Profissionais africanos enfrentam obstáculos na Alemanha
30 de junho de 2025Quando Grace Ochieng (nome alterado), do Quénia, iniciou o processo para vir para a Alemanha estudar há mais de um ano, já falava alemão. Mas isso não ajudou a jovem de 26 anos a lidar com a burocracia alemã. Apesar de ter uma bolsa de estudos em Relações Internacionais, um emprego de estudante confirmado e uma pasta cheia de documentos, levou dois meses até conseguir o visto. "Não deveria ser assim, isso tem um impacto enorme em si próprio e no início da universidade. Algumas pessoas não conseguem vir para cá por causa de todo o processo de visto", conta.
Foi o que aconteceu com uma amiga de Grace: o visto para um intercâmbio semestral ficou retido na burocracia e, quando finalmente foi aprovado, o semestre já estava a meio — e com ele, a oportunidade de estudar na Alemanha. "Nem todos os processos para obter um visto são tão cansativos", conta Grace à DW. "É principalmente a comunicação. Quando se liga para a embaixada alemã, não se obtém resposta, e quando se enviam e-mails, eles não respondem. Fica-se constantemente com o coração na mão, porque nunca se sabe se vão dizer sim ou não."
Novas perspetivas para profissionais estrangeiros?
Grace não é a única. Teresia Träutlein veio para a Alemanha em 2007. Na altura, teve de lutar não só com o idioma, mas também com a burocracia alemã. Experiências que mais tarde a ajudariam: hoje, a enfermeira geriátrica dirige, juntamente com o marido, uma agência de serviços de enfermagem perto de Heidelberg. Lá, emprega mais de 20 enfermeiros e estagiários africanos.
Mas para eles o caminho para a vida profissional na Alemanha é tudo menos fácil, sabe Träutlein. "Atualmente, temos um grupo do Quénia que estamos a acompanhar para vir para a Alemanha e estamos bloqueados devido a toda a burocracia do visto. A nossa experiência é que o processo de reconhecimento demora uma eternidade. O que é frustrante são também os trâmites burocráticos, a integração cultural, a falta de habitação", afirma.
A Alemanha precisa de entre 288.000 e 400.000 profissionais estrangeiros por ano, de acordo com um estudo da Fundação Bertelsmann 2024 e estimativas do Instituto de Investigação do Mercado de Trabalho e Profissional (IAB). Sem essa imigração, a oferta de mão-de-obra na Alemanha diminuiria significativamente até 2040, o que teria consequências negativas para o crescimento económico e a competitividade. Em abril de 2025, a Agência Federal de Emprego registou cerca de 646.000 vagas em aberto, principalmente nas áreas de TI, saúde, tecnologia e educação. É aqui que a Alemanha pretende agir.
Alemanha quer trabalhadores estrangeiros - ou será que não?
Desde junho de 2024, existe na Alemanha o chamado "cartão de oportunidades", um visto para profissionais qualificados de países não pertencentes à UE que entram na Alemanha sem um contrato de trabalho fixo e desejam procurar um emprego adequado. Os requisitos são, no mínimo, dois anos de formação profissional ou um diploma universitário e conhecimentos básicos de alemão ou inglês. Além disso, fatores como experiência profissional, idade e ligação com a Alemanha são considerados através de um sistema de pontos.
Desde 2025, profissionais qualificados estrangeiros podem solicitar o seu visto online através do novo portal internacional do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Este portal permite a apresentação digital de pedidos para várias categorias de vistos, incluindo o cartão de oportunidades, em 167 postos de vistos em todo o mundo. O processo de visto deverá, assim, tornar-se mais rápido e eficiente.
Políticos como a ex-ministra do Interior Nancy Faeser afirmam: "Apostamos nos conhecimentos linguísticos, nas qualificações e na experiência para atrair profissionais motivados e talentosos para a Alemanha. Assim, pessoas com experiência e potencial podem encontrar um emprego adequado de forma mais rápida e fácil e começar a trabalhar."
O que trazem os acordos de migração e o cartão de oportunidades?
Em setembro de 2024, a Alemanha também celebrou um acordo de migração com o Quénia. O objetivo é promover o recrutamento de profissionais qualificados, especialmente na área de cuidados de saúde e hotelaria, e, ao mesmo tempo, facilitar a deportação de pessoas sem direito de permanência. O ex-chanceler federal Olaf Scholz destacou que o Quénia tem "um número incrível de especialistas em TI" que poderiam beneficiar de uma formação na Alemanha. O Quénia é até agora o único país africano com o qual a Alemanha tem um acordo de migração, mas no terceiro trimestre de 2024 apenas cerca de 90 profissionais de saúde quenianos entraram na Alemanha.
A burocracia e os requisitos rigorosos assustam muitos candidatos qualificados. Embora seja difícil obter estatísticas abrangentes sobre pedidos de visto recusados, há indícios de que as taxas de recusa são, em parte, significativas. Numa pergunta sobre a concessão de vistos em 2024 feita pela deputada federal Clara Bünger e do grupo parlamentar Die Linke (A Esquerda), em abril de 2025, lê-se: "As taxas de recusa são muito elevadas, especialmente nos países da África Subsaariana."
