mil milhões de xelins quenianos em subsídios" para apoiar jovens, explicou William Ruto.
"Já não confiamos nele"
Mas apesar do entusiasmo presidencial, muitos jovens da chamada Geração Z, nascidos entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000, estão céticos, tendo em conta as restrições orçamentais e o historial de promessas não cumpridas.
Risper Waithera, estudante universitária, considera o projeto irrealista. "Com as atuais restrições orçamentais do governo, não acho realista acreditar que ele possa empregar 800 mil jovens neste momento", observa.
A desconfiança não é nova. No ano passado, protestos liderados por jovens forçaram o Presidente Ruto a demitir quase todo o seu governo. Muitos quenianos, à semelhança de Lucy Njeri, já não acreditam no executivo. "O nível de confiança da Geração Z no Presidente é muito baixo. Ele já prometeu muito no passado, mas quase nada foi implementado", lembra.
Dúvidas sobre financiamento e sustentabilidade
Muitos especialistas também questionam a viabilidade financeira do projeto. "Ainda não vimos nenhuma alocação do orçamento para este programa. E os salários propostos, de 500 xelins por dia, são inferiores aos pagos na construção civil", afirma Alexander Riithi, do Instituto para a Responsabilização Social.
Riithi lembra ainda que o próprio Presidente William Ruto criticou programas semelhantes no passado, como o "Kazi Mtaani", criado pelo seu antecessor, Uhuru Kenyatta.
O projeto NYOTA surge meses depois de manifestações organizadas por jovens nas redes sociais, que levaram o governo a recuar em propostas de aumento de impostos e outras medidas impopulares.
Dos protestos à desilusão
Daniel Kimani diz que só com as manifestações em que as autoridades poderão de facto olhar para as prioridades da juventude. "Prometeram empregar 800 mil jovens, mas não creio que seja possível, porque até agora ninguém foi contratado. Esse governo só nos ouve quando vamos para as ruas. Sem isso não nos ouve", sublinha.
Apesar do apoio do Banco Mundial, o projeto NYOTA enfrenta um enorme desafio: reconquistar a confiança de uma geração que se sente ignorada. Com as eleições de 2027 no horizonte, Ruto tenta reconectar-se com o eleitorado jovem, o maior do país, considera Patricia Rodrigues, da consultora Control Risks.
"O Presidente não tem tido a melhor relação com os jovens. Desde que chegou ao poder promete muita coisa e não cumpre. E estes programas, além de caros, exigem uma credibilidade que neste momento está em falta", conclui.