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Liberdade de imprensaAngola

Qual deve ser a "arma" do jornalista angolano?

28 de março de 2025

Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) celebra 33 anos de existência. Mas a festa é em clima de polémica: PR promete dar farda e arma a jornalista que questionou sobre expansão da guerra entre M23 e RDC para Angola.

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Palästinensisch-israelische Grenze | Symbolbild Presse Israel Gaza
Foto: Jack Guez/AFP

As declarações foram feitas pelo Presidente angolano, João Lourenço, esta semana, na província da Lunda Sul. 

Na ocasião, João Lourenço disse que entregaria uma arma a jornalista da Rádio Ecclésia, Helena Israela que o questionou como Angola agiria se o conflito entre M23 e RDC chegasse as fronteiras angolanas.

A situação continua a gerar várias interpretações. Pedro Miguel, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) condena-as e mostra-se triste com os pronunciamentos do Chefe de Estado, "porque a colega eventualmente questionou olhando para a segurança do país."

Também Luísa Rogério, presidente da Comissão de Carteira e Ética de Angola constatou com tristeza e mostrou-se solidaria com a jornalista.

Luísa justifica que Angola partilha uma vasta fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), daí a importância da questão e lembrou que no jornalismo não "existem perguntas proibidas".

"As respostas é que devem ser geridas, mas todas as perguntas são válidas", argumenta. 

França 2025 | Presidente de Angola, João Lourenço
Presidente de Angola, João LourençoFoto: Ludovic Marin/AFP/Getty Images

"A função de um jornalista é perguntar"

Mas Celso Malavoloneke, ex-secretário de Estado da Comunicação Social não entende assim. Na sua conta do Facebook, o antigo governante escreveu que não via problemas na resposta do Presidente angolano, "a não ser que tudo que (ele) faz é mal-entendido".

Por sua vez, Faustino Henriques, jornalista angolano, diz que o Presidente da República (PR) devia responder nos moldes em que foi colocada a pergunta, respondendo que "Angola tem as forças de defesa e segurança em prontidão combativa".

Mas entende, por outro lado, que a jornalista devia ser mais objetiva. "Por exemplo: De que modo Angola está preparada para eventuais cenários a nível da fronteira. Mas é já consensual a ideia de que a função de um jornalista é perguntar", explica. 

Não é a primeira vez que a pergunta de um jornalista gera debate. Também em 2018, a pergunta sobre se João Lourenço estava a gostar de ser Presidente tinha gerado polémica. 

Angola | Radio Ecclésia
A jornalista que recebeu a polémica resposta do PR, Helena Israela, é colaboradora da Rádio EcclésiaFoto: José Adalberto

Mas qual deve ser a verdadeira "arma" da profissão?

"A única arma do jornalista é a caneta porque a informação é um poder", conclui Luísa Rogério. 

Este debate surge numa altura em que o Sindicato dos Jornalistas Angolanos celebra, esta sexta-feira (28.03), 33 anos de defesa da classe. E o que isso significa? 

"Significam, para mim, muita luta, momentos de altos e baixos. Houve uma altura em que os sindicalistas eram tratados como inimigos", responde Maria Luísa Rogério, antiga secretária-geral.

Apesar de já existir algum avanço na relação entre o Sindicato dos Jornalistas Angolanos e as instituições do Estado, Pedro Miguel, diz que ainda há muitos desafios: "A maior necessidade de a classe estar mais unida para concretização dos objetivos."

Alguns dos objetivos passam pela aquisição de sedes provincias para organização. 

A Província do Huambo entra pela história por ser a primeira a acolher as comemorações fora de Luanda - a capital angolana. "Também Huambo passa pela história como sendo a primeira província que cedeu um espaço para construção de uma sede sindical", afirma Miguel.

Os 33 anos foram ainda assinalados com uma mesa-redonda com o tema: "Que sindicalismo temos e queremos".

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Manuel Luamba Correspondente da DW África em Angola