Qual deve ser a "arma" do jornalista angolano?
28 de março de 2025As declarações foram feitas pelo Presidente angolano, João Lourenço, esta semana, na província da Lunda Sul.
Na ocasião, João Lourenço disse que entregaria uma arma a jornalista da Rádio Ecclésia, Helena Israela que o questionou como Angola agiria se o conflito entre M23 e RDC chegasse as fronteiras angolanas.
A situação continua a gerar várias interpretações. Pedro Miguel, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) condena-as e mostra-se triste com os pronunciamentos do Chefe de Estado, "porque a colega eventualmente questionou olhando para a segurança do país."
Também Luísa Rogério, presidente da Comissão de Carteira e Ética de Angola constatou com tristeza e mostrou-se solidaria com a jornalista.
Luísa justifica que Angola partilha uma vasta fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), daí a importância da questão e lembrou que no jornalismo não "existem perguntas proibidas".
"As respostas é que devem ser geridas, mas todas as perguntas são válidas", argumenta.
"A função de um jornalista é perguntar"
Mas Celso Malavoloneke, ex-secretário de Estado da Comunicação Social não entende assim. Na sua conta do Facebook, o antigo governante escreveu que não via problemas na resposta do Presidente angolano, "a não ser que tudo que (ele) faz é mal-entendido".
Por sua vez, Faustino Henriques, jornalista angolano, diz que o Presidente da República (PR) devia responder nos moldes em que foi colocada a pergunta, respondendo que "Angola tem as forças de defesa e segurança em prontidão combativa".
Mas entende, por outro lado, que a jornalista devia ser mais objetiva. "Por exemplo: De que modo Angola está preparada para eventuais cenários a nível da fronteira. Mas é já consensual a ideia de que a função de um jornalista é perguntar", explica.
Não é a primeira vez que a pergunta de um jornalista gera debate. Também em 2018, a pergunta sobre se João Lourenço estava a gostar de ser Presidente tinha gerado polémica.
Mas qual deve ser a verdadeira "arma" da profissão?
"A única arma do jornalista é a caneta porque a informação é um poder", conclui Luísa Rogério.
Este debate surge numa altura em que o Sindicato dos Jornalistas Angolanos celebra, esta sexta-feira (28.03), 33 anos de defesa da classe. E o que isso significa?
"Significam, para mim, muita luta, momentos de altos e baixos. Houve uma altura em que os sindicalistas eram tratados como inimigos", responde Maria Luísa Rogério, antiga secretária-geral.
Apesar de já existir algum avanço na relação entre o Sindicato dos Jornalistas Angolanos e as instituições do Estado, Pedro Miguel, diz que ainda há muitos desafios: "A maior necessidade de a classe estar mais unida para concretização dos objetivos."
Alguns dos objetivos passam pela aquisição de sedes provincias para organização.
A Província do Huambo entra pela história por ser a primeira a acolher as comemorações fora de Luanda - a capital angolana. "Também Huambo passa pela história como sendo a primeira província que cedeu um espaço para construção de uma sede sindical", afirma Miguel.
Os 33 anos foram ainda assinalados com uma mesa-redonda com o tema: "Que sindicalismo temos e queremos".