Muitos pedidos de visto de África recusados
A DW avaliou a concessão de vistos em 2024 com base em dados das representações diplomáticas alemãs no estrangeiro. De acordo com esses dados, a Alemanha concedeu um total de 50.815 vistos a africanos em 2024, dos quais 20.545 (40%) se destinavam a atividades profissionais, incluindo cientistas, profissionais altamente qualificados, estágios, au pairs e serviços voluntários. Para pessoas da África Subsaariana, foram emitidos 22.668 vistos, dos quais 7.966 (35%) para trabalho remunerado.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros não disponibiliza números atuais sobre quantos vistos de trabalho para africanos foram recusados no ano passado. Segundo o partido Die Linke, "o Governo federal recusou várias vezes divulgar abertamente as taxas de recusa no processo de visto ou classificou as respostas correspondentes como confidenciais. A justificação apresentada foi que a publicação de números de recusa específicos por país poderia prejudicar as relações com o Estado em questão."
Embora não sejam publicados dados discriminados por país de origem do pedido, a resposta do Governo federal à pergunta do partido Die Linke permite ter uma visão geral da política alemã em matéria de vistos: Em termos globais, a Alemanha aprova a maioria dos pedidos de visto, em média cerca de 87%. Não faz diferença se o visto é especificamente para a Alemanha — por exemplo, para trabalhar — ou para o espaço Schengen, por exemplo, para férias.
Neste contexto, vale a pena olhar mais de perto os números disponíveis para os vistos Schengen. Embora não existam números sobre a taxa de recusa de vistos de trabalho alemães por país de solicitação ou ao longo do tempo, essas informações já estão disponíveis para vistos Schengen para estadias curtas. Aqui, o quadro é claro: pessoas da África Subsaariana têm hipóteses significativamente menores de obter os seus vistos Schengen, que são recusados com mais frequência do que os de pessoas de outras regiões. Isso aplica-se tanto aos pedidos feitos em representações diplomáticas alemãs no estrangeiro como aos pedidos feitos em representações diplomáticas de outros países Schengen.
"O visto é o maior problema", diz Khadi Camara, da Associação Africana da Economia Alemã, à DW. "O cartão de oportunidades é uma carta de oportunidades apenas para algumas pessoas. Primeiro é preciso conseguir cumprir essas condições. Esses não são necessariamente os critérios que as empresas consideram relevantes, mas sim os que o governo federal alemão estabeleceu como padrão."
A situação já se torna problemática quando se trata dos documentos necessários para o visto. "As autoridades alemãs querem alguns desses certificados em original, o que às vezes não é possível. Então, os requerentes precisam provar em que medida podem sustentar-se. Mesmo quando as empresas assumem os custos dos requerentes, às vezes isso não é suficiente", explica.
No entanto, é importante salientar que, pelo menos a julgar pelos números relativos aos vistos Schengen, as pessoas da África Subsaariana têm hipóteses semelhantes (ou melhores) de obter um visto Schengen numa embaixada alemã como em todas as outras embaixadas, com exceção de Angola, Mauritânia e Tanzânia.
Alemanha pode ser um lar?
Também é questionável se a Alemanha é realmente um país atraente para estes profissionais. "O clima político na Alemanha é absolutamente relevante. Não apenas no sentido de até que ponto este governo está disposto a fazer ajustes, mas também se a Alemanha pode realmente ser um lar para pessoas do Quénia, Gana, Serra Leoa ou África do Sul", diz Camara. "Temos de abordar a questão do racismo. O Governo federal deve posicionar-se claramente que as pessoas são bem-vindas aqui."
Isto inclui a eliminação das barreiras linguísticas. "Noutros países, essas condições linguísticas não precisam de ser cumpridas e, por isso, esses países podem ser mais atraentes. Lembrem-se de Lindner [o então ministro das Finanças] há um ano, quando perguntou numa universidade no Gana quem queria trabalhar na Alemanha e ninguém levantou a mão.", lembra Khadi Camara.
Träutlein e Grace afirmam, porém, por experiência própria, que o alemão é absolutamente necessário para uma vida integrada na Alemanha. "Se o governo diz que quer trazer profissionais qualificados para a Alemanha, então também deve apoiar a formação linguística nos países. Sem a língua, não consigo avançar. Caso contrário, fico isolado", sublinha.
Economia alemã exige soluções
Camara considera que a Alemanha está agora obrigada a fazer uma boa oferta aos profissionais qualificados: "As oportunidades não são más, porque agora é preciso cumprir. Atualmente, as alianças globais estão a desmoronar-se, é preciso procurar novos parceiros. E muitos deles estão no continente africano."
Para que a imigração de profissionais qualificados possa ocorrer sem problemas, as empresas alemãs nos países africanos precisam melhorar a formação dos seus funcionários locais, "para que eles alcancem um nível relevante para a Alemanha. Em seguida, os diplomas precisam ser reconhecidos e, com isso, também os procedimentos de visto." E, por fim, a Alemanha precisa eliminar os obstáculos burocráticos para as empresas alemãs.
Träutlein espera obter apoio nesta matéria. Ela e o marido assumiram a tarefa de simplificar o processo de integração de novos funcionários do Quénia e estão a construir lá uma escola privada de línguas e cuidados de saúde. "Somos uma pequena empresa, mas com um objetivo: combater o desemprego no Quénia e, por sua vez, trazer esses trabalhadores necessários para a Alemanha." E isso, diz Träutlein, torna a imigração de profissionais qualificados para a Alemanha uma "situação vantajosa para todos os envolvidos."