Angola: Vandalismo e furto também prejudicam cidadãos
4 de agosto de 2025Os tumultos da semana passada em Angola, contra o aumento do preço dos combustíveis, deixaram dezenas de mortos e feridos. Os taxistas tinham convocado uma greve, pedindo que ninguém saisse à rua, e não protestos, como no final aconteceu.
Principalmente a pilhagem de alimentos, bebidas e telemóveis, para além da destruição de bens materiais, deixou comerciantes e empresários no prejuízo. Os pequenos empresários que operam sem incentivos e créditos bancários literalmente foram os que deitaram lágrimas.
Mas também as grandes cadeias de supermercados não escaparam ao crime. Uma trabalhadora do supermercado Arreiou conta o que testemunhou na segunda-feira (28.07) na capital angolana, Luanda: "Nós estávamos do outro lado. Só nos apercebemos quando ficou aqui muito cheio e os meninos e vizinhos ficaram a vandalizar o Arreiou, tirando todas as coisas, partindo os vidros da loja. Estamos mal. Estamos muito mal. Nem tenho noção. Graças a Deus, não fomos agredidos porque estávamos do outro lado e acho que eles não conseguiram dar conta."
A situação levou algumas empresas a encerrarem as portas temporariamente, inclusive as que não foram visadas pelo vandalismo. O receio alastrou-se entre os operadores. E a Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (Ecodima) condenou os atos, através do secretário executivo, Jorge Muhongo: "Vimos de forma reprovável os estabelecimentos comerciais a serem vandalizados e isto de certa forma acabou por comprometer o normal funcionamento da rede de distribuição no país. E houve necessidade de tomar medidas cautelosas no sentido de evitar que houvesse danos maiores".
Os empresários fazem agora o levantamento dos prejuízos. "Dos relatos de invasão temos aqui, dos trabalhos que estão a ser feitos aqui pela Associação, temos 92 superficies vandalizadas, dos mais diveros operadores, e um total de 24 tentativas de invasão na rede de distribuição", disse Muhongo.
Polícia e seguradoras: Que papel?
Enquanto isso, alguns setores responsabilizam a polícia por não ter guarnecido o comércio. Porém, fica a seguinte questão: teria a polícia condições de garantir seguranca a todas as lojas? É expetável que investimentos tenham seguros, entre eles o de mercadoria - nestas circunstâncias, estariam parcialmente salvaguardados.
Porém, é justamente aí que residem as incertezas, sublinha Serra Bango, presidente da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD): "Nós não sabemos qual é o nível de responsabilidade do seguro social, dos seguros que as empresas têm, se de facto têm esses seguros de risco, contra incêndios ou vandalizações, porque esse é um elemento novo que surge cá na nossa realidade social e económica".
E as dúvidas estendem-se a outros casos: "[Até aqui,] se os comerciantes uma vez vissem o seu património atacado por um fenómeno da natureza, as seguradoras iriam assegurar os riscos e danos que adviriam desses atos. Nós não saberemos", acrescentou.
Assistência sem discriminação
Sobre os supostos criminosos nos tumultos da semana passada, as autoridades já prometeram que não ficarão impunes.
Por sua vez, a Ordem dos Advogados de Angola (OAA) já está a mobilizar a classe para assistir a mais de 1.500 detidos no contexto dos protestos, incluindo os supostos oportunistas que se inflitraram entre os manifestantes.
A Ordem justifica que, "devido a imparcialidade em qualquer processo, na Constituição da República de Angola está prevista a defesa de qualquer cidadão que venha a cometer qualquer tipo de infração". Meireles dos Santos é o secretário-geral e diz: "Gostávamos apenas de nos resguardar e dizer que estaremos de plantão para que acompanhemos os julgamentos, tanto os sumários como os outros. Estaremos apenas de prontidão para podermos obter julgamentos justos."
"Atos de sabotagem" e promessas de apoio
Durante os três de dias de grande tensão, o Presidente angolano não se dirigiu à população, gerando críticas. Na sexta-feira (01.08), depois de relativa acalmia e muito sangue nas ruas de Luanda, atribuído à "ação desproporcional" da polícia, João Lourenço falou ao seu povo.
Relativamente à classe empresarial manifestou solidariedade e alertou: "Os atos de vandalismo contra empresas e estabelecimentos comerciais de privados só vêm desencorajar o investimento privado e com isso reduzir a oferta de bens e servicos e oferta de emprego as nossas populações. Esse atos de vandalismo só podem ser entendidos como atos de sabotagem a economia com vista a agravar ainda mais a situação social que vivemos".
E João Lourenço prometeu apoios para que os empresários afetados se reergam. "O Executivo angolano decidiu aprovar já na segunda-feira (04.08) [...] medidas de apoio as empresas atingidas pela onda de vandalismo com vista a mais rápida reposição de stocks e manutenção dos postos de trabalho ameaçados", disse.