Moçambique: Polícia assinala 50 anos sob severas críticas
13 de maio de 2025A Polícia da República de Moçambique (PRM) celebra no próximo sábado (17.05) meio século de existência, num contexto marcado por crescentes críticas da sociedade civil à sua atuação, sobretudo em períodos de tensão política e social, como o pós-eleições.
Nos últimos anos, a corporação tem sido acusada de parcialidade política erepressão a manifestações públicas — um direito constitucional de todos os moçambicanos.
As críticas intensificaram-se após as eleições gerais de 2024, que desencadearam violentos protestos em várias zonas do país. A Polícia foi acusada de reprimir os manifestantes de forma violenta e desproporcional.
Métodos desajustados
O académico Arcénio Cucu considera que, apesar dos investimentos significativos em formação policial, como a criação da Escola Prática de Matalane, da Academia de Ciências Policiais e da Escola Média de Sargentos em Sofala, os resultados práticos são limitados.
"A criação de escolas novas para a Polícia penso que são registos que devem ser colocados em evidência já que isto poderia ter significado a evolução da Polícia.”
No entanto, Cucu destaca a persistência no uso de métodos desadequados, como o uso de armamento de guerra para controlar manifestações pacíficas.
"Acho que é bastante visível isso quando nós verificamos a Polícia a atuar com uma arma de guerra como AKM dentro do país. A essa altura já deveria ter sido encontrado um mecanismo diferente de uso de equipamento próximo àquilo que qualquer Polícia de um Estado democrático utiliza,” sugere o académico.
Confiança beliscada
O jornalista moçambicano Aunício da Silva partilha a mesma preocupação, sublinhando falhas na preparação dos agentes para lidar com distúrbios sociais, como os registados após as eleições.
"A atuação não foi boa porque tivemos pessoas que perderam a vida em consequência de disparo de balas reais por agentes da Polícia", reconhece.
Da Silva afirma ainda que os próprios agentes "estavam numa situação de não saber o que fazer."
Ambos os analistas concordam que a resposta policial aos protestos pós-eleitorais deteriorou ainda mais a relação entre a corporação e os cidadãos.
"Nós sentimos a quebra de confiança entre as autoridades públicas, no caso especial da Polícia em si e a sociedade. [...] Houve uma certa quebra dessa relação que resultou da atuação até um certo ponto à margem do respeito dos direitos humanos", afirma Arcénio Cucu.
Reforço da relação com os cidadãos
À medida que se aproxima a celebração do seu 50º aniversário, a PRM tem procurado recuperar a confiança pública através de iniciativas de aproximação comunitária.
O comandante-geral, Joaquim Sive, deslocou-se no fim de semana à cidade de Nampula para dialogar com a população de Namicopo, um dos bairros mais problemáticos da urbe. Reuniões semelhantes decorrem por todo o país, lideradas pelos comandantes provinciais.
Em Cabo Delgado, durante uma dessas sessões no bairro de Paquitequete, alguns moradores acusaram a Polícia de intimidação constante.
"A maioria dos polícias tendem a intimidar a população. Não é com a intimidação que alguém deve respeitar a Polícia. Nós não devemos ter medo da Polícia, devemos ter respeito e colaborar com ela", declarou um residente de Pemba.
O 50º aniversário da PRM surge, assim, como um momento simbólico, marcado por esforços de reconciliação, mas também pela urgência de reformas estruturais na actuação policial, com vista à reconstrução da confiança entre a corporação e a sociedade moçambicana.