Ouattara candidata-se a quarto mandato na Costa do Marfim
1 de agosto de 2025"Após reflexão madura, anuncio que decidi candidatar-me às eleições presidenciais", declarou Alassane Ouattara. A candidatura só é possível graças a alterações na Constituição que o Presidente implementou em 2016, redefinindo os limites dos mandatos.
O chefe de Estado argumenta que a decisão, tomada há nove anos, foi motivada pelos contínuos "desafios de segurança e económicos" do país, que exigem uma "liderança experiente".
Alexander Stroh-Steckelberg, professor de Política Africana e Política de Desenvolvimento na Universidade de Bayreuth, diz que "o argumento da segurança na sub-região da África Ocidental é bem fundamentado", mas "não é necessariamente um bom argumento para prolongar o mandato".
"Basicamente, temos de nos perguntar: é impossível que outro candidato, outro Presidente, possa melhorar a situação de segurança? E isso aplica-se mais ou menos a qualquer área da política nacional da Costa do Marfim", acrescenta.
Uma surpresa esperada
Embora o anúncio tenha sido uma surpresa para a nação, que aguardava se o Presidente anunciaria ou não a sua candidatura no discurso à nação em 6 de agosto, véspera das comemorações do Dia da Independência, o advogado e analista Geoffroy Kouao já esperava o apoio.
"É preciso reconhecer que este resultado não é surpreendente, considerando que os ativistas do partido apoiaram unanimemente o senhor Ouattara como candidato do RHDP para as eleições presidenciais de 2025. Refletindo bem, era bastante esperado - embora ainda tenha apanhado muitas pessoas de surpresa", comenta.
Em junho passado, durante o segundo congresso do RHDP, os membros do partido apoiaram unanimemente uma nova candidatura de Ouattara, que também é presidente do partido. De acordo com Sékou Dao, do conselho político do RHDP, o anúncio é simplesmente uma resposta positiva ao pedido unânime da sua base política.
"Sempre esperei que o Presidente Ouattara se candidatasse novamente", explicou Dao. "Seria impensável selecionar um candidato diferente agora. Fazer isso seria até mesmo desrespeitoso para com os militantes dedicados do partido", concluiu.
Candidatura altamente controversa
Numa mensagem de vídeo nas redes sociais, Ouattara, de 83 anos, afirmou que tanto a Constituição como a sua saúde lhe permitem cumprir mais um mandato.
A candidatura é, no entanto, altamente controversa. Para a oposição trata-se de mais uma violação da Constituição da Costa do Marfim e pretende contestar judicialmente, de acordo com Damana Pickass Adja, vice-presidente do partido liderado pelo ex-presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo.
"O Presidente enganou o povo e isso é inaceitável. Pretendemos utilizar todos os meios legais à nossa disposição para que a Constituição seja respeitada", anunciou.
Oposição impedida de concorrer
Vários candidatos da oposição foram desqualificados e impedidos de participar nas próximas eleições. Tidjane Thiam (PDCI-RDA) foi desqualificado devido à sua antiga dupla cidadania, o que, segundo um tribunal, o tornava inelegível para concorrer, apesar de Thiam ter renunciado à nacionalidade francesa. O antigo Presidente Laurent Gbagbo, Charles Ble Goude e o ex-primeiro-ministro Guillaume Soro também foram excluídos, devido a condenações judiciais ou restrições decorrentes de conflitos políticos passados.
As desqualificações suscitaram críticas tanto a nível nacional como internacionalmente por serem consideradas prejudiciais para a democracia da Costa do Marfim e minarem a legitimidade do processo eleitoral.
O anúncio de Ouattara vem empolar o panorama político já tenso antes das eleições agendadas para outubro. Uma manifestação da oposição prevista para este sábado, 2 de agosto, foi proibida pela câmara de Abidjan.
Os anos eleitorais na Costa do Marfim têm historicamente gerado tensão e o país ainda não experienciou uma transferência pacífica do poder nos seus 35 anos de democracia. A disputa em curso sobre a exclusão dos candidatos da oposição lembra os violentos conflitos eleitorais do passado, nomeadamente a crise de 2010-2011 que resultou em mais de 3000 mortos.