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Professores tornam-se taxistas devido à crise em Angola

3 de novembro de 2020

Professores trabalham como taxistas para completar a renda no Bengo. Os chamados "taxistas de ocasião" são cada vez mais comuns, e o Governo adverte que docentes podem não cumprir tarefas normais por falta de tempo.

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Angola | Lehrer jobben als Taxifahrer
Foto: António Ambrósio/DW

Não é difícil encontrar professores a trabalhar como taxistas na província angolana do Bengo. Do pouco tempo que estivemos numa das paragens de Caxito, foi possível notar a presença de mais de cinco docentes ao volante.

"É de entender que um professor espera no fim do mês o salário cair. Com a situação [económica] do momento, [sempre] tem uma preocupação que deve atender a tempo e hora, e ainda estamos na primeira quinzena do mês", explica um homem que trabalha como professor há 18 anos e aceitou falar com a reportagem da DW África sob anonimato. 

O entrevistado revelou que recebe um salário de 100 mil kwanzas (o equivalente a quase 130 Euros), mas a sua renda mensal já não está a ser suficiente. Ele encontrou no trabalho como taxista uma fonte complementar para a sobrevivência.

Por seu turno, o taxista Gaspar Domingos está na profissão há 12 anos. Ele não vê mal algum em ter um professor como concorrente. "Primeira coisa, talvez o salário [que recebe como professor] não vai em conta com as suas despesas. Então, às vezes, algumas pessoas são mesmo obrigadas a fazer serviço de táxi. Talvez assim consigam cobrir algumas necessidades", sugere Domingos.

Angola | Lehrer jobben als Taxifahrer
Alunos voltam para a casa com "professores-taxistas"Foto: António Ambrósio/DW

"Taxistas de ocasião”

Muitas vezes, os estudantes são transportados da escola para a casa pelos próprios professores. É quando os docentes se tornam os chamados "taxistas de ocasião". Os estudantes Maria João e Luís da Glória compreendem as necessidades pelas quais passam os docentes.

"Se for no tempo livre, eu acho um ato normal, porque cada um é livre para escolher o que tem por fazer. Mas, se for no tempo em que deveriam dar aula e deixarem de dar aula para fazer táxi, acho incorreto, porque a sociedade precisa do professor", opina Maria João.

"Professores-taxistas” transportam seus alunos em Angola

Para Luís da Glória, é preciso entender porque os professores estão a fazer isso. "Pode ser atraso salarial, a situação que o país está a enfrentar… Se fosse no meu caso e com um salário apertado, eu também meteria a minha viatura a fazer táxi", cogita.

"Tropessor"

O Sindicato Nacional dos Professores está atento ao aumento de professores na profissão de taxista. O porta-voz Paulino Ngongo Mbaxi reconhece a situação económica e financeira pela qual passam muitas famílias. "Eu gostaria de olhar na vertente do custo de vida de todas as famílias, em especial a do próprio professor. Na verdade, temos olhado com bastante preocupação para esta situação", revela Mbaxi.

Já o Gabinete Provincial da Educação do Bengo, por meio do seu chefe de Departamento para Inspeção, Zacarias Pedroto, avança que o professor tem um conjunto de tarefas a realizar dentro e fora da escola como a planificação, organização dos materiais, o ministrar de aulas, entre outras. 

Pedroto acredita que o professor não terá tempo de completar todas as suas tarefas se duplicar o expediente como taxista. "Não tem tempo. Para todos os efeitos, não tendo tempo, deixa de ser professor e passa a ser 'tropessor'. Porque, diante das componentes não letivas que é o que ele deturpa visando fazer atividade de táxi, deixa de ser professor".

Angolanos tentam atravessar cerca sanitária de Luanda

Correspondente da DW António Ambrósio
António Ambrósio Correspondente da DW África em Caxito