Protestos contra líder da RENAMO espalham-se pelo país
24 de abril de 2025A RENAMO, terceira maior força política de Moçambique, enfrenta um clima interno de extrema tensão. Ex-guerrilheiros do partidointensificam protestos contra o presidente Ossufo Momade, acusando-o de traição e má gestão.
Depois de manifestações em províncias como Gaza, Maputo, Inhambane, Tete, Manica, Sofala, Zambézia e Nampula, esta quinta-feira foi a vez de Cabo Delgado. Nesta região, antigos combatentes da Resistência Nacional Moçambicana encerraram a delegação provincial do partido, exigindo a saída imediata de Ossufo Momade.
Momade, um traidor?
O movimento é encabeçado por ex-combatentes, como Saide Sadique, que se declara inconformado com a atual liderança.
"Não queremos o Ossufo. Ele traiu-nos. Eu sou desmobilizado dele e todas as coisas que nos haviam sido prometidas ele não conseguiu cumprir", desabafa Saide Sadique, ex-combatente da RENAMO.
Entre as promessas não cumpridas está a alegada não inclusão de desmobilizados nas pensões previstas no processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
Além de críticas à liderança, os protestos acusam Ossufo Momade de recusar o diálogo interno e de transformar a RENAMO numa"propriedade privada".
Como forma de protesto, os militantes destruíram materiais de propaganda contendo a imagem de Ossufo Momade e encerraram a sede provincial de Cabo Delgado esta quinta-feira (24.04).
Um dos ex-guerrilheiros afirmou que está em curso o mesmo programa de contestação a liderança da RENAMO a nível nacional.
"Por ordem dos generais superiores, devem ser destruídos todos os panfletos e fotografias de propaganda do senhor Ossufo Momade, porque não precisamos mais dele como presidente do partido RENAMO," acrescenta o antigo combatente.
Em Cabo Delgado, os manifestantes afixaram na sede encerrada uma mensagem. "só abrimos as portas depois de Ossufo Momade deixar a liderança."
A RENAMO deve abrir-se a mudanças
A contestação da figura de Ossufo Momade já atingiu 10 das 11 províncias do país, com exceção de Niassa. O analista político moçambicano, Vasco Achá, pede atenção urgente da direção do partido.Avisa que é preciso que a RENAMO se abra ao diálogo interno e aceite reformas profundas para a sua própria sobrevivência.
"Este fenómeno significa que há momentos em que o conjunto da ideologia política no seio dos membros está mais avançado do que os líderes. Os líderes estão atrasados em relação aos seus membros", alerta Vasco Achá.
O analista recomenda reformas internas profundas e abertura ao diálogo, mesmo que isso implique mudanças drásticas na liderança.
"No próximo processo eleitoral, o partido será empurrado para perder os poucos assentos que conquistou nesta legislatura. Por exemplo, verificou-se agora que já não é a segunda maior força política nacional. Se a situação prevalecer, a queda será ainda mais acentuada e, talvez, não conquiste nenhum lugar de relevância ao nível parlamentar."
Com a base mobilizada e a liderança sob forte contestação, o futuro da RENAMO permanece incerto. A pressão por mudanças internas poderá definir o papel do partido nas próximas eleições e no panorama político de Moçambique.