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SociedadePortugal

Portugal: Imigrantes e Daniel Chapo pedem "mais bom senso"

João Carlos em Lisboa
7 de julho de 2025

Imigrantes em Portugal criticam, como o Presidente moçambicano Daniel Chapo, os "radicalismos" sobre o tema migração no país.

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Presidente moçambicano, Daniel Chapo, e primeiro-ministro português, Luís Montenegro, em Lisboa
Daniel Chapo esteve em Lisboa na semana passadaFoto: João Carlos/DW

Ao visitar Lisboa, o Presidente de Moçambique, deixou uma mensagem clara no que concerne ao dossier da imigração: Daniel Chapo considerou legítimas as preocupações dos imigrantes dos países africanos de língua portuguesa que, há vários meses, não conseguem legalizar-se em Portugal. O Presidente moçambicano apelou ainda a mais união e abertura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), também no que toca à livre circulação e legalização dos cidadãos em cada um dos Estados.

"Sendo este o conceito de Comunidade, devíamos ser cada vez mais unidos, cada vez mais coesos, cada vez mais abertos, com cada vez mais circulação de pessoas e bens entre os nossos países, para o crescimento e a fortificação da CPLP", afirmou Daniel Chapo, na semana passada, comentando as restrições à entrada de imigrantes em Portugal.

Chapo disse ser necessário "um pouco mais de bom senso, sobretudo na lei da nacionalidade" em Portugal, e lembrou que o mundo hoje está confrontado com duas correntes distintas - contra os nacionalismos e os radicalismos, o chefe de Estado moçambicano deu antes o exemplo de abertura que está a ser feito na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Praça do Comércio, em Lisboa
Nova legislação portuguesa aperta as regras às entradas (por exemplo, os vistos para entrada sem contrato de trabalho mantêm-se apenas para pessoas altamente qualificadas). Endurece ainda exigências para aquisição da nacionalidadeFoto: PATRICIA DE MELO MOREIRA AFP via Getty Images

"Nós estamos a fortificar mais a Comunidade com a livre circulação de pessoas e bens. Estamos também a fortificar a Comunidade com comércio mais livre entre os países. Estamos a fazer fronteiras de passagem única. Eu acho que a CPLP devia ser assim", apontou.

Contra o radicalismo, pela cooperação

"Há quem defende o nacionalismo, defende que os países devem se fechar mais, mas a experiência tanto de pessoas como de países mostra que ninguém desenvolve sozinho", notou Daniel Chapo. "Eu não posso desenvolver sozinho sem os meus amigos, colegas, vizinhos; sou um ser que depende das outras pessoas. Os países também. O radicalismo é sempre um perigo."

Este foi um dos temas que Daniel Chapo abordou na semana passada com o seu homólogo, Marcelo Rebelo de Sousa, durante a visita oficial a Portugal.

O chefe de Estado português avisou que pode ser melhor ouvir o Tribunal Constitucional sobre as propostas do Governo de Lisboa de alteração às leis da nacionalidade e da imigração. Isto porque admite que possa haver matérias que, provavelmente, não são patentemente constitucionais.

As preocupações dos imigrantes

A legalização documental é o que mais preocupa os imigrantes. Carla Macuacua, moçambicana a viver em Portugal há 18 anos, contesta a nova política de imigração do Governo de Luís Montenegro, apoiada pelo partido Chega, que não resolve o problema da falta de mão-de-obra.

"O Governo está completamente iludido, porque os imigrantes que vêm cá obtêm os documentos e vão trabalhar fora, mas continuam a fazer os descontos [para a Segurança Social] como se estivessem em Portugal, mas não estão. A mão de obra continua em falta na mesma. Portanto, o que está a ser implementado não é solução", lamenta.

Ascensão do partido Chega em Portugal preocupa migrantes

Acendino Baltazar Guanahacha, outro imigrante moçambicano em Portugal, reage insatisfeito com as restrições impostas pelo atual Governo de Lisboa à entrada de estrangeiros no país: "Sim, tinha que facilitar mais, principalmente para os países da Comunidade de língua portuguesa, pela [nossa] história, língua e outros [motivos]. "

Nacionalidade portuguesa

Para Baltazar, tais restrições põem em causa a abertura que Portugal tinha feito com a criação dos vistos CPLP. Mas preocupam-no mais as alterações para a aquisição da nacionalidade portuguesa, que passa a ser possível apenas depois de sete anos de residência em Portugal, ao contrário dos atuais cinco.

Por seu lado, Carla Macuacua, que já obteve o título de residência permanente, acha que, como um dos chefes de Estado da Comunidade lusófona, Daniel Chapo pode intervir junto dos seus pares para rever a política de mobilidade para os cidadãos dos países membros.

"Porque tínhamos essa facilidade [no âmbito] da CPLP e agora foi tudo alterado, há impedimentos", comenta. "Temos aqui imigrantes que ganharam uma oportunidade de trabalho e não vão poder legalizar-se porque foram alterados os padrões todos de como as coisas funcionam."

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João Carlos Correspondente da DW África em Portugal