Porque é que Trump vai reunir com presidentes africanos?
8 de julho de 2025Na semana passada, um funcionário da Casa Branca disse que "o Presidente Trump acredita que os países africanos oferecem oportunidades comerciais incríveis que beneficiam tanto o povo americano como os parceiros africanos", revelou Ines Pohl, correspondente da DW em Washington.
"Numa atualização recente, Donald Trump destacou o vasto potencial comercial das nações africanas, sugerindo que laços económicos mais fortes poderiam ser mutuamente benéficos. No entanto, a sua administração reduziu a ajuda externa dos EUA a África, considerando-a um desperdício e incompatível com a sua agenda 'América em Primeiro Lugar'. Em vez disso, o foco está a mudar para o comércio e o investimento, particularmente no setor dos minerais críticos da África Ocidental e na segurança regional".
Porquê estes cinco países?
A abordagem de Trump a África parece ter evoluído desde o seu primeiro mandato. Durante uma reunião na Casa Branca, em 10 de janeiro de 2018, o Presidente norte-americano referiu-se ao Haiti e a vários países africanos como "países de merda".
"Lembramo-nos dessas palavras duras, mas as coisas mudaram", afirma o Professor Suleymane Bachir Diagne, do Senegal, que ensina e investiga na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. "África está agora no radar da administração Trump. O continente é reconhecido como um lugar para fazer negócios".
Mas se a agenda de Trump está verdadeiramente centrada em acordos e na "América em Primeiro Lugar", porquê convidar os presidentes de cinco economias relativamente pequenas? "É surpreendente", diz Diagne. "Poder-se-ia esperar os suspeitos do costume - grandes economias como a África do Sul ou a Nigéria. Em vez disso, temos estes cinco países, que poucos previram".
Que papel desempenham os recursos naturais?
Em termos de volume de comércio com os EUA, os cinco países são atores relativamente secundários. No entanto,todos eles possuem recursos naturais significativos ainda por explorar:
- O Gabão é rico em petróleo, manganês, urânio, minério de ferro, ouro e elementos de terras raras.
- A Guiné-Bissau possui jazidas de fosfatos, bauxite, petróleo, gás e ouro.
- A Libéria possui reservas notáveis de manganésio e de ouro, tendo sido encontrados diamantes perto da sua fronteira com a Serra Leoa.
- A Mauritânia possui minério de ferro, ouro, cobre, petróleo, gás e terras raras.
- O Senegal possui ouro, fosfatos, minério de ferro e minerais de terras raras, bem como depósitos de petróleo e gás.
E a migração e a droga?
"O controlo da migração e das rotas da droga é o verdadeiro interesse de Donald Trump", considera Zakaria Ould Amar, um consultor internacional da Mauritânia.
"Estes cinco países encontram-se diretamente nas rotas de refugiados e migrantes que, ao longo dos anos, enviaram dezenas de milhares de pessoas para a fronteira entre os EUA e o México. As rotas internacionais da droga também passam por esta região".
Zakaria Ould Amar prevê que estas questões de segurança dominem as conversações de Trump com os cinco líderes africanos. "Do ponto de vista económico, estes países não são importantes. Não consigo ver o que é que Trump poderia negociar com eles em termos de comércio ou negócios".
O professor William Ferreira, da Guiné-Bissau, especialista em assuntos americanos, duvida que esta reunião "traga benefícios tangíveis para os países africanos envolvidos".
"Não há almoços grátis. A viagem do nosso presidente a Washington para se encontrar com Trump não é uma boa notícia para a Guiné-Bissau nem para o seu povo", afirma.
Ferreira lembra que a administração Trump suspendeu ou cortou drasticamente o financiamento de projetos de ajuda em África e também na Guiné-Bissau, algo que poderia diminuir as esperanças ligadas ao encontro em Washington.
Questões sobre Estado de Direito
Para o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, a reunião representa uma oportunidade de se mostrar como um estadista respeitado no panorama internacional, apesar dos desafios internos significativos. O seu mandato expirou oficialmente em fevereiro, mas Sissoco continua no cargo apesar de questões à legalidade. A realização das eleições gerais previstas para novembro continua incerta.
"Todos os cinco regimes, e não apenas na Guiné-Bissau, estão a debater-se com grandes problemas institucionais e violações do Estado de Direito", diz Ferreira. "Mas isso não incomoda Trump. Ele quer mostrar que ainda tem aliados em África. Para os cinco presidentes, este evento é uma oportunidade de se apresentarem como líderes importantes e legítimos a nível internacional. E de facto, na perspetiva deles, eleva muito a sua posição".
O atual Presidente do Gabão, Brice Oligui Nguema, tem sido alvo de graves acusações de corrupção e está ligado ao recente golpe de Estado que depôs Ali Bongo Ondimba.
A Libéria enfrenta graves desafios sociais. Joseph Boakai é Presidente desde janeiro de 2024. O Presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, um general e político, está no cargo desde agosto de 2019, mas o país enfrenta graves problemas sociais.
O Senegal, liderado peloPresidente Bassirou Diomaye Faye desde 2024, está a ser acusado de facilitar a migração internacional ilegal. A Guiné-Bissau continua mergulhada em crises institucionais, com grupos da sociedade civil a acusarem Umaro Sissoco Embaló de desmantelar as estruturas democráticas e de procurar estabelecer uma ditadura.
A sua legitimidade é vista como derivando não do povo, mas do apoio internacional, como a reunião de Washington.
Sucesso diplomático ou espetáculo político?
Lesmes Monteiro, conselheiro presidencial na Guiné-Bissau, oferece uma visão diferente: "A inclusão de Sissoco Embaló entre os cinco escolhidos por Trump é um triunfo diplomático", disse à DW. "É um líder determinado, respeitado e acolhido pelos estadistas mais poderosos do mundo: Vladimir Putin, Xi Jinping, Emmanuel Macron e agora Donald Trump.
Monteiro destaca o alinhamento ideológico como um fator-chave na seleção.
"Trump e o nosso Presidente partilham valores semelhantes: Uma forte ênfase na soberania nacional e nos valores tradicionais. A posição geoestratégica da Guiné-Bissau é muito importante para os EUA e, economicamente, o país pode tornar-se interessante para os EUA a médio prazo".