Porque é que a Fundação Gates quer investir em África?
4 de junho de 2025Por ocasião do 25.º aniversário da Fundação Gates, o multimilionário norte-americano Bill Gates criticou esta semana, na Sala Nelson Mandela da União Africana (UA), a redução dos orçamentos de saúde em vários países africanos, motivada principalmente pelo elevado endividamento público e cortes internacionais.
Gates destacou, em especial, o impacto da retirada dos EUA da cooperação internacional para o desenvolvimento: a USAID investia cerca de 50 mil milhões de dólares anuais. Os cortes massivos, que afectam cerca de 83% dos programas a nível mundial, já paralisaram importantes projetos de promoção da saúde e da agricultura em África, dissse Gates: "Os cortes são um grande erro".
O multimilionário explicou que pretende, através da sua fundação, colmatar estas lacunas, principalmente na área da saúde, embora tema que a mortalidade infantil em África volte a aumentar nos próximos anos.
O foco principal da Fundação Gates continua a ser o combate à SIDA, malária e tuberculose. Gates reafirmou a intenção de doar quase toda a sua fortuna – cerca de 200 mil milhões de dólares – ficando apenas com 1% para si. O objetivo é gastar esse dinheiro nos próximos vinte anos exclusivamente para fins filantrópicos, com destaque para a saúde em África.
Busca de poder?
Apesar da sua postura filantrópica, Gates é alvo de críticas em todo o mundo e cada vez mais também em África. Observadores acusam-no de usar a filantropia para alargar o seu poder económico e político.
O jornalista norte-americano Tim Schwab, autor do livro O Problema Bill Gates, considera-o um expoente do "filantrocapitalismo" – uma forma de filantropia fortemente ligada a interesses económicos próprios. Segundo Schwab, Bill Gates e outros multimilionários do sector tecnológico utilizam a filantropia como forma de ganhar poder e moldar o mundo à sua maneira.
Um documentário da DW de 2022 mostra como a Fundação Bill & Melinda Gates se tornou uma das principais financiadoras de experiências com engenharia genética em África. Ao financiar estas experiências, a fundação estaria a favorecer as grandes empresas agrícolas ocidentais.
Também em África surgem vozes críticas. O especialista angolano em saúde Domingos Cristóvão alerta para o risco de dependência de fundações privadas em áreas estratégicas como a saúde: "Os países africanos devem construir sistemas de saúde sustentáveis próprios, sem depender de financiadores estrangeiros."
Inteligência artificial como oportunidade?
Um novo foco da Fundação Gates em África será a utilização da inteligência artificial para modernizar os sistemas de saúde no continente. Gates vê nesta tecnologia uma grande oportunidade para aumentar a eficiência e o alcance dos serviços.
Sobre este ponto, Domingos Cristóvão mostra-se receptivo: "Os países africanos têm tido pouco acesso a tecnologias de inteligência artificial. Um apoio direccionado pode ser útil aqui."
Contudo, sublinha a necessidade de estratégias próprias: "Precisamos de saber, por nós mesmos, o que necessitamos e não permitir que nos imponham prioridades de fora".